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Mostrando postagens de 2016

Sobre o Nacionalismo

Sempre tive uma certa prevenção contra os "ismos", mas a sua classificação na minha avaliação pessoal de entidades altamente prejudiciais ao bom andamento da sociedade tem se tornado ultimamente confusa. Ela recebeu uma luz na leitura de um artigo da Revista "The Economist", reproduzida na edição de 11/12 do Estadão no caderno "Aliás": ""A Ameaça Nacionalista". Trata-se de um artigo que cobriu duas páginas do jornal, e a quantidade de informação que ele me trouxe foi de tal forma impactante que cheguei à conclusão que era meu dever tentar resumi-lo para os meus poucos e fiéis leitores. Não existe uma causa única que identifique o nacionalismo. Indagar sobre suas raízes é perguntar por que as pessoas amam suas famílias e têm medo de gente estranha. O nacionalismo vem a ser uma junção de diversos elementos, que incluem a língua, a história, a cultura, o território, a política. Todos esses ingredientes juntos podem levar uma comunidade a to

Sobre a Reforma Previdenciária

Fazer uma reforma previdenciária em um país socialmente desenvolvido é uma tarefa difícil. Fazer a mesma reforma em um país que tem em seu currículo uma história repleta de privilégios adquiridos, por parte das elites e dos sindicatos pelegos, é dificílimo. Junte-se a isso uma população extremamente desigual e tornamos a tarefa quase impossível. Vamos tentar explicar por que. Segundo a última avaliação do IBGE, a esperança de vida dos brasileiros atingiu 75,4 anos em 2015. Isso a rigor significa que, ao se exigir uma idade mínima de 65 anos para se aposentar, o brasileiro em media só vai usufruir 10 anos e 4 meses de aposentadoria, tendo que trabalhar para isso pelo menos 25 anos. Ou seja, ele vai ter que trabalhar no mínimo 242% do tempo que vai ter de aposentadoria. Isso em média. Só que o Brasil é muito desigual. A esperança de vida do maranhense por exemplo é de 70,3 anos. Logo, ele só vai ter em média 5,3 anos para usufruir sua aposentadoria. Ele terá que trabalhar no mínimo 4

A Busca da Velhice Feliz

Diz um ditado japonês que é imprescindível ter um velho em casa. Algo como "se você não tem um velho em casa, pegue um na rua e o traga para morar com você". Isso nós fizemos por décadas, já que meu sogro e minha sogra viveram conosco por quase 20 anos, até que vieram a falecer.  Só que não foi necessário buscar outro velho na rua: nós já estávamos velhos, nós éramos os velhos. Isso nos deixou sem ninguém que tivesse sabedoria e experiência para nos transmitir. Éramos nós os transmissores daquilo que faz do ser humano uma corrente de cultura. Um pouco antes meu Pai tinha falecido aos 100 anos e eu me vi duplamente órfão, como que solto no ar, e com um sentimento de responsabilidade sobre o destino de ambas as famílias.  Tenho uma teoria que ainda não pude desenvolver, que resolvi chamar de teoria do espelho.  Ela é mais ou menos assim: Você pode assumir todas as idades pelas quais já passou, mas não pode assumir idades pelas quais vai passar.  Ao se deparar com uma pe

O Futuro do Automóvel no Brasil

Recebi da Inteligence Unit da revista The Economist o relatório "Driving to the Future - The Development of Connected Cars (Dirigindo para o Futuro - O Desenvolvimento dos Carros Conectados)". Esse assunto tem causado um certo impacto nas comunidades globais sob vários aspectos. Como eu tenho a oportunidade de conviver com três ambientes totalmente diversos, a cidade onde moro (Campinas, SP), a cidade onde mora minha filha mais velha (Melbourne, Austrália) e a cidade onde mora minha filha mais nova (Guapé, MG), observo que o poder público vai ter um papel decisivo na forma como vamos tratar o futuro do automóvel em nossas vidas.  Minhas raízes rurais me levam a não aceitar de forma alguma a ideia de morar em um pombal. Por esse motivo resolvemos, eu e minha mulher, passar nossa velhice num bairro em Campinas onde posso usufruir de uma certa ilusão de estar vivendo na roça. Para tanto é necessário que tenhamos dois carros, já que os meios que temos para nos locomover em t

Freud e a Nossa Realidade Global

Vai ser uma decepção enorme para os que elegeram Donald Trump quando eles descobrirem que o Cinturão da Ferrugem (Rust Belt), a grande região situada no Nordeste dos Estados Unidos, é inviável nas condições atuais. Que nenhum presidente vai ressuscitar as suas indústrias decadentes, muito menos o carvão como fonte de energia. Mas tudo bem. Enquanto isso não ocorrer o que vamos ver é uma onda nunca vista de intolerância contra: os negros, a começar por Michele Obama, agora transformada por uma prefeita de West Virginia em "macaca de salto alto", os latinos, por exemplo quando a jornalista brasileira Fernanda dos Santos, do New York Times, que fala 4 idiomas e estava falando com uma amiga em espanhol e foi insultada por isso no Arizona ("Fuck off"), os muçulmanos, esses os maiores alvos, a ponto de mulheres vestindo os seus lenços estarem sendo instadas a se enforcar com eles. Os transgêneros.... Isso me levou a considerar como válida a argumentação de

