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O Natal de 2.018

Na segunda feira, dia 24, milhões de famílias vão se reunir para celebrar a festa de Natal. Em uma grande quantidade dessas mesas decoradas e cheias de perus e pernis também vai estar presente a preocupação com o clima; não aquele que a gente consulta no Climatempo, clima esse sempre inconveniente para uma Festa de Natal, mas sim o existente em nossa sociedade, em função da verdadeira guerra que a permeia, devida à polarização resultante das eleições passadas. 

A última coluna de Lúcia Gumarães para o Estadão, dia 10 de novembro, trata desse assunto a partir de Nova York, onde vive, o que mostra que esse vem se tornando um fenômeno global. Ela entende que a presença maior de mulheres no Legislativo americano pode resultar num aumento da civilidade. Os americanos não seguem o padrão dos países desenvolvidos no que toca a representação feminina na politica, e a divisão resultante da vitória de Trump ainda domina a sociedade americana, e não dá mostras de arrefecer..

Essa divisão é tão grande que a Universidade de Colúmbia resolveu estudá-la a fundo, e para tanto criou o Laboratório de Conversas Difíceis. Nele os participantes recebem tópicos que para a sociedade de lá são geradores de conflitos. tais como a questão palestina, a legalização do aborto, etc. 

Na verdade essa iniciativa já tem 10 anos, e algumas conclusões importantes das suas experiências já foram estabelecidas, Por exemplo, a forma de se apresentar um problema faz enorme diferença, e a conversa não progride e for iniciada com a pergunta: "é a favor ou contra?"

Os conflitos tribais, agravados pelas redes sociais, são o grande obstáculo atual para o diálogo coletivo. As pessoas que possuem maior grau de tolerância são aquelas que têm uma vida considerada diversificada, tanto nas relações sociais como no campo emocional e cognitivo. Para mim essas conclusões são evidentes. 

Vou dar um exemplo: anos atrás tentei conversar com uma pessoa, que conheço há cerca de quarenta anos, a respeito dos horizontes que as novas descobertas científicas trouxeram, desde a descoberta que a Terra é redonda, gira em torno de si mesma e do Sol. Sugeri a leitura de livros que tornam fácil a assimilação de conceitos tais como a Teoria da Evolução, a Teoria da Relatividade. Recebi dela a resposta que a leitura dessas "coisas" tem a finalidade única de desviar a atenção da sociedade para a Leitura Suprema, a Verdade transmitida por milênios, e fui até criticado por dedicar meu tempo a essa atividade inócua. 

Pois bem. O tempo passou. O PT se afundou em suas próprias excrecências, e chegamos ao ponto de ter que escolher votar naquele que teria a maior probabilidade de evitar que a quadrilha Petista sobrevivesse. Elegemos então aquele que melhor atendia a esse quesito. Houve aqueles que o fizeram de forma "sebastianista", acreditando fortemente que finalmente, e mais uma vez, encontramos o "Salvador da Pátria". Houve também os que votaram na convicção de que estavam evitando o pior. Certamente essa segunda turma constituiu mais de 20% dos votos em Bolsonaro. ou seja, se eles tivessem votado em branco ou de acordo com a sua consciência o PT venceria. 

Além de expor minhas opiniões nesse Blog eu também costumo dar pitacos no Facebook e no WhatsApp. A forma como o Programa Mais Médicos foi tratado, e as insistentes defesas dela, me levaram a dar a minha opinião. Então escrevi no Facebook o seguinte:

As eleições já aconteceram. Tá na hora de deixar os amigos do face em paz e parar com argumentos indefensáveis.
É evidente que qualquer pessoa razoável entende que ninguém move mais de 8.000 médicos sem causar transtorno àqueles servidos por eles. Para evitar o PT traí minha consciência e votei nesse destemperado. Torço pra que ele se corrija e faça um bom governo, mas para tanto ele precisa aprender que deitar falação não é papel de estadista. Nem é preciso ir ao Nordeste para perceber isso. A Região Metropolitana de Campinas é um exemplo claro do que estamos enfrentando. Segundo li ontem, na quarta feira, depois do feriadão, dos 46 cubanos que trabalham na RMC, 30 faltaram ao serviço e 4 UBSs não funcionaram em Hortolândia. A regra é clara: qualquer atitude que prejudica o cliente não pode ser considerada boa. Não vale o argumento que foi Cuba quem tomou essa decisão. Ela foi resultado da falta de controle do nosso presidente eleito, que jogou para a plateia em vez de pensar nas consequências do que fez

Relendo agora o que escrevi reconheço que devo ter batido duro demais naquele em quem votei. Em ninguém mais. A cidade de Carolina, onde nasceu a minha família, tinha 4 cubanos morando ao lado da casa da minha Tia, já falecida. Todos os dias uma cubana ia até a casa da Tia Diana saber como ela estava passando. Era evidente, e a realidade mostrou isso, que os brasileiros que se inscreveram para substituir os cubanos ou estavam trocando o SUS pelo Mais Médicos para aumentar seu salário, ou não iriam comparecer no seu local de trabalho na data prevista. Isso aconteceu em grande proporção.

A mesma pessoa que citei acima resolveu escrever o seguinte comentário à minha postagem:

Papel de estadista do tipo FHC, que Fontenelle gosta e aplaude ? Deus nos livre. Agora é governo do tipo militar, curto e grosso. Que o Fontenelle que apoiava o Amoedo e se arrependeu, pelo que diz aqui, pegue seu voto de volta, pois desse tipo de eleitor nós dispensamos. Ora bolas, estadista !!

