Vejamos agora qual é a posição oficial do Japão a respeito dessa polêmica. Por enquanto não se vê nenhum sinal de concessão. O Ministério das Relações Exteriores menciona a bandeira como histórica e não faz qualquer referência ao seu papel no período colonialista:
"O design da bandeira do Sol Nascente é amplamente utilizado em todo o Japão, além de ser a bandeira dos navios da Força de Autodefesa do Japão. A alegação de que a bandeira é uma expressão de manifestação política ou um símbolo do militarismo é absolutamente falsa."
Assim sendo temos um impasse; realmente será necessária uma ação política do Japão de reconhecimento da sua responsabilidade pelas ações perpetradas durante seu período colonialista, o que de certa forma isentaria a bandeira da responsabilidade nesses episódios. Até porque seria muito difícil e caro apagar a bandeira do Sol Nascente da cultura japonesa:
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O lado chinês dessa história
O 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial promoveu na China uma onda de filmes a respeito dos horrores da ocupação japonesa. Essa onda é resultado do sentimento na China de que os acontecimentos naquela parte do mundo ainda não foram devidamente esclarecidos, que essa história ainda não se deu por encerrada. Ainda existe no Japão muita gente negando que o massacre de Nanquim realmente aconteceu, tanto no meio político como na Internet.
Do lado chinês a ocupação japonesa é mais um capítulo triste de sua história recente, agravado pelo massacre de Nanquim no final de 1937, que custou a vida de mais de 300 mil civis, e quando cerca de 20 mil mulheres foram estupradas O que torna essa ferida mais dolorosa é o fato de o Japão nunca ter reconhecido plenamente as atrocidades que cometeu em todos os lugares que ocupou: a China, a Coréia, as Filipinas, a Indonésia e a então Malásia Britânica. Até hoje os sobreviventes ou seus descendentes continuam exigindo um pedido de desculpas e uma indenização. Estima-se que cerca de 200 mil "mulheres de conforto" foram obrigadas a trabalhar nos bordéis militares chineses.
O lado Japonês
Do lado japonês temos a considerar que o que aconteceu após o envolvimento americano na guerra no Pacífico, por conta do bombardeio a Pearl Harbor, deixou os japoneses na defensiva em todo o Pacífico. No dia 15 de agosto de 1945, quando o Imperador anunciou a rendição do Japão, mais de 100 mil pessoas já tinham sido mortas em Tóquio antes das bombas atômicas caíssem sobre Hiroshima e Nagasaki. Para eles a dívida já está paga por tudo o que sofreram.
Já em boa parte da Ásia o dia 15 de agosto representa a libertação de um longo trauma. A Coreia chama este dia de "gwangbokjeol, o retorno da luz". Ou seja, as duas partes envolvidas na Segunda Guerra Mundial na Ásia têm lembranças diferentes daqueles anos, e essas diferenças aumentam a possibilidade de uma continuação da guerra; a guerra militar acabou mas a histórica continua. Os chineses definem a agressão recebida como o mais terrível de sua história e os japoneses se apegam ao fato de serem as únicas vítimas até o momento da destruição causada pelas bombas atômicas.
Para muitos japoneses a presença do exército japonês na China contribuiu para a construção de uma nova ordem na China. Foram duas guerras, a Primeira durou um ano (1894 - 1895) e foi um conflito entre a dinastia Qing e o Império Japonês na disputa pelo domínio da Coréia, e terminou com a capitulação da China. A Segunda se iniciou em 1937 e terminou em 1945. Calcula-se que morreram entre 10 e 20 milhões de pessoas, sendo que o governo japonês admite a morte de 480 mil dos seus soldados.
A dimensão que a China dá ao final da Segunda Guerra é maior devido ao fato dela ter sido acompanhada pela libertação do domínio japonês, que se estendia por uma fatia enorme do seu território:
E assim o dia 3 de setembro, dia da rendição formal do Japão, é celebrado com um grande desfile militar, que este ano serviu para a China mostrar ao mundo todo o seu poder atual.
A minha avaliação
Filho de uma pescadora do rio Tocantins em Marabá-Pa e de um médico nascido em Carolina-Ma no mesmo rio Tocantins, tendo crescido em Abaetetuba, em frente à ilha de Marajó, sempre tive uma certa intimidade com os nativos brasileiros, os chamados índios. Quando criança em Carolina aguardava ansioso na porta da casa dos meus avós paternos a passagem dos índios da tribo Craô em direção ao mercado.
