Os pouquíssimos amigos que seguem este Blog devem ter estranhado a relativa falta de novidades neste mês de julho. É que resolvi pôr em cheque a minha idade avançada e fui passear de carro na terra dos meus ancestrais: Carolina - Ma.
Foram 4.240 quilômetros dirigindo durante 12 dias, uma média de 350 quilômetros por dia. Saí de Campinas dia 2 às 10 horas e fui dormir em um hotel em Itumbiara - Go. Foram 620 quilômetros. No dia seguinte fui almoçar na casa da minha irmã em Goiânia: mais 200 quilômetros. Na quinta feira, dia 5, zarpamos para Carolina, eu e meus 3 irmãos: Claudio, Carolina e Abilio. Dormimos em Gurupi - To (610 km) e na sexta chegamos a Carolina (mais 640 km). Total de 2.070 quilômetros só de ida. Fiz o mesmo trajeto de volta, só que resolvi vir em uma perna só de Goiânia a Campinas. Cheguei dia 13, sexta, às 19 horas, em tempo de ir esperar em Guarulhos minha esposa que estava na Austrália visitando nossa filha. Ela chegou ontem, como maior "jet lag" possível, de 12 horas, e passou a noite achando que era dia, puxando conversa. Acho que isso vai durar uns 12 dias.
O que leva uma pessoa de 69 anos a enfrentar tamanho desafio? Eu dirigi o tempo todo, até porque os meus irmãos não tinham intimidade com o meu carro, automático e com tração integral. Mas a verdade é que minha proposta era exatamente essa: dirigir 4.000 quilômetros. O motivo alegado era celebrar os 100 anos de uma tia, a Eunice, irmã do meu pai Abílio, que também viveu 100 anos e faleceu em outubro passado, aos 100 anos e seis meses.
Valeu a pena. Tia Eunice há muitos anos está meio gagá, mas nos seus momentos de lucidez tem umas tiradas impagáveis. Tipo: "Quem inventou a geladeira tá no céu; imagine que a água mais fria era a da bilha; a gente matava o porco e tinha que salgar e guardar na lata com banha, senão estragava. Quem inventou o fogão a gás tá no céu, meu filho; imagime a dificuldade de cozinhar com lenha; a Basilisa até pegou um enfizema. Quem inventou a máquina de lavar tá no céu; imagine a trabalheira de descer a ladeira pra lavar a roupa no rio. Mas quem inventou a telha Eternit, meu filho, tá no inferno! É por isso que ela esquenta tanto". Isso porque o marido dela, o finado tio Florêncio, resolveu fazer uma varanda coberta com telha Eternit, onde, na temperatura do cerrado maranhense, ninguém conseguia ficar.
Carolina foi a jóia do Rio Tocantins. Era tida como um oásis cultural no meio do sertão. Possuia imprensa local, usina hidroelétrica, Rotary Club, ainda nos anos 40. Teve o azar de ser passagem da famigerada Coluna Prestes, que deixou a cidade em frangalhos e meu avô arruinado, com uma promissória assinada pelo Coronel Juarez Távora, relacionando os bens confiscados, que seriam pagos após o sucesso da revolução. Com a chegada da rodovia Bélem - Brasília a cidade entrou em franca decadência; o comércio se transferiu para Araguaína - To. O povoado do Estreito, que pertencia ao município de Carolina e onde foi construída a ponte sobre o Rio Tocantins, se emancipou e, com a recente construção da barragem do Estreito, se tornou uma cidade pujante. A barragem, 100 quilômetros abaixo, inundou Carolina, que mesmo assim conseguiu sobreviver graças à sua geografia, da qual apresento duas amostras:
Foram 4.240 quilômetros dirigindo durante 12 dias, uma média de 350 quilômetros por dia. Saí de Campinas dia 2 às 10 horas e fui dormir em um hotel em Itumbiara - Go. Foram 620 quilômetros. No dia seguinte fui almoçar na casa da minha irmã em Goiânia: mais 200 quilômetros. Na quinta feira, dia 5, zarpamos para Carolina, eu e meus 3 irmãos: Claudio, Carolina e Abilio. Dormimos em Gurupi - To (610 km) e na sexta chegamos a Carolina (mais 640 km). Total de 2.070 quilômetros só de ida. Fiz o mesmo trajeto de volta, só que resolvi vir em uma perna só de Goiânia a Campinas. Cheguei dia 13, sexta, às 19 horas, em tempo de ir esperar em Guarulhos minha esposa que estava na Austrália visitando nossa filha. Ela chegou ontem, como maior "jet lag" possível, de 12 horas, e passou a noite achando que era dia, puxando conversa. Acho que isso vai durar uns 12 dias.
