Pular para o conteúdo principal

Sobre o Agronegócio II - A Cadeia Produtiva Pecuária

 

No Post anterior analisamos a Cadeia Produtiva Agrícola. Desta vez vamos tentar oferecer uma visão da Cadeia Produtiva Pecuária, cujas atividades focam a produção e comercialização de animais tais como bois, porcos, frangos, etc. 

Vamos iniciar com os Bois. Segundo a USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), os dados mundiais para o rebanho e a produção de carne bovina em Janeiro de 2022 são os seguintes:

Rebanho (milhões de cabeças):


Produção (milhões de toneladas):


Duas coisas me chamam a atenção ao analisar as tabelas acima:
  1. Os Estados Unidos e a União Europeia mostram uma tendência à diminuição tanto do rebanho bovino quanto da produção de carne bovina. Como tanto o rebanho quanto a produção mundiais cresceram, a meu ver a pandemia de COVID pouco teve a ver com esse fato, e talvez isso se deva a uma gradual mudança nos costumes dessas duas enormes sociedades
  2. O Brasil tem um rebanho 2,8 vezes maior que o dos Estados Unidos, e no entanto produz apenas 79% da carne que os Estados Unidos produzem. Resolvi então, a partir das tabelas acima da USDA, ver qual a relação rebanho / produção desses países:
Relação Rebanho / Produção:


Ficou fácil ver que o Brasil precisa de 26 cabeças de gado do seu rebanho para produzir uma tonelada de carne por ano, ao passo que os Estados Unidos precisam de apenas 8 cabeças para produzir a mesma tonelada. A Índia é uma caso à parte talvez porque lá a vaca é mais adorada que comida. Não tenho outra alternativa a não ser concluir que a nossa produção de carne bovina é ineficaz. 

Digo isso porque os 26/8 = 3,25. ou seja, Os Estados Unidos precisam de 3,25 vezes menos bois para vender o mesmo que vendemos. Isso resulta em uma quantidade de ração e água 3,25 vezes menor. O argumento de que a nossa população bovina é criada livre enquanto a americana é muito mais confinada não se sustenta, porque a nossa criação de gado é acusada, com certa razão, pela transformação das nossas reservas florestais em pastos.

Passemos aos porcos. A produção mundial de carne de porco, de forma surpreendente para nós brasileiros, é de 110,5 milhões de toneladas, 90% superior à de carne de boi. A China lidera com folga esse mercado, conforme mostra a tabela abaixo:

Produção (milhões de toneladas)



O Brasil ocupa um modesto 4º lugar neste quesito, modesto porque representa 8,6% da produção chinesa. O que se vê aqui é uma ênfase maior no suprimento interno, com as exportações e importações representando uma percentagem pequena da produção mundial:

Exportação (milhões de toneladas)


Importação (milhões de toneladas)


Me chamou a atenção o fato de três países serem listados como exportadores e importadores: Estados Unidos, Reino Unido e México. Fora isso chamo a atenção para a produção chinesa: Embora a China seja responsável por 46% da produção mundial, mesmo assim é a maior importadora, com 32% da importação mundial. A enorme produção de carne de porco na China explica a grande importação deste país da soja produzida no Brasil.  

A produção de carne de frango, por sua vez, nos traz de volta ao papel de protagonista, ficando em 3º lugar em um empate técnico com a China, com uma produção de 14,7 milhões de toneladas, das quais 4,8 milhões (33% do total) se destinaram à exportação, e o consumo interno chegou ao 45,5 kg per capita.


Observamos aqui que a nossa produção de frango é 230% superior à de porcos (14,5 x 4,4 milhões de toneladas), e 49% superior à de bois (14,5 x 9,75 milhões de toneladas). Fora isso foram produzidas 52 bilhões de unidades de ovos em 2022, com exportação de 9,5 mil toneladas, e um consumo interno de 241 unidades per capita.