Aprendi com meus tios e primos que os índios não tinham muita afinidade com a competição. O seu esporte favorito, a corrida de revezamento com tronco, segundo eles terminava sempre empatada para evitar briga. Dizem também que com a chegada dos missionários os jogos de futebol sempre terminavam 0 x 0, 1 x 1, X x X.
A aparência asiática deles era evidente, como era toda a sociedade de Marabá, de Abaetetuba. Minha babá em Abaetetuba era uma linda índia parecida com a bela moça abaixo, se chamava Raimunda e cantava para mim canções estranhas que eu não entendia muito bem, e das quais mãe não gostava, mas que eu me lembro ainda hoje:
Jacaré de rabo fino,
das costa gulu gulu...
Em Manaus, com 10 anos de idade, conheci uma vietnamita da minha idade que tinha sido adotada por um desembargador amigo do meu pai. Me lembro bem dela porque uma dia a família foi almoçar em casa e nós percebemos que a menina mastigava inúmeras vezes antes de engolir. Nos explicaram que era costume dela só engolir qualquer coisa depois de 20 mastigadas, e meu Pai resolveu importar esse costume, que para mim era uma chatice mas para ele era uma prova de cultura evoluída.
Já em Goiânia dois anos mais tarde eu me deparei com o Kasuo, meu colega no Ateneu Dom Bosco, um garoto extremamente tímido que sofria bullying de um professor de português que lhe perguntava se o O do seu nome tinha acento. Só quando fui para São Paulo me preparar para entrar na faculdade que eu realmente mergulhei na cultura asiática, indo morar na rua São Joaquim na Liberdade, onde eu passava o tempo assistindo filmes japoneses no Cine Nikkatsu, sentava na mureta da pensão em frente ao colégio Roosevelt, e via casais idosos caminhando na calçada com o marido sempre um metro à frente da esposa, e aprendi a dizer "subarachii", uma palavra que só agora ao escrever essas linhas me certifiquei que se trata de um galanteio e não de uma cantada.
Minha turma de 1967 do ITA tinha 110 alunos, sendo que 21 eram militares da Aeronáutica, dos quais não era exigido o vestibular, e assim tivemos 89 alunos que passaram no famosamente difícil vestibular do ITA. Desses 89 alunos 20 eram "japoneses" e 1 era "chinês". Então temos assombrosa proporção de 25% dos alunos civis descendentes de asiáticos, 1 em cada 4. Convivi com esses colegas por 5 anos, depois do que fiquei no ITA por mais 10 anos como professor. Posso dizer dessa experiência que a comunidade "asiática" é mais aplicada e mais disciplinada que qualquer outra. Foi uma satisfação muito grande conviver com, e transmitir ensinamento para, pessoas com essa formação. O respeito que elas têm pelos mais velhos, e pelos superiores, é impressionante e produto de milênios de uma sociedade que sempre cultivou esse comportamento.
Um mito que se disseminou aqui foi o que os asiáticos são aplicados, trabalhadores, disciplinados, mas não são criativos nem possuem características de liderança. Nos meus 40 anos de vida profissional, uma das boas lembranças que tenho foi ter participado de tarefas com as quais sempre tive ao lado asiáticos que sempre me impressionaram como profissionais, tanto no quesito competência como na capacidade de harmonicamente contribuir para o sucesso do grupo. Nunca presenciei um episódio no qual um asiático fosse motivo de discórdia.
Minha convivência com descendentes de japoneses aqui em Campinas é boa, a ponto de minha esposa e eu participarmos de uma grupo de amigos que, em homenagem aos asiáticos que dele participam, recebeu o nome de Tomodachi: TOMO - amigo, DACHI - pluralidade.
Então me surge uma dúvida: o que levou o Japão a se tornar uma nação tão temida e odiada na Ásia Oriental? Pesquisei as ocasiões em que o Japão se envolveu em conflitos com seus vizinhos e fiquei surpreso com o resultado:
Guerra Imjin - 1592-1598 - Japão sob Hideyoshi x Coréia sob a dinastia Joseon e China sob a dinastia Ming
O regente japonês Toyotomi Hideyoshi decidiu conquistar a China. Para tanto pediu à dinastia Joseon livre trânsito através da península coreana, que foi rejeitado porque a Coréia era um país vassalo da China. O Japão chegou a contar com 235 mil combatentes; a Coréia com 84 mil e a China com 100 mil. Entre civis e militares estima-se que houve 1 milhão de vítimas. Nessa guerra foi inaugurado o costume de, em vez de cortar a cabeça do inimigo, os japoneses contavam apenas o nariz.
