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Dinheiro, a Principal Causa da Inflação

Já se sabe que os tesouros descobertos nas Américas, notadamente na América Espanhola com as minas de prata, acabaram por causar uma grande perturbação na economia européia, o que acarretou um período de grande inflação. Os preços começaram a subir sem explicação.

Como os conceitos de teoria econômica estavam ainda em gestação, foi creditada à artimanha de cunhar moedas com baixo teor de ouro e prata a origem do problema, o que tinha fundamento, mas somente em parte. O advogado francês Jean Bonin resolveu então estudar com mais detalhe o fenômeno da inflação e chegou a conclusões surpreendentes: ele comparou os preços dos bens com a quantidade real de prata existente nas moedas e chegou à conclusão que, mesmo assim, a inflação era muito elevada; ou seja desconsiderando a moeda e considerando o peso da prata existente na mesma, ainda assim os preços subiam, e muito.

No século XVI os preços quadruplicaram na Europa, ao mesmo tempo em que a quantidade de ouro e prata triplicou, ou seja, o aumento de dinheiro disponível era de fato a causa principal da inflação. Ele destacou também a procura por bens luxuosos, a escassez de bens disponíveis em função das exportações para outros continentes em um comércio antes inexistente, o descontrole das autoridades sobre a ganância dos agentes do mercado, e por último a adulteração das moedas.

Bonin foi mais a fundo e lançou os fundamentos do que hoje se chama a Teoria Quantitativa da Moeda, onde é analisada a demanda e a oferta da mesma e seus efeitos sobre a inflação. Essa teoria na verdade se baseia no senso comum, e responde a questões simples que o leigo percebe mas não consegue entender o por que. Por exemplo, se o cafezinho é mais barato no Brás do que nos Jardins, é porque nos Jardins corre mais dinheiro do que no Brás. Assim, se de repente resolvermos duplicar a quantidade de dinheiro existente num país, é natural que as pessoas queiram usar seu poder aquisitivo maior para comprar mais produtos e serviços, o que vai acabar por elevar o preço desses bens devido à maior procura. Com muito dinheiro para comprar os preços vão ter que subir, pois a produção não foi alterada (ainda).

De uma forma geral pode-se dizer que, se duplicarmos a quantidade de moedas, iremos necessariamente duplicar os preços. Isso no entanto não se aplica a preços específicos, que na verdade dependem de outros fatores. O senso comum também se aplica aqui quando intuitivamente decidimos comprar roupa de frio no verão e vice versa.

Os estudos de Bonin tiveram inúmeros seguidores.Eles dizem basicamente que dobrar a oferta de moeda dobra o valor das transações. No limite o que ocorre é que a duplicação da moeda duplica os preços, mas não duplica o valor real dos bens. Podemos então dizer que os bens possuem dois valores, o nominal e o real, aquele sobre o qual a moeda não teria qualquer efeito.

Toda vez que o valor real dos bens se distancia do valor nominal a economia entra em crise, e cabe a nós leigos ter a percepção desse distanciamento e nos prevenir contra as suas consequências. Por exemplo, o mercado imobiliário brasileiro está passando por uma fase em que o valor nominal está muito acima do valor real (que pode ser definido como aquele valor em função do qual estamos dispostos a nos sacrificar para adquirir o bem). Esse desequilíbrio é muito perigoso e pode resultar naquilo que se convencionou chamar de "bolha", que não é mais que um retorno do valor nominal para perto do valor real. A hora de comprar imóveis certamente não é essa, mas em todo caso não é possível definir com precisão o instante da quebra. Existem poucos Nouriel Roubinis no mundo, embora este grande economista já tenha alertado o mercado brasileiro para o risco dessa bolha:

http://economia.ig.com.br/financas/casapropria/2013-11-29/nouriel-roubini-alerta-para-bolha-imobiliaria-no-brasil.html

A conclusão a que se pode chegar é a de que a moeda, ao ser manipulada, influi apenas no valor nominal dos bens, e que seu efeito sobre o valor real é neutro; ou seja, a economia real não é atingida pela moeda. O que se pode concluir é que a moeda não é mais que uma arma nas mãos de especuladores com o intuito de causar perturbações no mercado nominal.

Keynes tende a concordar que no longo prazo isso é verdadeiro, mas que no curto prazo o efeito da moeda na produção e no desemprego é devastador. Isso porque o que poderíamos chamar de "velocidade" da moeda, a rapidez com que ela é usada, não é constante: ela é maior nas expansões, com a inflação em alta, e menor nas recessões, com a inflação em baixa. Esse economista foi o primeiro a colocar objeções à Teoria Quantitativa da Moeda, ao afirmar que o dinheiro não é apenas uma ferramenta de troca, mas também opera como reserva de valor. Isso explicaria porque em períodos de alta inflação os ricos sempre saem ganhando, porque eles têm uma capacidade maior de poupar, e nesses períodos a moeda sofre grande expansão.

Seu grande opositor foi Milton Friedman, que defendeu a teoria de Bodin, ao afirmar que o anseio das pessoas por um equilíbrio monetário real, aquele no qual o preço real prevalece, depende da capacidade de barganha, ou melhor, do poder que o indivíduo tem em negociar em seu favor; em última análise, da sua riqueza. Isso para nós é muito claro; somos mais poderosos quando temos dinheiro no bolso.

Hoje temos um fenômeno novo, em que os bancos centrais imprimem moeda eletrônica e a usam para comprar a dívida do governo. Estranhamente essa enxurrada de moeda não acarreta em aumento da inflação, porque a economia mundial se encontra muito debilitada. Esse dinheiro extra tenta manter a oferta da moeda em alta, mas o que se vê é que boa parte dessa emissão acaba migrando para atividades especulativas, o que a Dilma e o seu escudeiro chamam de Tsunami.

Parece que, com o retorno aos trilhos da economia americana, esse artifício tende a deixar de ser usado, e aí também vai haver chiação dos nossos Houdunis econômicos porque os dólares tenderão a cair fora daqui, e seu valor vai ter que subir em relação ao Real.

Observação: Aceito de bom grado qualquer reclamação sobre os conceitos emitidos em uma matéria que confesso ser apenas um curioso. Mas é assim que eu entendo esses fenômenos e me apraz apresentar o meu ponto de vista.




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