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Popularismo

A Wikipédia nos dá a seguinte definição:

Populismo: o termo populismo é utilizado para designar um conjunto de práticas políticas que consiste no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e o líder carismático (caudilho), sem a intermediação de partidos políticos. Assim, o "povo", como categoria abstrata, é colocado no centro da ação política, independentemente dos canais próprios da democracia representativa.

Popularismo: Não existe definição. No Aurélio, trata-se de uma forma de poesia moderna calcada na poesia popular.

O Thomas Friedman, prêmio Pulitzer de jornalismo e um dos meus ídolos, descobriu esse termo em Londres recentemente. Ele define com sucesso o processo político por que estamos passando atualmente. O político atual (sua assessoria) lê os blogs, os canais do Twitter e as postagens do Facebook, e dirige sua estratégia com grande precisão exatamente para onde as pessoas se encontram, e não para onde elas deveriam estar.

Isso inevitavelmente nos conduz a um vazio de liderança, à certeza de que é cada vez menor o número de líderes capazes de inspirar seu povo a enfrentar os desafios da nossa era. Thomas Friedman se atreve a enunciar o equivalente político da Lei de Moore (o poder de processamento de um chip dobra a cada 18 ou 24 meses):

"A qualidade da liderança política diminui a cada 100 milhões de novos usuários do Facebook e do Twitter"

O diálogo entre líderes e liderados mudou. Com essas novas ferramentas ele passou a ser de mão dupla. Isso trouxe vantagens: maior participação e transparência. Trouxe porém um problema: os políticos ouvem tantas tendências que se tornam prisioneiros delas. As campanhas políticas, e os Estados Unidos estão passando por uma nesse momento, se reduziram a uma guerra na Internet, e não há nada a dizer quando se trata de uma proposta séria.

Estamos passando, a nível global, por uma situação em que é preciso dizer a verdade. Isso exige liderança, uma extraordinária liderança, coisa que não temos nem nos Estados Unidos, nem na Europa, nem no Japão. Apesar de estar razoavelmente familiarizado com a política chinesa, graças ao livro do Henry Kissinger que me foi presenteado pelo De Assis, não vou me atrever a dar diagnóstico sobre os líderes chineses.

Já no Brasil eu vou dar uns pitacos. Nós levamos tanto tempo sendo submetidos a uma grande lavagem cerebral por parte da esquerda fundamentalista, que acabamos criando uma série de lugares comuns que caíram no imaginário da sociedade, de forma que combatè-los se tornou quase uma heresia. Vou dar uma exemplo: Fora FHC!! Esse bordão foi repetido de uma forma tal que aqueles que deviam sair em defesa do nosso grande líder optaram por se afastar dele. Foi um caso clássico de popularismo da pior espécie, em que praticamente todo o PSDB optou por dizer à sociedade o que ela, anestesiada, queria ouvir, não o que um verdadeiro líder devia dizer.

Outro exemplo eu vou buscar na privatização das telecomunicações. Foi com certeza uma das maiores iniciativas a nível mundial de distribuição de renda, em que um insumo importante como a facilidade de se comunicar foi facultado a toda a sociedade brasileira. No entando, poucos brasileiros têm consciência disso, e o que se ouve é que a privatização foi um enorme saque a uma propriedade do povo brasileiro, a estatal Telebrás.

Segundo a Escola Superior de Propaganda e Marketing, através do Índice Nacional de Satisfação do Consumidor que ela publica, 66% dos brasileiros, ou sete em cada dez, estão insatisfeitos com os serviços prestados pelas operadoras. Se isso de fato é verdade, então por que temos hoje 256 milhões de linhas ativas para uma população de 191 milhóes de brasileiros? Por que então temos uma linha ativada por segundo se a insatisfação com o serviço é tão grande?

A Anatel diz que recebeu neste ano 75 mil reclamações de clientes das operadoras de celulares, o que corresponde a 0,029% do total das linhas ativas, isso em 6 meses. Se você acha que a Anatel é praticamente desconhecida pela sociedade, tomemos as reclamações em 2011 junto ao Procon:
  • Oi            80,9 mil
  • Claro       70,1 mil
  • Tim          27,1 mil
  • Vivo        26,0 mil
  • Total      204,1 mil, ou algo como 0,08% das linhas atuais.
No dia em que as linhas celulares foram privatizadas, em 1997, o Brasil possuia 4,7 milhões de linhhas. Houve portanto em 15 anos um salto de 54 vezes o número de linhas celulares. As operadoras investiram na última década a bagatela de 200 bilhões de reais para suprir este aumento de tráfego. O governo no entanto, ao ler os dados da ESPM, da Anatel e do Procon, achou por bem atender ao desejo da sociedade de dar um jeito na "péssima" qualidade dos serviços de telefonia celular, e proibiu a venda em todos os estados da operadora que possui o maior número de reclamações junto à Anatel. Isso é popularismo explícito.

O grande problema, o problema real da telefonia celular, é o seu preço. Só em impostos diretos o usuáro paga 40% sobre o valor da fatura. Não estamos aqui levando em conta o que a operadora paga de impostos nos investimentos e nas suas despesas do dia a dia. Mas isso é um problema do governo, uma entidade que nem a Anatel, a Agência Reguladora dessa atividade, nem o Procon, ousam desafiar.

Já para melhorar a qualidade das ligações, além dos investimentos que devem ser feitos, existe uma dificuldade adicional: as cerca de 250 leis municipais e estaduais que criam uma enorme burocracia para se instalarem novas torres. Para se dar uma idéia do tamanho do problema, a instalação dos serviços de 4G, que devem estar em operação nas 12 cidades da Copa do Mundo até abril de 2013, vai exigir que seja dobrado o número de torres nessas cidades. Mas nisso o governo não se envolve, porque o popularismo, somado à velha ideologia de esquerda, não vão gostar. Ele não faz a sua parte, que seria tornar a vida das operadoras mais fácil na criação da infraestrutura, e ainda por cima atrapalha.





Comentários

  1. Fonte, perfeita a análise das telefonicas e a exploração politica das reclamações, etc. Apenas, parafraseando o ministro Barbosa, me causa espécie a responsabilização a uma tais "velhas esquerdas". O FHC sempre foi de esquerda! Talvez seja o caso de aprofundar o papel das "ideologias" nos atos e politicas implementadas por governos, se é tem que tem algo a ver.

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    1. Tem tudo a ver. Basta observar o papelão das nossa política externa, totalmente ideológica e contrária aos nossos interesses. Vamos ver o que podemos falar sobre isso.

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