Primeira Guerra Sino-Japonesa - 1894-1895 - Dinastia Qing x Império do Japão
Foi um conflito pelo controle da Coréia, que terminou com a cessão de Taiwan, das ilhas Pescadores (arquipélago a oeste de Taiwan) e de Liaodong (península onde hoje está o Porto de Dalian) ao Japão. Nesta guerra foram envolvidos 630 mil chineses e 240 mil japoneses, com 35 mil baixas chinesas 14 mil japonesas.
Guerra Russo - Japonesa - 1904-1905 - Império do Japão x Império Russo
Aqui o Japão derrotou o Império Russo no conflito pelo controle da Manchúria e da Coréia.. O Japão fez um ataque de surpresa à base russa em Port Arthur, que tinha sido cedido pela China, e em seguida infligiu várias derrotas ao exército russo. Isso marcou a ascensão do Japão como potência militar, e contribuiu para a decadência do regime czarista.
Primeira Guerra Mundial - 1914-1918
O Japão lutou ao lado dos aliados e aproveitou a guerra na Europa para tomar as possessões alemãs no Pacifico e na China. Sua Marinha Imperial combateu os submarinos alemães no Oceano Índico e no Mediterrâneo. Enviou 70 mil soldados para a Sibéria para combater os bolcheviques. No fim da guerra, em função da expansão japonesa, ocorreu uma tensão com os aliados, e o Japão se sentiu pouco reconhecido e decidiu desenvolver políticas mais expansionistas.
Segunda Guerra Mundial - 1941-1045
Em 1940 0 Japão assinou o chamado Pacto Tripartite, que formou o Eixo, a aliança entre Alemanha, Itália e Japão com vistas a uma expansão militar e territorial. Em dezembro de 1941 o Japão atacou a base naval de Pearl Harbor, no Havaí, o que levou os Estados Unidos a se voltarem para a Guerra no Pacífico. Após o ataque o Japão ocupou diversas posições no Pacífico e no Sudeste Asiático, o que incluiu as Filipinas, Cingapura e a Indochina.
A vitória naval dos Estados Unidos em Midway, um atol a noroeste do Havaí, foi o ponto de virada, que parou o avanço japonês e impingiu pesadas perdas ao Japão. Ao mesmo tempo o Japão sofreu significativos reveses na China.
Em 6 e 9 de agosto de 1945 foram lançadas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki. Em 8 de agosto a União Soviética iniciou a invasão da Manchúria. Diante desses eventos o Japão se rendeu em 15 de agosto e assinou essa rendição em 2 de setembro, o que marcou o fim da Segunda Guerra Mundial.
Conclusão
O Japão é um arquipélago de 6.852 ilhas, sendo que 4 delas
(Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku) respondem por 97% da sua área. Com sua
população de 125,4 milhões de habitantes, o Japão tem uma superfície de 377.973
quilômetros quadrados, equivalente à do Mato Grosso do Sul. Sua área habitável
no entanto é limitada com cerca de 75% do seu território coberto de florestas e
relevo acidentado. Assim sendo a maior parte da população vive nas área
costeiras e nas planícies, que são uma parte pequena do seu território. Com
isso a área média de uma habitação em 2023 era de 92 metros quadrados. Em
Tóquio por exemplo, o espaço médio por pessoa é de 19,1 m2.
Com todas essas limitações o Japão é a quarta maior economia
do mundo em PIB nominal e poder de compra. É também o quarto maior
exportador e o quarto maior importador do mundo. Com o 17° IDH do mundo, e a
maior expectativa de vida, e terceira menor taxa de mortalidade infantil,
podemos dizer que este país tem uma população cuja cultura é altamente
desenvolvida.
Essa falha eu tento compensar lendo muito a respeito das
sociedades asiáticas, em particular China e Japão (que eu são consegui visitar)
e Coréia (que eu visitei e que me impressionou demais pela beleza de suas
mulheres, a educação e o respeito pelos mais velhos).
Em um jantar que me ofereceram tive a percepção de quão
diferente é a cultura asiática. Eram na mesa eu, o CEO da Empresa, e mais ums 5
funcionários. A bebida na Coréia é caríssima e eu queria aproveitar a oportunidade
para beber algumas garrafas (que são pequenas). Só que ninguém estava bebendo
álcool e eu não quis ser o primeiro a pedir. Lá pelas tantas o CEO chamou o
garçom e pediu um vinho.
Abriu a porteira.
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