Todo ano, quando julho se aproxima, a chama que ainda bruxuleia faz um esforço de voltar a arder com força. A mente se volta para o sul do Maranhão. mais precisamente para Carolina, e comanda o corpo nessa direção.
Isso acontece há 70 anos. Em 1946 meu avô, em visita a Belém, conseguiu convencer meus Pais a me levar com ele para passar férias em Carolina. Eu tinha 3 anos de idade. Viajamos a bordo de um DC3 da Cruzeiro do Sul, com escala em Marabá, por sinal terra da minha Mãe. Os motivos que me atraem a Carolina variaram com o correr dos anos, mas seu grau de importância não mudou. Na infância foi a vontade de me reunir com os primos e tios, na juventude foi uma paixão por uma prima distante, com quem quase me casei. Já Pai de família me vi na obrigação de transmitir às minha filhas esse sentimento, sem muito sucesso. Os anos se passaram e o que aconteceu foi que da geração anterior à minha sobrou em Carolina apenas uma Tia. Diana, 91 anos casada com Nelson, irmã mais nova de meu Pai Abílio, que faleceu em 2011 aos 100 anos de idade.
Isso acontece há 70 anos. Em 1946 meu avô, em visita a Belém, conseguiu convencer meus Pais a me levar com ele para passar férias em Carolina. Eu tinha 3 anos de idade. Viajamos a bordo de um DC3 da Cruzeiro do Sul, com escala em Marabá, por sinal terra da minha Mãe. Os motivos que me atraem a Carolina variaram com o correr dos anos, mas seu grau de importância não mudou. Na infância foi a vontade de me reunir com os primos e tios, na juventude foi uma paixão por uma prima distante, com quem quase me casei. Já Pai de família me vi na obrigação de transmitir às minha filhas esse sentimento, sem muito sucesso. Os anos se passaram e o que aconteceu foi que da geração anterior à minha sobrou em Carolina apenas uma Tia. Diana, 91 anos casada com Nelson, irmã mais nova de meu Pai Abílio, que faleceu em 2011 aos 100 anos de idade.
O quadro acima, encomendado pela Claudia, neta da Tia Diana, a morena com flor no cabelo, mostra com abundância de detalhes o que sinto por Carolina. Nele temos Diana e Nelson sentados. Diana, muito católica, tem um rosário na mão esquerda e um gato a seus pés. O Tio Nelson, como se vê, é viciado em dama, que eu acho que ele finge ainda jogar, pois está com a visão bem comprometida (ele é o xodó da minha mulher Climene). À esquerda temos meu primo Nelsinho e sua mulher Amélia. O casal tem uma "filha", Lili, que Nelsinho leva no colo. Nelsinho tem uma bela lancha, gosta de pescar e de fazer churrasco, no que é acompanhado pela Lili. À direita minha prima Luzia Helena, seu marido Cláudio, e os filhos José Renato e Cláudia. Esse lado do quadro vai crescer em breve, pois Zé Renato encontrou a doce Marina em São Luis e já está a caminho o primeiro bisneto da Tia Diana.
Fora isso temos o entorno: a Igreja Matriz, a casa da Tia Diana, o Tocantins, que dobrou de largura devido à represa do Estreito, a balsa cruzando na direção de Filadélfia, do outro lado do Tocantins, levando caminhões cheios de soja e carros, o tucano, as flores e o sol. Nos oito dias em que estive lá neste julho a temperatura máxima nunca foi menor que 37°C.
Em Carolina se encontra o Parque Nacional da Chapada das Mesas, com 1.600 km2, Esse lugar é sagrado, e dá a Carolina a alcunha de Paraíso das Águas, bem como o seu melhor cartão postal, o Morro do Chapéu:
A profusão de Cachoeiras em Carolina é tão grande que acho que ninguém sabe, ou saberá, ao certo o seu número:
Elas existem pra todos os gostos, e isso leva à Chapada das Mesas um grande volume de turistas. Existem boas Pousadas e recentemente foi inaugurado o Complexo Turístico da Pedra Caída, na BR 230, a 35 km de Carolina.
Mas voltemos à família, que por sinal se chama Maranhão. Meu Pai era o irmão mais velho que um grupo de 8 irmãos: Abílio, Eunice, Rossini, Gilberto, Orlando, Genésio e Diana. Alcina, mais velha que meu Pai, faleceu cedo e eu não cheguei a conhecê-la. Meu avô Diógenes era figura proeminente na cidade, e recebeu os comandantes da Coluna Prestes em sua Residência. Dele a Coluna tirou tudo e o deixou na miséria, com a casa e terras apenas. Ele foi salvo pelo aparecimento da companhia aérea Cruzeiro do Sul, que o nomeou gerente em Carolina. Ele também recebia para abastecer e dar janta os aviões da PanAm que faziam a rota Rio - Nova York (foi no aeroporto de Carolina que travei conhecimento com a língua inglesa). Minha avó Ana, a Donana, viveu 97 anos, menos que sua irmã Elisa que acho que chegou a 105. Tia Eunice faleceu recentemente aos 102. Ou seja, essa turma vive demais, e eu cheguei à conclusão que isso se deve ao forte calor do sul do Maranhão, junto com a comida rica em gordura animal.
