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O Brasileiro e a Pirâmide Etária

No Post anterior falamos da China e do fato dela ter livrado o planeta de ter dois Brasis a mais no total de habitantes. Hoje vamos ver como o Brasil administrou o seu crescimento populacional, sem que fosse necessária uma intervenção governamental com a violência da chinesa, e com resultado equivalente.

Para isso vamos recorrer ao livro "Guia Politicamente Incorreto da Economia", de Leandro Narloch, Editora LeYa, que me foi recomendado pelo amigo Márcio Oliveira. Já conhecia a obra do Narloch, mas ainda não tinha comprado esse livro, que a meu ver é o melhor da série. Daí recomendar a vocês a sua compra.

O texto inicial deste Post era "Brasileiro 7 x Combinado PT/PSDB 1", mas eu acabei por desistir dele, achado-o chamativo demais. Porém ele fazia sentido, porque os dois partidos disputam o mérito de ter elevado o padrão de vida do brasileiro, mérito esse que cabe quase que exclusivamente ao próprio brasileiro.

Segundo Narloch, a renda dos brasileiros cresceu 68% entre 2.000 e 2.010, e 30 milhões de pessoas cruzaram a linha da miséria. A desigualdade de renda despencou: entre 2.002 e 2.015 o número de cidades brasileiras com IDH abaixo da média mundial caiu de 50% para 0,6%.

A explicação desse fenômeno varia com a preferência ideológica de quem está com a palavra, e vai desde os programas sociais, passando pela universalização da educação, pelo boom da economia e a estabilidade da moeda. Fica no entanto faltando a explicação maior, que não foi incentivada por nenhuma linha política, muito menos religiosa, mas teve geração espontânea: a vida dos brasileiros melhorou porque os pobres deixaram de nascer. Vejamos o que dizemos números:
  • Em 1.970 cada brasileira pouco escolarizada tinha 4,5 filhos a mais que uma mulher com escolaridades alta (7,2 - 2,7)
  • Em 1.980 esse número caiu para 4,2.
  • Em 1.990 ele foi para 2,2
  • Em 2.000 para 1,8
  • Em 2.005 ele foi para 1,6
ou seja, em 35 anos a diferença de fecundidade entre uma brasileira com pouca escolaridade e uma com escolaridade alta caiu de 4,5 filhos para apenas 1,6. Como brasileiros com escolaridade menor são sem dúvida os mais pobres, o equilíbrio entre as classes sociais foi alterado para melhor, com menos pobres nascendo em relação aos ricos. Continuam nascendo mais pobres do que ricos, mas numa proporção muito menor. 

As explicações para esse fenômeno também variam, principalmente ao sabor da ideologia e da religião. Alegou-se que a crise da época era grave demais, tirando a libido dos casais. O PT chamou para si o mérito da queda da fecundidade, ao dizer que ela foi resultado dos programas sociais, esquecendo de notar que a queda da fecundidade precedeu o Bolsa Família por 30 anos.

Meu primo Frederico se mudou de Marabá Pa. para São Paulo, depois de dar imensas cabeçadas por lá. Ele tinha 4 filhos e eu o visitava com certa frequência nos anos 1.960. Ao perguntar por que ele tinha parado de ter filhos em São Paulo, sua resposta foi cristalina: "aqui tem televisão". Eu como ele acredito que a televisão teve um papel importante nesse processo, não apenas por proporcionar uma opção de laser quase gratuita para as noites das famílias sem muitas posses, mas também por dar um exemplo de programação familiar: as famílias das novelas, quase sempre bem sucedidas, tinham poucos filhos. 

O resultado desse processo foi que o Brasil, com a diminuição da taxa de natalidade, chegou em 2.010 com 190 milhões de habitantes. Caso ela não tivesse ocorrido e permanecesse como em 1.970 ele teria 295 milhões de habitantes em 2;010. Segundo o IPEA seriam 105 milhões de brasileiros a mais, algo como se toda a população do México migrasse para o Brasil nesse ano. 