Aqui surge uma nova surpresa: a carne de frango é a mais consumida no mundo. Essa posição foi atingida em 2021, e os motivos que a galgaram a essa posição foram os seguintes:
  • Custo mais acessível, resultado de um custo mais baixo de produção.,
  • Percepção de saúde, onde a carne branca se relaciona com dietas saudáveis,
  • Questões socioculturais e ambientais, com redução da emissão de gases,
  • Palatabilidade, juntada à digestão mais rápida.
A conclusão a que chegamos é que a carne de frango sai como campeã nesta comparação boi x porco x frango, o que me tem levado a aumentar o seu consumo na minha cozinha. Isso de certa forma me levou a abandonar alguns preconceitos contra a carne de frango, como por exemplo aquele que preconiza que em restaurante não de deve pedir frango. Também faz tempo que deixei de repetir aquele provérbio que diz que "quando pobre come frango um dos dois está doente."




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Europa Islâmica

É irreversível. A Europa, o berço da Civilização Ocidental, como a conhecemos, está com seus dias contados. Os netos dos nossos netos irão viver em um mundo, se ele ainda existir, no qual toda a Europa será dominada pelo Islamismo. Toda essa mudança se dará em função da diminuição da população nativa. Haverá revoltas localizadas, mas o agente maior dessa mudança responde por um nome que os sociólogos têm usado para alertar para esse desfecho: a Demografia. Vamos iniciar este Post com um exercício simples. Suponhamos uma comunidade de 10.000 pessoas, 5.000 homens e 5.000 mulheres, vivendo de forma isolada. Desse total metade (2.500 homens e 2.500 mulheres) já cumpriu sua função procriadora, e a outra metade a está cumprindo ou vai cumprir. Aqui vamos definir dois grupos, o velho não procriador e o novo procriador. Se os 2.500 casais procriadores atingirem uma meta de cada um ter e criar 2 filhos, teremos como resultado que, quando esta geração envelhecer (se tornar não procriadora), a c

Sobre os Políticos

Há tempos estou à procura de uma fonte que me desse conteúdo a respeito desse personagem tão importante para as nossas vidas, mas que tudo indica estar cada vez mais distanciado de nós. Finalmente encontrei um local que me forneceu as opiniões que abasteceram a minha limitada profundidade no assunto: Uma entrevista no site Persuation, de Yascha Mounk, com o escritor, diplomata e político Rory Stewart.  Ex-secretário de Estado para o Desenvolvimento Internacional no Reino Unido, Rory Stewart é hoje presidente de uma instituição de caridade global de alívio à pobreza, a GiveDirectly (DêDiretamente em tradução Livre) e autor do recente livro How not to be a Politician, a Memoir (algo como "Como não ser um Político, um livro de Memórias"). A entrevista é longa e eu me impressionei com ela a ponto de me atrever a fazer um resumo. Pelo que entendi, com o livro Stewart faz uma descrição de suas experiências na política do Reino Unido. Ele inicia a entrevista falando da brutalidade

Civilidade e Grosseria

  Vamos iniciar este Post tentando ensaiar teatrinhos em dois países diferentes: País A O sonho do jovem G era ser membro da Força Aérea de A, mas na sua cabeça havia um impedimento: ele era Gay. Mesmo assim ele tomou a decisão de apostar na realização do seu sonho. O País A  não pratica a conscrição, ou seja, ninguém é convocado para prestar serviço militar. Ele está disponível para homens entre 17 e 45 anos de idade. G tinha 22 e entendeu que o curso superior que estava fazendo seria de utilidade na carreira militar. Detalhe: há décadas o País A tinha tomado a decisão de colocar todos os ramos militares em um único quartel, com a finalidade de aumentar o grau de integração e a logística. Isso significa a Força Aérea de A está plenamente integrada nas Forças de Defesa de A. Tudo pronto, entrevista marcada, o jovem G comparece à unidade de alistamento e é recebido com a mesma delicadeza que aquele empresário teria ao se interessar por um jovem promissor de 22 anos. Tudo acertado, surgi