No dia 05 de agosto passado fui, vamos dizer, algo como o protagonista de um encontro de 92 pessoas, reunidas no Sítio Santa Inês, bem perto da minha casa em Campinas, para comemorar os meus 80 anos de idade. Embora tenha nascido num 05 de setembro, resolvi antecipar o evento em um mês para aproveitar a presença da minha filha Renata, residente em Melbourne, Austrália, que estava nos visitando. O resultado deste encontro de pessoas, todas muito chegadas a mim, me fez pensar a respeito de uma característica das comunidades nas quais cresci, característica essa quase que extinta nos tempos atuais: as reuniões de pessoas para comemorar; seja lá o que for.
Daí surge a pergunta que motiva este Post: qual o valor que devemos atribuir a esses eventos? O seu custo eu tenho nas planilhas Excel nas qual tento equilibrar minhas contas de aposentado, mas a resposta que esse encontro de amigos deu me trouxe a certeza de que o seu valor ultrapassou todas as minha expectativas.
Grosso modo podemos dizer que o investimento em um evento como este equivale a uma semana de um casal em uma cidade europeia ou americana (Paris, Lisboa, Roma, Nova York, etc.), e a nossa maneira de ver as coisas acaba por nos convencer em optar pela viagem como a solução para o tédio em que estamos afundados, pelas contingências que o nosso modo de viver nos impõe. Então nos apertamos em um assento da classe econômica, 10 horas na ida, 10 horas na volta, passamos pelo stress da imigração, visitamos de novo lugares que já conhecemos e nos damos por satisfeitos por termos evitado por alguns dias tomar o elevador para chegarmos ao pombal onde nos escondemos. Isso quando não vamos dormir preocupados se a casa está bem fechada ou se as favelas de luxo onde nos escondemos, os chamados condomínios horizontais, estão realmente nos dando segurança.
Vieram para o almoço no sábado, uma feijoada, pessoas que residem em Melbourne Austrália (1),Lincoln Reino Unido (1), Fortaleza (1), Vitória (2), Florianópolis (2), Rio de Janeiro (5), Brasília (3), Goiânia (11), São Paulo (2) e Campinas onde moro (64). Aqui incluída uma banda de 5 pessoas que animaram o almoço com Jazz e MPB.
Um dos amigos presentes, que por sinal não gosta de alho nem de cebola nem de coentro, disse em alto e bom tom que essa foi a melhor feijoada da sua vida (ponto para do Dedé que comanda esse local de eventos). Todos os presentes teceram elogios à banda musical. O dia estava magnífico. Tudo contribuiu para o sucesso do encontro.
Porém o ponto alto coube à minha esposa Climene, que me fez uma bela declaração de amor:.
E minha filha Claudia me presenteou com um livro com declarações de muitos dos amigos presentes a meu respeito, que ela fez com a ajuda do meu amigo Ariovaldo.
Já tive dias muito felizes, mas este com certeza foi um dos melhores da minha vida. Isso porque eu entendo que ele consistiu em uma homenagem de mão dupla. Eu estava também homenageando os presentes a esse encontro. Eles eram uma amostra daqueles que fazem de mim e da minha família um grupo de pessoas felizes, em harmonia com ambiente em que vivemos e certos de que estamos cumprindo nosso papel na sociedade de forma positiva.
A reunião anterior a essa para comemorar os meus 70 anos em 2013 aconteceu em Guapé, MG, onde morava minha filha Claudia. A ela compareceram 52 pessoas de fora, o que correspondeu a 0,5% da população do município. Para os 80 anos do meu Pai em 1991 em Goiânia partiu de Campinas um ônibus com 16 pessoas, entre família e amigos. Para os 100 anos meu Pai recebeu uma comitiva de 12 "campinenses". Meu amigo José Paulo, residente em Manguinhos, convidou esses festeiros para os seus 70 anos e se surpreendeu com a presença de 12 pessoas que alegraram a sua festa.
Foi isso que me ensinou a convivência que tenho com meus amigos, em particular os campinenses. Na medida em que fomos envelhecendo e alguns ficando pelo caminho, as pescarias, o futebol, as excursões foram sumindo, mas o sentimento de amizade existente prevalece, a ponto da minha esposa entender perfeitamente que a mesa de bar continua sendo o lugar que me devolve a tranquilidade de que preciso para navegar em direção aos 90. Já dizia Gonzaguinha que Mesa de Bar são "companheiros em pleno exercício de Democracia".
Um cara porrete esse Luiz Otávio.
ResponderExcluirSortudo também.
Encontrou a encantadora Climene que faz a vida ser agradável.
Inteligente, pois soube cativá-la.
O resto são os detalhes céticos de 80 anos de uma vida densa.
Se tem uma coisa que me deixou curioso foi saber quem é você, caro anônimo. Mas você está certíssimo: tudo o que eu sou devo à presença na minha vida do anjo me aceitou como companheiro 54 anos atrás.
Excluir2 comentários: 1 - Caro Fontenelle a festa foi VOCÊ, parabéns, espero estar vivo e em condições de participar das próximas. 2 - Fantástica esse definição do Vladimir, " um cético esclarecido. Fácil de conversar, terrível de convencer". Assino embaixo.
ResponderExcluirAmigo De Assis, sua presença nos 70 e nos 80 lhe dá passe livre nos 90. As chances não são boas segundo o IBGE, mas até lá existem 10 anos para aumentar ainda mais esta grande amizade.
ExcluirQue lindo momento junto a pessoas queridas.
ResponderExcluirDesejo-lhe saúde e força para chegar aos 9.0. Parabéns, Mestre Fontenelle .
Por força maior, tive que acompanhar de longe essa belíssima celebração da vida desse amigo tão querido, que nós de Goiânia carinhosamente chamamos de "Tio Otávio". Fui representado pela minha mãe, que me mandava notícias em tempo real.
ResponderExcluirEsse encontro especial, resumido nesse texto profundo e cristalino, nos comprova a importância das amizades e de um propósito, para que tenhamos uma vida longeva e feliz.
Parabéns, Tio Otávio! Feliz aniversário! Muita saúde, alegrias e que possamos nos reunir muitas vezes ainda, em torno de sua figura absolutamente inspiradora para nós!
Um grande abraço.
Obrigado, caro Luciano. Sua Mãe é uma pessoa muito querida na nossa família, assim como você. Pena que não pôde estar presente, mas vamos tentar os 90.
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