Foi aqui que eu cometi o grande erro de responder a esse desaforo:

Fulano, você é mal educado e adora ofender as pessoas pelos meios que pode. Fale com sua mulher e tente encontrar uma solução pro seu problema. A Internet não é lugar para ofensas pessoais. Se você não concorda com o que eu digo deixe isso claro sem precisar me ofender.

Para minha surpresa recebi de volta o seguinte:

Peço q perdoe-me se o ofendi Otávio.

Observem que no primeiro comentário eu fui chamado de Fontenelle, e no segundo de Otávio. Esse é o tratamento que recebo da minha família e dos mais chegados a ela, já que meu nome é Luiz Otávio e tenho um irmão chamado Luis Claudio (nunca entendi porque um é com z e o outro com s). Minha mulher quando está zangada comigo também me chama de Otávio; o normal é ela me chamar de Nego. 

Ou seja, trata-se de uma pessoa da minha mais alta estima, que estabeleceu como meta acreditar piamente na missão redentora de Bolsonaro e tratar como inimigos mesmo os mais chegados a ele. É de se notar que eu de forma alguma fui o único a sofrer a sua ira contra aqueles que não pensam exatamente como ele. O mais provável é que ele acabe lendo este Post e entenda de forma errada que ele foi citado anonimamente como exemplo no intuito de tentar mostrar a que ponto podemos chegar, mas eu acho que vale a pena a tentativa.

E o que o Natal tem a ver com isso? Lúcia Guimarães, a inspiradora deste Post, de quem eu sinto saudades das sua colunas no Caderno 2 do Estadão de segunda, intitulou sua última participação de "Tentando Conversar", e seu primeiro parágrafo foi:

"Preocupado com o clima na ceia de Natal? Vai colocar seu tio sentado longe da sua irmã? Por que será que aquele seu amigo de mais de 30 anos não retorna seus e-mails?"

A imposição de que na ceia de Natal se discuta tudo. menos política pode funcionar. Ou não. Portanto, como diz o ditado, o que abunda não atrapalha. Se a turma for grande exigir várias mesas, será bom colocar os que pensam igual em uma mesma mesa, de preferência colocando mesas tucanas entre as dos que pensam diferente. Se for uma única mesa grande, e na suposição de que o anfitrião é você, abra mão de se sentar na cabeceira. Faça seu lugar no meio da mesa com a sua mulher em frente a você; coloque os esquerdistas à sua esquerda e os direitistas à sua direita, e de preferência convide alguns indefectíveis tucanos para aumentar a distância entre essas duas tribos. 

E Feliz Natal. E um 2.019 menos aguerrido. 


Comentários

  1. Fonte, Otávio ou Luiz, Muito bom como sempre, onde assino?

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    1. Assina na boa amizade que conseguimos cultivar. Feliz Natal.

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    2. Fontenelle (nem Otávio nem Nêgo)vou cometer a ousadia de discordar de um ponto de mais esta postagem valiosíssima como as demais. Para mim o programa Mais Médicos era político, e não assistencial. Cada dia se mostram mais irregularidades no programa, com a presença de 20 ou 25 policiais cubanos disfarçados no país fiscalizando e controlando todos os movimentos dos cubanos do programa. Fidel faturou bem. Quanto à interrupção, não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos.Pior do que a eventual falta de assistência aos nossos conterrâneos nos rincões do norte e nordeste é a miséria nos hospitais públicos do país. Havendo vontade política tudo melhora.
      Quanto às disposições logísticas das veias de Natal, eu pratico uma opção mais simplista: não a faço.
      Bom Natal para você, Climene, Cláudia, netos, Renata, netos

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    3. Caro De Assis
      A isso eu chamo uma discussão civilizada

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  2. A diversidade exacerbada de hoje impossibilita a harmonia neste Natal. Algo desagradável sempre espreita as festas. Não apenas da política mas ainda tem os veganos, os gêneros, os proteínicos, os fisiculturistas, os que estão de dieta etc. Pior ainda os corintianos e flamenguistas sempre fanáticos embora o futebol há tempos nos ensinou a levar conflitos no bom humor. O senso de humor precisa voltar a ser apreciado como saída de situações impossíveis. Mas ainda tem as crianças...ah, as crianças! Elas podem encantar ou irritar, mas certamente não vão deixar que a conversa descambe para o pior. Feliz Natal ! Amaro

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    1. Feliz Natal, caro Amaro. Embora eu tenha ouvido falar que a festa aí vai ser vegana.

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  3. Vegana e outras mais. Ainda bem que não somos abstêmios. Isto sim seria intolerável.

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  4. Posso dizer por experiência própria com a ceia de Natal antecipada no último dia 15 que é possível sim ter uma ceia de paz e amor. Não houve grandes estratégias para evitar discussões mas aconteceu de termos nos concentrado em falar de assuntos familiares de busca de alguns de oportunidades em outros paises, de luta de outros por emprego, de saudades de pais e tios que já se foram e também assuntos internacionais que recentemente foram manchete tais como a preocupação com o aquecimento global reavivada pelos incêndios na Califórnia e a revolta dos coletes-amarelos contra o Macron na França. Claro que o novo governo do Bolsonaro esteve subjacente a muitas destas conversas mas o dia fluiu gostoso e terminamos todos irmanados agradecendo o milagre de estarmos vivos, alegres e com saúde.
    Roberto Gadelha

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  5. Caro amigo de 40 anos
    Conhecendo você como conheço, sei que uma ceia administrada por você não vai ter conflitos.

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