O que leva uma pessoa de 69 anos a enfrentar tamanho desafio? Eu dirigi o tempo todo, até porque os meus irmãos não tinham intimidade com o meu carro, automático e com tração integral. Mas a verdade é que minha proposta era exatamente essa: dirigir 4.000 quilômetros. O motivo alegado era celebrar os 100 anos de uma tia, a Eunice, irmã do meu pai Abílio, que também viveu 100 anos e faleceu em outubro passado, aos 100 anos e seis meses.
Valeu a pena. Tia Eunice há muitos anos está meio gagá, mas nos seus momentos de lucidez tem umas tiradas impagáveis. Tipo: "Quem inventou a geladeira tá no céu; imagine que a água mais fria era a da bilha; a gente matava o porco e tinha que salgar e guardar na lata com banha, senão estragava. Quem inventou o fogão a gás tá no céu, meu filho; imagime a dificuldade de cozinhar com lenha; a Basilisa até pegou um enfizema. Quem inventou a máquina de lavar tá no céu; imagine a trabalheira de descer a ladeira pra lavar a roupa no rio. Mas quem inventou a telha Eternit, meu filho, tá no inferno! É por isso que ela esquenta tanto". Isso porque o marido dela, o finado tio Florêncio, resolveu fazer uma varanda coberta com telha Eternit, onde, na temperatura do cerrado maranhense, ninguém conseguia ficar.
Carolina foi a jóia do Rio Tocantins. Era tida como um oásis cultural no meio do sertão. Possuia imprensa local, usina hidroelétrica, Rotary Club, ainda nos anos 40. Teve o azar de ser passagem da famigerada Coluna Prestes, que deixou a cidade em frangalhos e meu avô arruinado, com uma promissória assinada pelo Coronel Juarez Távora, relacionando os bens confiscados, que seriam pagos após o sucesso da revolução. Com a chegada da rodovia Bélem - Brasília a cidade entrou em franca decadência; o comércio se transferiu para Araguaína - To. O povoado do Estreito, que pertencia ao município de Carolina e onde foi construída a ponte sobre o Rio Tocantins, se emancipou e, com a recente construção da barragem do Estreito, se tornou uma cidade pujante. A barragem, 100 quilômetros abaixo, inundou Carolina, que mesmo assim conseguiu sobreviver graças à sua geografia, da qual apresento duas amostras:
A chegada a Carolina se dá por balsa, na travessia Filadélfia - Carolina (não estamos nos Estados Unidos), vindo de Araguaína. No município de Carolina está a Chapada das Mesas, de geografia parecida com a do Jalapão, e onde ainda hoje estão sendo descobertas cachoeiras, daí ser chamada de Paraíso das Águas. Lá se come de tudo: o café da manhã vem acompanhado de um frito de farinha de puba com carne de porco, isso se não preferirmos uma panelada (miudos de porco) ou um xambari na banca do mercado. A Olivia, secretária da minha Tia Diana (90 anos) sempre me espera com uma deliciosa buchada de bode, que o meu Tio Nelson guarda no freezer para me esperar (sempre tem 4 quilos estocados, já que é de Juazeiro do Norte - Ce). O Jantar no restaurante Mocotozim tem sarapatéu, filé mignon, peixe de couro (dourada), e frango caipira, tudo a R$ 15 per capita. Meu irmão Cláudio pagou um jantar lá para os parentes: 11 adultos, total R$ 270 com bebidas, bem mais em conta que o Figueira Rubaiat. Aos que está horrorizados com a dieta, lembro que lá se vive muito, como mostram as estatísticas da minha família; uma tia do meu pai viveu 105 anos. Em todo o caso, engordei 4 quilinhos.