Meu organismo não está mais acostumado à dieta carolinense e sofre um pouco com a quantidade de bucho de bode, chambaril (osso buco), rabada, panelada, sarapatel, carne de sol. galinha caipira, frito de farinha de puba, e outras iguarias que o Nelsinho e a Assunção, secretária da Tia Diana, preparam.
Tia Diana era muito chegada ao meu Pai, e com a morte dele eu acho que uma parte significativa desse afeto se transferiu para mim. Junto com isso veio uma espécie de compromisso que assumi de dar à minha Tia querida uma retribuição a esse sentimento. Retribuição não é a palavra correta porque não há nada mais autêntico em mim que a vontade de visitá-la em julho. Minha prima Luzia até mencionou, na festa que fizemos semana passada para comemorar os 91 anos de sua Mãe, que eu sou um dos culpados por essa comemoração em julho do aniversário de uma pessoa que nasceu em maio.
Luzia e Nelsinho moram em Araguaína, To, a 100 km de Carolina. Em Carolina só restam Diana, Nelson e minha querida prima Ana Maria, com quem na infância eu comia melancia junto com sua irmã Haidee e outros primos. Meu avô partia uma imensa melancia ao meio e dava uma colher a cada neto. Ana nessa última estada em Carolina me brindou com mais um "segredo de família" que me aproximou ainda mais dela.
As coisas não permaneceram as mesmas nesses 70 anos. A foto abaixo mostra minha esposa Climene nadando no meio do Tocantins, cerca de 12 metros acima da Ilha dos Botes, a meu ver o melhor ponto turístico de carolina, que foi afundado pela Hidrelétrica do Estreito:
As coisas não permaneceram as mesmas nesses 70 anos. A foto abaixo mostra minha esposa Climene nadando no meio do Tocantins, cerca de 12 metros acima da Ilha dos Botes, a meu ver o melhor ponto turístico de carolina, que foi afundado pela Hidrelétrica do Estreito:
Enfim, é o preço do progresso. Paciência. O esforço em transformar Carolina em um polo turístico é grande. Já foi criado um Museu da Cidade, que traz documentação farta sobre sua história, a qual foi truncada com a transferência da rota norte - sul do Rio Tocantins para a estrada Belém Brasília. As casas antigas quase todas possuem uma placa que descreve a história de seu dono. Pena que nesse caso pouco cuidado tenha sido dedicado tanto à língua portuguesa como, e principalmente, à inglesa:
Não iria terminar este Post sem mencionar as famosas garrafadas à venda no Mercado de Carolina, fortemente recomendadas por Tia Diana. Dessa vez trouxe comigo:
- 4 "Cura Tudo". Composição: espinheira santa, alcachofra do norte, artemísia, carqueja amarga, castanha da Índia, cavalinha, chapéu de couro, ipê roxo, jurubeba e salsa parrilha. Indicações: gastrite, úlcera, pedra nos rins, fígado, hepatite, circulação, ácido úrico, pressão alta, varizes, reumatismo, prisão de ventre, hemorróidas; é vermífugo e um excelente regulador do estômago, auxiliar no controle de diabetes e nos regimes de emagrecimento.
- 2 "Xarope de Angico". Composição: jucá, romã, gengibre, jatobá, ácido úrico, eucalipto, óleo de pequi, mentol, copaíba, andiroba, sucupira. Indicações: afecções das vias respiratórias, falte de ar, gripe, resfriado, tosse, faringe, bronquite, pneumonia, rouquidão e dores de garganta.
- 1 "Extrato de Raízes Gotas do Zeca". Composição: segredo do Zeca. Indicações: Para todas as moléstias do estômago, fígado, intestino, tonteiras, desarranjo intestinal, insônia, dor de cabeça, peso e dores no estômago, cólicas hepáticas e outras perturbações do aparelho digestivo.
No aniversário da Tia fiquei "empanzinado" de tanto comer churrasco de carneiro com frito de carne de sol. Minha prima Luzia resolveu facilmente o problema com uma colher de sopa de Cura Tudo dissolvida em meio copo d'água.
Que bacana...Belo Texto e História
ResponderExcluirSaudades da Ilha e de Caroina...
Grande Abraço✌😉
Artur Vinícius Fragoso da Luz
Caro Artur
ExcluirImpressionante que 4 anos depois de publicado esse Post recebe seu primeiro comentário, isso embora ele tenha tido 1576 acessos.
Minha família do lado paterno é de Carolina, meu tio Genésio foi prefeito duas vezes, e eu aos 77 anos pretendo estar lá em Julho do ano que vem, se a Covid deixar.
Andei investigando com as minhas primas Luzia Helena e Ana Maria e elas acham que minha tia Teresa, casada com meu tio Orlando, era uma Fragoso da Luz. Isso me faz imaginar que você deve ser do outro lado do rio.
Obrigado por ter tido o trabalho de fazer um comentário sobre o que escrevi.
Um grande abraço.
Caro, Luiz. E somente agora que por a Caso descobri que havia a tua resposta ao meu comentário rs, que honra. Moro em SP e vc? Eu já tenho quase 10 anos que não voltei lá na terrinha❤️, breve e com os Poderes do Altíssimo estarei por lá. Bom, esperou que tu estejas bem e grandiossissimo abraço.
ResponderExcluirAtt. Artur