O Voto Obrigatório e o Processo Eleitoral Americano

É atribuída a Kant a frase "só não muda de opinião quem não as tem". Pesquisei no Google e encontrei "o sábio pode mudar de opinião, o ignorante nunca (Immanuel Kant)". Por não ser um sábio eu prefiro a primeira. Só que esse assunto, o voto obrigatório,  está fazendo a minha opinião parecer uma gangorra.  O Estadão de 09/11 traz um editorial ("O Voto Facultativo"), e um artigo da Dora Kramer ("Um Direito Obrigatório"), tratando exatamente desse assunto. Isso mostra que a alta taxa de abstenções e de votos em branco das eleições municipais - 32,5% dos eleitores segundo balanço do TSE - jogou o debate sobre a obrigatoriedade do voto na mesa das negociações sobre a Reforma Política, a ponto de o Presidente Michel Temer sugerir que seja estudada a adoção do voto facultativo.  Segundo o editorial, não dá mais para seguir ignorando a mensagem dada pelos que se abstiveram ou anularam seus votos. Essa manifestação política seria tão importante quanto

O Populismo Americano

Quando estou sem assunto, em geral aguardo a coluna da Lúcia Guimarães, que sai no Caderno 2 do Estadão, nas segundas feiras. Com sua enorme erudição, ela sempre me desafia a procurar maiores informações naquilo sobre o que ela discorre. Essa semana ela me levou para o estado da Louisiana. Estamos em 1.935. A Louisiana tinha sido governada de 1.928 a 1.932 por um líder populista, Huey Long, que em seguida se tornou senador. Long era Democrata, e se tornou conhecido a nível nacional pelo seu programa Share Our Wealth (Compartilhar Nossa Riqueza), com o lema Todo Homem é um Rei , no qual ele propunha novas medidas de redistribuição de renda na forma de um imposto sobre ativos líquidos de corporações e indivíduos, para reduzir a pobreza endêmica em todo o país, decorrente da Grande Depressão. Ele também advogava investimentos federais nos serviços públicos, escolas e universidades, pensões para os idosos, e era um crítico feroz das políticas do Federal Reserve, o Banco Central Americano

O Fim do Dinheiro

Um fim de semana no Rio de Janeiro me levou a escrever este Post. Houve um batizado de uma sobrinha neta ao qual achamos por bem comparecer. A família mora em São Francisco - Califórnia, e era uma ocasião para nos revermos e matar a saudade. Pegamos um voo para o Santos Dumont no sábado e retornamos na terça feira. Nos hospedamos na Lagoa, no apartamento dos nossos amigos Roberto e Mônica (sempre os mesmos!) que por sinal estavam na FLIP em Parati, e só fomos nos encontrar no domingo. Um detalhe importante me chamou a atenção nessa viagem: não gastamos um centavo sequer em papel moeda. Munido do aplicativo Uber, me desloquei pela cidade nos 4 dias com ele. Paguei todas as despesas de alimentação com cartão de crédito. As poucas compras que fizemos idem. Tinha levado ~ R$ 300 na carteira da minha esposa e ~700 na minha, mas tivemos a sorte de nem o assaltante se interessar por eles. Desembarcamos de volta em Viracopos com a mesma quantia que levamos. Isso me levou a me interes

A Indústria Açucareira Americana e suas Artimanhas

O JAMA Internal Medicine é um jornal quinzenal da Associação Médica Americana, fundado em 1908. Ele cobre todos os aspectos da medicina interna, o que inclui doenças cardiovasculares, geriatria, doenças infecciosas, gastroenterologia, endocrinologia, alergia e imunologia. Seu "fator de impacto" (fator que mede o número de citações a artigos publicados no jornal) é 14.000, o que o coloca em 6° lugar entre os 151 jornais de sua categoria (Medicina Geral e Interna). É de se esperar então que suas publicações não sejam alarmistas, muito menos tendenciosas. Pois bem, na sua edição de 12 de setembro passado ele publicou o "comunicado especial":   Sugar Industry and Coronary Heart Disease Research - A Historical Analysis of Internal Industry Documents, de autoria de Cristin Kearns, Laura Schmidt e Stanton Glantz (  http://archinte.jamanetwork.com/article.aspx?articleid=2548255  ). O comunicado sugere que " a Indústria Açucareira patrocinou seu primeiro projeto de pe