Na volta de Carolina um episódio me chamou a atenção, e foi na verdade o motivo de eu colocar Carolina no Blog: já estava com o meu carro na balsa, uma enorme balsa capaz de transportar uns 50 automóveis, quando chegaram 3 caminhões enormes, e a balsa zarpou pra Filadélfia. Os três carregavam máquinas de terraplenagem e traziam neles e nas máquinas o logotipo da construtora: EMSA. Um dos motoristas sentou em um banco ao meu lado e eu puxei conversa. Um detalhe importante é que os motoristas sempre calçam havaianas, não sei se isso é permitido. Ele me disse que aquelas eram as últimas máquinas que estavam sendo retiradas das obras da transposição do São Francisco, que não havia mais nenhum movimento de obras por lá, que que o que tinha sido feito estava totalmente destruído, com o concreto arrebentado em toda a sua extensão. Ao chegar a Campinas resolvi investigar a EMSA e descobri o seguinte:
Ou seja, o motorista não estava inventando. A EMSA tem sede em Aparecida do Norte - Go, na grande Goiânia, e possui uma afinidade muito grande com as obras do PAC. As máquinas, segundo o motorista, estavam sendo deslocadas para a Ferrovia Norte - Sul.
Cheguei a Campinas na sexta feira 13 (que dia para dirigir por 820 km) e fui direto para o restaurante do meu amigo Júlio, o Empório Sabores Mendocinos, perto de casa. Gosto de lá porque sou sempre muito bem recebido por ele, sua esposa e seu filho, que tocam o Empório, e a comida é honesta. O duro é quando você topa com uma mesa de petistas da Unicamp, e para o meu azar nesse dia aconteceu. Parece que eles decidiram que o restaurante é um local ideal para difundir suas ideologias, e nesse dia o assunto era exatamente o PAC. Escutei aquela arenga toda com vontade de dar um pitaco, mas achei que não valia a pena iniciar uma discussão com aqueles fanáticos. Gracas a um motorista de caminhão, estava mais bem informado que eles, pelo menos relativamente à transposição do São Francisco. Tive que escutar que o trem bala vai ser muito bom para o carioca que desembarcará em Viracopos, que o pré-sal será a redenção do Brasil, e outros quetais.
O reconhecidamente sábio FHC, ganhador do prêmio Kluge da Biblioteca do Congresso Americano, disse na Veja desta semana que "é preciso ter um mecanismo pelo qual a população possa participar do processo decisório. Só consegui fazer reformas porque houve muito debate e discussão. Agora não. Quem debateu as quatro usinas da Petrobrás? Quem debateu o trem-bala?"
Quem debateu a transposição do São Francisco? Parece que um padre andou fazendo greve de fome. Ponto pra ele.
Em tempo: as rodovias do Maranhão estão um tapete, dada a importância estratégica daquele estado e graças à influência do Sir Ney nas obras do PAC.
Adorei saber de tudo isso. Obrigada pelas ótimas informações!!
ResponderExcluirAdmiro sua curtição em dirigir tanto; é claro que esse seu hobby o leva a ter muito mais conhecimento real sobre nossa terra do que a maioria de nós. Aplaudo também sua sapiência em se controlar diante dos PTelhos da Unicamp: discutir com eles é como cuspir p'ra cima, a porcaria vai sempre cair na sua cabeça.
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