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Países Pacíficos e Países Violentos

O Instituto para Economia e Paz (IEP) ( http://economicsandpeace.org/ ) acaba de publicar a 10ª edição do Índice Global da Paz (GPI). Esse índice é formado por 23 indicadores qualitativos e quantitativos e cria um ranking entre 163 Estados e Territórios Independentes, o que corresponde a 99,7% da população mundial.

Os resultados não são animadores para nós: o Brasil se encontra na 105ª posição, ou seja é o 59° país mais violento do mundo. O pior é que, na América do Sul, só somos suplantados em violência pela Venezuela (143°) e Colômbia (147°), e temos Chile (27°) e Uruguai (35°) entre os mais pacíficos.

Os Campeões da Paz são Islândia, Dinamarca, Áustria, Nova Zelândia, Portugal, República Checa, Suíça, Canadá Japão e Slovênia.

Os Campeões da Violência são Síria, Sudão do Sul, Iraque, Afeganistão, Somália, Iêmen, República Centro Africana, Ucrânia, Sudão e Líbia.

É quase irônico que o país que nos descobriu, colonizou e nos deu o primeiro regime de governo é o 5° país mais pacífico do mundo, 100 posições à nossa frente. Portugal acaba de ser eleito o melhor país do mundo para se visitar. E nós não aprendemos nada com os nossos "pátrícios", e tendemos a fazer ironia com as nossas raízes.

O relatório é muito interessante, e aqueles que tiverem tempo e paciência devem dar uma olhada nele:

http://static.visionofhumanity.org/sites/default/files/GPI%202016%20Report_2.pdf

Vamos no entanto tentar tirar algumas conclusões rápidas do mesmo:
  • A Europa, com 36 países, possui 28 entre os 50 mais pacíficos do mundo. Isso chega a ser surpreendente em função do passado de violência que grassou nessa região há menos de 100 anos, mas esse desempenho pode ser exatamente resultado desses conflitos. Pena que estamos agora mesmo passado por uma onda de retorno forte do nacionalismo, o que pode ter consequências ruins.
  • A América do Norte, com dois países na geografia do IEP, tem o Canadá em 8° lugar e os Estados Unidos em 103° (!), apenas duas posições acima de nós. Não é o que pensam os brasileiros que decidem se  mudar pra Miami, porque a violência americana é diferente da nossa. 
  • Ásia e Pacífico, com 19 países, têm 8 entre os mais 50 pacíficos. Talvez o nome do oceano tenha ajudado nesse resultado.
  • América Central e Caribe, com 12 países, só têm 2 entre os 50 mais pacíficos, com o México em posição muito ruim (140°).
  • A América do Sul, com 11 países, tem apenas 2 entre os 50 , sendo que nós ocupamos a "honrosa" 9ª posição na região. 
  • A África Sub Saariana tem um número enorme de países (44), mas surpreendentemente possui oásis de paz, e entrou com 7 países entre os 50 mais pacíficos (15,2%).
  • Rússia e Eurásia, com 12 países, estão fora dos 50 mais pacíficos.
  • O Sul da Ásia, com 7 países, se salva com o Butão (13°).
  • O Oriente Médio e o Norte da África se salvam com o Qatar (34°).
Ainda segundo o relatório, a violência acarreta um custo de 13,3% da atividade econômica mundial, um montante de 13,6 trilhões de dólares (11 vezes o volume do investimento global direto em países estrangeiros). Cada cidadão do planeta poderia ser agraciado com US$ 1.876 em um mundo desprovido de violência.

Em 2016 o mundo se tornou menos pacífico, com o Índice Global da Paz (GPI) decrescendo de 0,53%, muito embora 81 países tenham melhorado seus índices e 79 o tenham deteriorado. Isso se deveu ao fato de a segurança e os conflitos terem se deteriorado, embora tenha havido um decréscimo na militarização. O impacto do terrorismo aumentou em 77 países, tendo diminuído apenas em 48, sendo que somente 37 dos 163 países não estão expostos ao terrorismo.

Entre os países que melhoraram seu índice, destacam-se o Panamá, Tailândia, Sri Lanka, África do Sul e Mauritânia. Entre os que pioraram fortemente temos Iêmem, Ucrânia, Turquia, Líbia e Bahrain. Entre os que tiveram forte melhora, ela se deveu a um aumento da paz interna, nos indicadores relacionados aos conflitos internos.

Foi feita uma comparação entre os números de 2008, quando se iniciou o GPI, e os de 2016. Os resultados foram um tanto desanimadores. Pioraram:
  • As mortes devidas ao terrorismo, que aumentaram de 286% (32.715 contra 8.466)
  • As mortes em batalha, que cresceram mais de 5 vezes (101.406 contra 19.601)
  • O número de refugiados e pessoas deslocadas internamente cresceu de ~33 milhões para ~57 milhões.
Melhorou:
  • 106 países reduziram seus gastos militares (65% do total)
Minha posição sobre o que li nesse relatório é a de que o ano que vem deve trazer surpresas. e elas estarão fortemente dependentes do que vai acontecer na política das grandes nações. Por exemplo:
  • Donald Trump precisa perder as eleições. Uma eventual vitória republicana vai causar um stress muito grane nas relações dos Estados Unidos com os muçulmanos e com os latinos, pra começo de conversa. Ela vai também afetar os amigos tradicionais da política americana. Não que eu goste da Hillary. mas sua experiência passada na política externa a faz menos capaz de fazer bobagem, As bobagens que Trump vai fazer já estão declaradas por ele, embora promessas eleitorais não sirvam muito como certezas. 
  • A Grã Bretanha precisa, em consequência do Brexit, sofrer fortes efeitos negativos. Isso deve servir como alerta para os países que estão pretendendo seguir os seus passos. Uma eventual acomodação a economia servirá como estopim para os movimentos populistas
O ocorrido na Grã Bretanha na verdade é um fenômeno universal. Segundo Tony Blair, no Estadão de 28/06, movimentos de esquerda e de direita têm se apresentado como porta vozes de uma revolta popular contra o establishment político. Esses movimentos existem em todo o mundo, inclusive no Brasil. O que não se esperava era eles poderiam se apropriar de um país tão importante politicamente quanto a Grã Bretanha. 

A coisa funciona mais ou menos assim: os líderes desses movimentos são considerados gente como nós. No caso Brexit eles passaram a chamar a classe política de "especialistas", e aqueles que advertiam para o perigo da saída UE eram os "alarmistas". Imigrantes eram parasitas que vinham tomar os empregos dos britânicos e usufruir benefícios, quando o que se sabe é que os imigrantes recolhem mais impostos que o valor que usufruem em benefícios sociais. Os políticos perderam o poder de persuasão, e a esquerda se uniu à direita para atacar imigrantes e investir contra o mercado (diga-se banqueiros). Mal sabem eles, e isso a Dilma poderia ter lhes ensinado com o seu estilo professoral, que as resposta fáceis a esses problemas não funcionam. Haja visto o o caso brasileiro. 

O Brasil durante anos foi guiado por essas ideias. As pessoas insistiram em fazer algo que não parecia sensato nem prático, e isso vai nos levar a um prolongado período de dificuldades. O mesmo está ocorrendo no Reino Unido, corre o risco de ocorrer nos Estados Unidos e dependendo do que emergir por lá, pode se espalhar a nível global. 

Vamos torcer para que isso não ocorra, senão esses relatórios vão dar resultados muito piores. 

Obs: Vou viajar no começo de julho. Devo voltar ao blog por volta do dia 15. 





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