Em função disso, a partir dos nascidos em 1.980 o mercado de trabalho teve uma diminuição brusca na concorrência, o que permitiu uma cobrança maior na hora de fechar contratos de trabalho. Isso teve como resultado, entre 2.001 e 2.012, num aumento real de 51% no salário dos que tinham escolaridade de 3 anos, e de 32% para os que tinham escolaridade entre 3 e 7 anos. 

O reflexo disso ocorre principalmente nas áreas chamadas de não "tradables". Você pode, dependendo da situação econômica, mudar a sua fábrica para a China, mas é mais difícil você trazer uma chinesa para ser sua empregada doméstica ou sua secretária. Porém o governo pra variar fez besteira em ambos os setores: o industrial e o de serviços. Para contribuir ainda mais com a tendência global à desindustrialização ele criou a chamada "Nova Matriz Econômica", inventou os tais "Campeões" onde injetou o nosso dinheiro para financiar incompetentes. No setor de serviços ele tornou a forte participação da empregada doméstica no mercado de trabalho algo insustentável para a classe média. Hoje mesmo recebi de uma sobrinha pelo Facebook a notícia de que um senador sem noção acaba de aprovar na Comissão de Assuntos Sociais um projeto que vai agir da mesma forma no mercado dos estágios.

Se você se considera um defensor dos trabalhadores, a primeira coisa a ser feita é condenar de imediato toda e qualquer interferência desse tipo no mercado de trabalho. O maior predador, armado das piores intenções, nunca vai conseguir rivalizar com esse governo na criação de práticas que ao fim e ao termo fazem exatamente o contrário, arruinando a relação capital - trabalho. As leis trabalhistas não fazem mais que prejudicar o trabalhador. Aqui em Campinas eu costumava comprar sorvete em um fornecedor local excelente. Dia desses cheguei lá de manhã e descobri que ele tinha passado a abrir apenas depois das 12:00. Procurei saber o motivo e parece que a fiscalização o obrigou a ter dois turnos de trabalho em vez de pagar hora extra, e isso inviabilizaria o seu negócio. Resultado: o faturamento diminuiu e o trabalhador passou a ganhar menos.

O caminho a ser percorrido é exatamente o contrário do atual; é o aumento da relação comercial entre as nações, a chamada globalização. Está mais que provado que o livre comércio é o grande alavancador do enriquecimento das sociedades, mas ele tem um grave defeito: ele diminui o poder do governante de ocasião, que então o dificulta com a mensagem que com isso está defendendo os pobres. A Petrobrás foi saqueada de forma tal que se tornou o maior escândalo financeiro do globo, mas até agora não ouvi de nenhum formador de opinião, à exceção do Pastor Everaldo (lembram dele?), a proposta de privatizar a Petrobrás. Isso é resultado de uma mentira que foi inculcada em nós, que se transformou em uma espécie de dogma.

Enfim, recomendo de imediato a compra desse livro e tenham bom proveito dele. 



Comentários

  1. Parabéns Luís pela análise. O atual premio Nobel, propugna que o conhecimento das escolhas individuais de consumo constituem a melhor forma de passar a conclusões macroeconômicas confiáveis. Assim a preferencia do publico TVGlobal por uma renuncia aos prazeres da carne nas ultimas décadas nos leva a melhores índices de IDH hoje !! Sabe-se lá o que mais não está acontecendo ou vai acontecer neste país. É assustador para quem nunca vê novelas, como eu.

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    Respostas
    1. Caro Amaro
      Como você, eu também só usava a TV pra ver o noticiário e esportes, mas caí na besteira de assinar o Netflix. comprar um Chromecast, e agora eu e a Climene estamos viciados no House of Cards. O Francis Underwood é o novo ídolo aqui em casa. Ainda bem que não sou mais reprodutor, senão estaria em apuros.

      Excluir

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