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O Desprezo do Governo com os Idosos

Existem duas formas das sociedades lidarem com o idoso:

  • uma é considerar que ele estatisticamente está perto de morrer e relegá-lo ao esquecimento;
  • outra é considerar que ele conseguiu viver muito, logo deve ser respeitado pela experiência que adquiriu e que está à disposição dos mais jovens para transferi-la a eles.
A formas como as sociedades tratam esse assunto define muito bem o seu grau de evolução. O papel do avô é fundamental na formação do jovem, por ele ser muito menos suscetível às pressões do dia a dia. Já disse em algum Post que eu teria sido muito melhor Pai se tivesse sido Avô primeiro.

Pois bem, o governo acaba de brindar os idosos desse país com mais uma prova do total desprezo com que eles são tratados. Desde 2006 os aposentados e pensionistas têm recebido no início de setembro um abono que corresponde à metade do 13o salário. Dois dias antes das manifestações de domingo, na sexta feira, dia 14/08, surgiu essa novidade: esse ano não vai ser assim. 

Absolutamente todos os aposentados e pensionistas estão contando com esse alívio que era proporcionado pelo adiantamento. Estamos a 15 dias dele, e ele não vai acontecer. Assim, sem mais nem menos. Como diria a minha empregada, "é muita falta de desconsideração". 

O adiantamento é praxe em todo o país. Nas empresas em que trabalhei ele era pago no meio do ano ou quando o empregado saía de férias. É evidente que ele não é obrigatório por lei, mas tentem encontrar uma classe menos favorecida nesse país que a dos aposentados e pensionistas do INSS. Vai ser difícil encontrar, e para piorar as coisas, puseram no ministério que cuida deles uma pessoa que não tem por eles menor consideração. Senão vejamos:

Carlos Gabas, ao ser perguntado sobre a aprovação por parte da Câmara da correção de todas as aposentadorias pela fórmula do salário mínimo, que é a inflação mais o PIB de dois anos anteriores, respondeu:

"Não é possível que você vincule uma coisa que não tem relação com a outra. Mais que o impacto, calculado em R$ 9,2 bilhões. A lógica está equivocada"

Como assim, caro guardião da nossa classe? Não foi exatamente o salário mínimo que definiu o valor da minha aposentadoria? Não fui eu quem comecei recolhendo sobre 20 salários mínimos, que depois passaram para 10, e hoje recebo pouco mais que três? Torço pra não ter que viver o suficiente para ter que receber um único salário mínimo de aposentadoria, o que para mim seria a comprovação do total desprezo com que sou tratado. Por que o empregado na ativa merece mais consideração que eu, que trabalhei por 40 anos e recebo menos que quem se aposenta hoje? Que política social é essa que privilegia quem trabalha e despreza quem já trabalhou?

Esse procedimento tem um paralelo interessante nas empresas prestadoras de serviço. Vejo na televisão um anúncio da "MET" propondo um pacote ser serviços "Combo" (TV, telefone e internet), que é mais barato que aquele que estou pagando. Ligo para ela e peço para transferir o meu pacote e recebo a resposta que ele só vale para os novos assinantes. O mesmo acontece com a "TRIM". Não é de uma desonestidade enorme tratar o cliente antigo com menos consideração que o futuro cliente? Que empresa honesta agiria dessa forma? Respondo: todas as prestadoras de serviço, mais o INSS.

Pro meu desgosto fico sabendo que essa injustiça está sendo usada como arma na briga do Senhor Cunha com a Senhora Dilma, sabe-se lá com que propósito. É claro que nada vai sair daí, já que a intenção nunca foi resolver o nosso problema. 

Senhor Gabas, R$ 9,2 bilhões não são nada perto do que o seu governo está fazendo com o BNDES, com a Petrobrás, com os Fundos de Pensão das Estatais, com os seus 39 ministérios. 

Tenho dito.  

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