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A Produção Científica

Cá estou eu observando um mapa mundi sui generis. Ele substitui a área dos países pelo volume da sua produção científica:


A impressão que ele passa é a de que um deus, irado com as bobagens que o homem perpetrou contra o planeta que ele tão bem concebeu, revolveu nos castigar, espremendo a Terra de forma que, à exceção da Austrália, tudo migrou para o hemisfério norte, sobrando para o sul apenas água.

Qual seria a razão dessa desigualdade tão gritante? Aonde vai nos levar essa política suicida de nos alijar do progresso? O que vemos no nosso ambiente científico é que nossos pesquisadores gastam mais tempo tentando captar recursos junto às organizações alheias às universidades que realmente gerando o que interessa, a pesquisa e seus resultados. Esse ambiente acabou por inserir em nossos cientistas o vício da dependência da burocracia. Para eles essa via crucis já faz parte do seu dia a dia, algo como uma acomodação semelhante à que eles vivenciam em casa: segurança, saúde, educação, e por aí vai.

Há vários fatores que agravam o que vemos no mapa. Grande parte dos nossos pesquisadores acaba por optar desenvolver suas pesquisas no hemisfério norte, ou publicá-las nas revistas de lá, o que distorce o mapa na direção norte. Existe também a chamada investigação invisível, que é encomendada pelo governo e realizada por pessoas que não são do meio acadêmico, e em sua maioria acabam dormindo na gaveta de algum escritório de ministério, sem visibilidade.

O tal Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT) é um organismo isolado, criado para atender à necessidade de oferta de cargos para os partidos políticos da coalizão governamental. Basta ver qual é e quais foram os últimos ministros:
  • Aldo Rebelo - o famoso criador do dia do Saci, em oposição ao dia das Bruxas
  • Clelio Campolina Diniz - Ex reitor da UFMG, mas que durou apenas 8 meses
  • Marco Antonio Raupp - ex diretor do INPE e da SBPC, durou 27 meses
  • Aloisio Mercacante - dispensa comentário, mas também só durou 1 ano.
Mas vamos analisar o mapa com ou pouco de detalhe. A enorme mancha roxa na ponta esquerda não é mais que pequeno Japão. Ao lado temos a China Verde, que ao que parece inclui a Coréia e Taiwan. Ao sul vemos a Índia amarela e ao norte a Rússia creme.

A Europa se distende na direção sul. nas cores marrom claro e escuro. Começando por baixo temos a Península Ibérica com Portugal e Espanha, a França ao norte em marrom escuro, a Inglaterra dilatada separada pelo Canal da Mancha, com as Irlandas à esquerda, Bélgica e Holanda à direita, seguida da Alemanha dilatada, o países nórdicos em cima, Suíça e Áustria em baixo, seguida da Itália.

A África parece que foi espremida, restando apenas uma forma de T com uma bolha em baixo, a República Sul Africana. A América do Norte dispensa comentários, com o México latino se juntando aos magricelas da América do Sul. 

A meu ver o mapa tem duas imprecisões na América do Sul. O motivo é que a Guiana Francesa é um departamento ultramarino da França, e as ilhas Falkland são um território britânico ultramarino. Em virtude disso temos uma espécie de hérnia ao norte do Brasil (que não é a Venezuela nem a Colômbia), a as Ilhas Falkland infladas.

De qualquer forma esse mapa devia ser enviado a todos os nossos políticos e formadores de opinião. Não vamos ver passeatas a favor da mudança desse estado de coisas. A nossa natural ojeriza pela matemática é atávica, cultural. A velocidade com que progride a ciência quase que me leva a crer que essa luta está perdida, como perdido está o chamado "bônus demográfico". 

Em abril de 2013 iniciei uma série de Posts em que, a partir do que ocorre na Alemanha, eu propus uma relação enxuta de ministérios para o caso brasileiro. O primeiro ministério proposto foi o Ministério da Economia e da Tecnologia. Eu não inventei isso. Apenas copiei o modelo alemão. Ele seria composto de 6 diretorias, sendo uma delas a Diretoria de Tecnologia, O motivo dessa inclusão da tecnologia sob o manto da política econômica é simples: o planejador é muito mais capaz de definir as prioridades no campo da inovação que o acadêmico, porque ele tem o que chamamos da visão da águia, que não é limitada pela campo pouco abrangente do pesquisador. As áreas sugeridas como prioritárias para essa diretoria foram: saúde e nutrição, energia e proteção climática, segurança, mobilidade e comunicações.

Com essa política a via crucis do acadêmico seria extinta. O planejador é que iria procurá-lo com uma proposta clara e abrangente de projeto, o qual iria atender as necessidades da sociedade, não ficando limitada à universidade e às revistas científicas. 

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