Recebi da Inteligence Unit da revista The Economist o relatório "Driving to the Future - The Development of Connected Cars (Dirigindo para o Futuro - O Desenvolvimento dos Carros Conectados)". Esse assunto tem causado um certo impacto nas comunidades globais sob vários aspectos. Como eu tenho a oportunidade de conviver com três ambientes totalmente diversos, a cidade onde moro (Campinas, SP), a cidade onde mora minha filha mais velha (Melbourne, Austrália) e a cidade onde mora minha filha mais nova (Guapé, MG), observo que o poder público vai ter um papel decisivo na forma como vamos tratar o futuro do automóvel em nossas vidas.
Minhas raízes rurais me levam a não aceitar de forma alguma a ideia de morar em um pombal. Por esse motivo resolvemos, eu e minha mulher, passar nossa velhice num bairro em Campinas onde posso usufruir de uma certa ilusão de estar vivendo na roça. Para tanto é necessário que tenhamos dois carros, já que os meios que temos para nos locomover em transporte público são de uma precariedade imensa.
Já minha filha australiana mora na melhor megalópole do mundo (segundo a The Economist). Ela, o marido e os dois filhos trabalham; os dois filhos estudam. A família tem apenas 1 carro. O meu neto mais velho, que tinha um carro, achou melhor se desfazer dele, por comodidade e por medida de economia, já que o Uber lhe proporciona uma capacidade de locomoção muito melhor.
Minha filha mineira mora numa cidade de 10 mil habitantes, e para viajar para São Paulo tem que pegar o ônibus para Boa Esperança, a 50 km de Guapé, e aguardar 3 horas para seguir para São Paulo (10 horas para viajar 450 km). Outra opção é pegar o o ônibus de sacoleiros em Boa Esperança às 20:00, que a despeja na Feira da Madrugada às 3 da madrugada. Viajar para Campinas requer outra estratégia, pegando o ônibus em Capitólio, o que requer uma travessia de balsa e 35 km de uma estrada de terra para pegar o bendito ônibus.
Em outras palavras, os meios que o poder público vai disponibilizar é quem irão decidir o futuro do carro, e tudo leva a crer que o seu declínio vai se dar nos países que proporcionarem aos seus cidadãos os meios necessários para uma locomoção digna.
Melbourne tem em torno de 3 milhões de habitantes, mas a sua área urbana é comparável à da Grande São Paulo. Existe por aqui a ilusão de que a cidade que junta seus habitantes em edifícios em bairros densamente povoados economiza em infraestrutura. Esse é um erro que tornou impossível se viver em todas as nossas megalópoles. Vamos tomar por exemplo a cidade de Goiânia, que visito com frequência. Na região do Parque Vaca Brava temos um verdadeiro paliteiro de edifícios que abastecem com milhares de carros ruas que foram projetadas para receber não mais que uma família por lote, e passaram a receber dezenas de famílias. O resultado é uma engarrafamento monumental nas avenidas, já que a elite que mora nesse bairro de classe média alta só se lembra do transporte público na hora de receber suas empregadas domésticas e seus porteiros, dada e precariedade do serviço. Esses serviçais por sua vez dependem de forma total do transporte público, já que foram alijados para a periferia na cidade, muitas vezes em outros municípios vizinhos.
Ou seja, o que o relatório sobre o carro conectado me transmite é algo parecido com um relatório sobre o futuro do transporte em Marte; está fora da nossa pobre realidade, tanto em Campinas como em Goiânia ou Guapé. Aliás, o grande teste do carro plenamente conectado vai ser o seu comportamento em um engarramento no horário de pico na Marginal Pinheiros.
No início do ano tomei a decisão de trocar de carro, já que o meu carro mais antigo ia comemorar 10 anos de vida, e pensei em um Toyota Prius. Esse carro é um sucesso mundial. Diz a 4Rodas que ele faz 23,8 km por litro de gasolina na cidade. Seu site diz que ele tem 2 motores, um a combustão e outro elétrico. A energia cinética gerada na frenagem é armazenada da bateria, que aciona o gerador elétrico. Enfim, é O CARRO:
No início do ano tomei a decisão de trocar de carro, já que o meu carro mais antigo ia comemorar 10 anos de vida, e pensei em um Toyota Prius. Esse carro é um sucesso mundial. Diz a 4Rodas que ele faz 23,8 km por litro de gasolina na cidade. Seu site diz que ele tem 2 motores, um a combustão e outro elétrico. A energia cinética gerada na frenagem é armazenada da bateria, que aciona o gerador elétrico. Enfim, é O CARRO:
Só que aqui ele é negociado a R$ 126.600, enquanto nos Estados Unidos ele custa US$ 24.700, ou R$ 84.000. Uma diferença de 51% num carro que, se incentivada a sua aquisição aqui no Brasil, iria trazer imensas vantagens. Optei por um produto nacional, por sinal muito bom e que me deixou satisfeito, porém decepcionado por não ter levado para casa talvez a minha última compra de uma carro da forma que eu queria.
Mas tudo bem. Minha proposta era falar do carro conectado e até agora nada. Fiquei ranzinza com a idade e esse assunto da mobilidade pública me irrita profundamente, pelo fato de eu entender que transformamos nossas cidades em selvas de pedra sem solução. Nossos políticos não possuem o mínimo preparo para lidar o o assunto e de forma geral estão reféns de sindicatos de dominam o transporte público, tanto a nível do transporte de massa como no individual. Prova disso foi a reação à introdução do aplicativo Uber, que bem ou mal veio nos libertar da máfia dominada pelos sindicatos de taxistas mancomunados com os legisladores municipais.
Em todo o caso, o relatório é muito bem feito. Vamos fazer um trato: Eu coloco em anexo o endereço do relatório (em inglês). Caso sua leitura resulte em comentários no próprio Blog (não no e-mail ou no Facebook), voltaremos com ele para uma discussão mais aprofundada. Os que puderem lê-lo não vão se decepcionar.
Espero que ele seja acessível no Post. Se não for tentem se inscrever o The Economist.
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