Sempre tive uma certa prevenção contra os "ismos", mas a sua classificação na minha avaliação pessoal de entidades altamente prejudiciais ao bom andamento da sociedade tem se tornado ultimamente confusa. Ela recebeu uma luz na leitura de um artigo da Revista "The Economist", reproduzida na edição de 11/12 do Estadão no caderno "Aliás": ""A Ameaça Nacionalista".
Trata-se de um artigo que cobriu duas páginas do jornal, e a quantidade de informação que ele me trouxe foi de tal forma impactante que cheguei à conclusão que era meu dever tentar resumi-lo para os meus poucos e fiéis leitores.
Não existe uma causa única que identifique o nacionalismo. Indagar sobre suas raízes é perguntar por que as pessoas amam suas famílias e têm medo de gente estranha. O nacionalismo vem a ser uma junção de diversos elementos, que incluem a língua, a história, a cultura, o território, a política. Todos esses ingredientes juntos podem levar uma comunidade a tomar dois caminhos diferentes, e é aí que nos deparamos com o problema da atual febre nacionalista: é de certa forma evidente que ele está no caminho errado, o caminho da intolerância.
As raízes dessa orientação talvez até nem tenham a ver com a intolerância como o seu gatilho, mas sim como a via encontrada para justificar as atitudes que estão sendo tomadas a nível global sobre a questão nacionalista.
Trata-se de um artigo que cobriu duas páginas do jornal, e a quantidade de informação que ele me trouxe foi de tal forma impactante que cheguei à conclusão que era meu dever tentar resumi-lo para os meus poucos e fiéis leitores.
Não existe uma causa única que identifique o nacionalismo. Indagar sobre suas raízes é perguntar por que as pessoas amam suas famílias e têm medo de gente estranha. O nacionalismo vem a ser uma junção de diversos elementos, que incluem a língua, a história, a cultura, o território, a política. Todos esses ingredientes juntos podem levar uma comunidade a tomar dois caminhos diferentes, e é aí que nos deparamos com o problema da atual febre nacionalista: é de certa forma evidente que ele está no caminho errado, o caminho da intolerância.
As raízes dessa orientação talvez até nem tenham a ver com a intolerância como o seu gatilho, mas sim como a via encontrada para justificar as atitudes que estão sendo tomadas a nível global sobre a questão nacionalista.
- Comecemos pelos países ricos que, em função talvez de uma orientação equivocada em sua economia e nos mecanismos de controle das forças econômicas, estão sofrendo uma grande desaceleração no seu crescimento. Isso gerou uma desigualdade onde aqueles com nível educacional maior se saíram melhor que os menos qualificados. Isso tudo nada teve a ver com o processo imigratório nesses países, ou seja, a imigração não gerou essa situação em nenhum pesses países, até porque os imigrantes não disputam, com raras exceções, posição com os ricos, nem com a classe média baixa: eles vêm preencher vagas que ninguém quer ocupar. Porém eles são "gente estranha" e, pela pouca influência que têm no processo político local, se tornam alvo fácil quando se trata de encontrar um culpado. Trump encontrou nesse veio, nos eleitores brancos de pouca qualificação, o roteiro para a sua vitória. O mesmo ocorreu com o apoio ao Brexit na Grã Bretanha, e deve ocorrer com Marine Le Pen na França.
- Já nos países em desenvolvimento o crescimento, que tende a ser acelerado (existem exceções, como a nossa), existe mais apoio ao processo de globalização, mas existem também problemas, oriundos de pouca solidez de suas democracias, que levam por exemplo à corrupção generalizada. Nesse caso o nacionalismo se torna a arma dos populistas como Lula, Putin, os tiranetes do nosso pobre continente, e muitos outros. Ele é a forma mais fácil e barata de transformar as coisas que não deram certo em bandeira de defesa do Estado.
- Há também um problema cultural. As nações ocidentais sofrem de um saudosismo dos tempos em que sua influência política era retratada nos impérios globais que elas controlavam a partir de Londres, Paris, Roma, Amsterdam, Berlim, Moscou. Hoje poderíamos dizer que só restou o Império Americano, e as levas de imigrantes que tornaram a Europa menos cristã e os Estados Unidos menos brancos geraram simultaneamente um desconforto, alimentado pela nova onda de racismo.
- Do outro lado temos o que podemos chamar uma elite progressista global, cujos valores são diferentes: ser um bom cidadão global (por exemplo que se preocupa com as mudanças climáticas), e criar vínculos com grupos existentes na sociedade que não necessariamente se identificam com os seus princípios. Participar da vidas desses indivíduos pode ser uma atitude que traz benefícios para a harmonia social. São as chamadas "Ações Afirmativas". No entanto essas ações são razoavelmente limitadas frente ao crescente volume de pessoas nos grupos minoritários, o que acaba limitando os benefícios aos mais capazes, e os pobres acabam não sendo atendidos.
- Outro fator que contribui para o crescimento dessa vertente nacionalista são as novas ferramentas de comunicação. O Facebook e o Twitter permitem o contato direto entre as pessoas, sem que sejam elas sujeitas ao filtro da mídia tradicional, que em geral é mais responsável quanto à veracidade da notícia (nem sempre, mas pelo menos elas são mais facilmente responsabilizadas). Os torpedos enviados por Trump no Twitter são um exemplo disso.
- Porém as mídias também estão à disposição dos progressistas, e isso nós estamos acompanhando no Brasil, onde a popularidade dos demagogos despencou muito em função do uso das mídias sociais como arma de apoio da população às ações da Lava Jato
O que eleva uma sociedade a optar por um caminho ou outro do processo nacionalista decorre em grande parte da oportunidade que pessoas mal ou bem intencionadas se aproveitam do nacionalismo que chegar aos seus abjetivos. Entendo que as minorias auto identificadas como "prejudicadas" têm nessa geração sua última oportunidade de retroceder aos saudosos tempos imperiais. Na medida em que as novas gerações forem se tornando mais diversificadas o chamado nacionalismo étnico não deve sobreviver. Os Estados Unidos, que elegeram um populista digno de pertencer à lista dos nossos reizinhos latino americanos, tiveram entre 2.000 e 2.010 o números de americanos nascidos no exterior aumentado de 10 milhões para 40 milhões. Entre 1.970 e 2.014 a proporção de jovens entre 18 e 24 anos que frequentam a universidade subiu de 26% para 40%. Entendo que esses jovens mais evoluídos e os descendentes dos americanos imigrantes tornarão a vida dos nacionalistas étnicos, em geram mais idosos, mais difícil, em ambos os lados do Atlântico.
Na França a proporção daqueles que entendem que a globalização é boa é de apenas 37%, mas entre os jovens entre 18 e 24 anos ela chega a 77%. Se esses jovens resistirem às propostas de fechar as fronteiras o futuro pode ser menos negro. Mas para isso é necessário que os imigrante entendam que quanto mais rapidamente eles se inserirem nos valores que sua nova pátria cultiva, mais facilmente a globalização retoma seu eixo.
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