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2018: o Ano para sermos Otimistas?

Como havia prometido no Post anterior, hoje vamos discutir o lado otimista que, de uma forma maior ou menor, todos temos. Para tanto vamos recorrer novamente à coluna da Sonia Racy, a do Estadão de 08/01, que reproduz trechos da entrevista de Gabriel Manza com o cientista político Rubens Figueiredo.

Pelo que entendi, boa parte da nossa frustração decorre do fato de sistematicamente esperarmos daqueles que, de uma forma ou de outra, deveriam contribuir para o nosso progresso como sociedade, uma atitude "revolucionária". Segundo ele os sistemas políticos não são uma prova de 100 metros rasos, mas sim uma maratona, em que as metas são cumpridas em uma espaço de tempo que propicia uma reavaliação das decisões tomadas. Tudo evolui numa rampa acaba por nos levar a um desfecho, que pode até não ser o que desejávamos, mas não há dúvida de que tivemos nessa maratona inúmeras oportunidades de corrigi-lo. 

Em todas as redes sociais se pede por uma reforma política "definitiva", inclusive apelando para populistas de esquerda ou de direita para que essa reforma seja uma corrida rasa. Isso não ocorreu ultimamente de uma forma tranquila em lugar nenhum do mundo. Na marcha para a reforma política já tivemos progressos que a nossa pressa não nos permitiu apreciar. Os progressos foram lentos mas existiram. Eles estão presentes na fidelidade partidária, na cota para as mulheres, o fim dos showmícios, a proibição da distribuição de brindes, o Projeto da Ficha Limpa, uma tímida clausula de barreira, e um caminho rumo ao voto distrital misto.

Aos que argumentam sobre a velocidade com que isso está ocorrendo, é bom lembrar que  a nossa sociedade como um todo evolui na velocidade da carroça, e não é justo pôr a culpa disso na nossa classe política; é claro que ela é ruim. Ela não pode ser boa com as ferramentas que possui: um presidencialismo de coalizão, a maior segmentação partidária do mundo, um Estado gigantesco. O motor desse carro, com o imenso potencial que possui, não consegue implementar as mudanças de que necessitamos na velocidade que queremos. 

Também não é certo argumentarmos que o pouco conseguido não está sendo implementado na sua totalidade. Nós somos assim mesmo. Acabamos de receber dos nossos políticos uma Reforma Trabalhista de boa qualidade e o que vemos é uma enorme resistência à sua implementação. De 11/11 a 31/12 de 2.017 o número de novos processos abertos teve uma redução de 2/3 em relação ao ano anterior, mas o que se vê na mídia é a ideia de que isso é ruim para a classe trabalhadora. Como diria Caetano, "à mente apavora o que ainda não é mesmo velho". 

Mudando de assunto, para as eleições desse ano devemos nos acostumar com o fato de que a possibilidade de mudança, segundo o entrevistado, é modesta. Estamos em um período de grande carência de lideranças políticas, a ponto de termos nos tornado apáticos, ou mesmo nos voltado àqueles que nos levaram ladeira abaixo. Mesmo os novos candidatos a líderes estão com dificuldades em função das limitações impostas pela nova legislação: limite de financiamento de campanha para R$ 2,5 milhões para deputado federal e R$ 1 milhão para estadual. Haverá uma renovação no Congresso, mas é evidente que ela não vai atender às expectativas dos apressados. 

O candidato do centro, até agora, inexiste. O que se espera é que em agosto o Brasil esteja melhor que hoje, que a economia cresça 3,5% ao ano no 3° trimestre, quando a eleição será definida. Não que o Temer deverá se tornar um bom cabo eleitoral, mas eu entendo que o eleitor não irá querer se arriscar a mudar o que está dando certo. Reprovar a pessoa do Temer em pesquisas ficou tão comum que a sua figura acabou se descolando dos resultados do seu governo. Eles são muito maiores que a sua avaliação pessoal. Isso vai abrir a possibilidade de termos um candidato de centro com um enorme tempo de TV, o que vai possibilitar a sua viabilidade. Os partidos de centro só perderão essa eleição se quiserem permanecer dispersos e deixarem o Bolsonaro e o Lula ou seu poste chegarem ao segundo turno. 

Os que temem o retorno do PT ao governo federal devem ficar tranquilos. O PT só vai bem quando as coisas vão mal, e elas estão mal mas a sociedade vê na estratégia atual a talvez única chace de recuperação. O eleitor está vendo que a continuidade é uma saída interessante e o PT não tem mais as Centrais Sindicais com os cofres cheios e capacidade de mobilização. Meu temor é que, com o crescimento das mídias sociais, a indignação se tornou a melhor característica para se vencer um argumento. Vence um debate quem se apresentar mais indignado, e é evidente o despreparo do centro nesse quesito. Haja vista a sua inabilidade na defesa das Reformas. O eleitor levou tanto tempo acreditando em populistas que a figura daquele que pode com sinceridade lhe dizer que, no médio e longo prazo, as Reformas são fundamentais, a figura do estadista, inexiste. O populista nunca vai defender reformas, porque na sua estratégia não consta a ferramenta que leva o eleitor a pensar. Suas ferramentas são todas imediatistas. 

Precisamos de alguém com credibilidade para dizer as verdades que têm que ser ditas. A Previdência tem hoje um déficit de R$ 170 bilhões por ano, e o déficit total do governo chega a 560 bilhões. Temos que fazer a reforma da Previdência e uma reforma posterior no sistema federalista, além de uma revisão no sistema tributário. O economista Marcos Mendes comparou 27 países parecidos com o nosso e concluiu que o Brasil é o 28° em abertura comercial, em taxa real de empréstimo bancário, em tempo requerido para as obrigações tributárias, o 27° em volume de carga tributária, e o 23° em facilidade de fazer negócios. Com esse quadro o país cresce, mas tão pouco e a um custo tão elevado que dos deixa cada vez mais pra trás. 

O otimismo do entrevistado decorre do fato que nenhum país fechou por causa desses problemas. Você não renova 100% do Congresso, não acaba para a classe política. O que é necessário é um debate que se baseie em bom senso da parte dos que elegem os seus representantes. Que nossos representantes entendam que as medidas que são boas para eles certamente não serão boas para o Brasil. Para isso a lei faculta a nós eleitores ferramentas que imponham a nossa presença no debate político, e temos o exemplo da inciativa popular que nos deu a Lei da Ficha Limpa. 

Para terminar, temos objetivamente que o otimismo hoje tem como aliado dados sólidos. "Inflação, crescimento do PIB, juros, desempenho das estatais, reforma trabalhista, PEC do Teto, responsabilidade fiscal, política externa, nos transmitem a sensação nítida de o País melhorou muito". O que temos que fazer é refrear a nossa indignação para evitarmos a todo custo o populismo que continua a nos ameaçar. 


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