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Sobre o Suicídio de Jovens

O Brasil não pode ser acusado de ser um país sem assunto, e com tanto assunto a ser discutido, resolvemos abordar um que, a nosso ver, tem uma mínima possibilidade de ter uma solução a nível familiar, já que aqueles de Brasília fogem totalmente do nosso controle: o Suicídio de Jovens.

Para tanto é absolutamente necessário que não se condene apenas o mensageiro, ou como se diz comumente, que não se culpe a casca de banana que foi colocada na beira do precipício. Estou me referindo ao viral Baleia Azul, que se supõe que incentive suicídios. 

As primeiras informações sobre esse jogo dão como origem o Facebook russo Vkontakte, mas em seguida entidades denunciaram o caso como "fake news". O viral avançou, e os participantes aparecem em grupos fechados, selecionados de madrugada, com "curadores" que lançam desafios com hora marcada (4:20), que incluem as mais variadas atividades, desde desenhos até situações de risco, que passam por mutilações e estímulo ao suicídio. 

Acontece que quem for se preocupar com a Baleia Azul estará vendo apenas a ponta do iceberg que ameaça os nossos jovens. O nome do jogo certamente vem do fato de nós os humanos considerarmos certas atitudes desses mamíferos como suicídio, mas segundo o Instituto Dimicuida ( http://www.institutodimicuida.org.br/ ) existem hoje na Internet pelo menos 19 mil (!) vídeos que estimulam agressões e automutilação. Segundo Demétrio Jereissati, pai de um adolescente suicida, que criou o site, "vivemos em uma realidade em que adultos não sabem lidar com o que os filhos acessam. Há interesses econômicos profundos. Quanto mais curtidas, mais visibilidade. Quanto mais visibilidade, mais dinheiro. Ninguém quer restringir a liberdade de expressão, mas há vidas sendo colocadas em risco". 

O que vemos é a propagação de vídeos e desafios, com a promoção de práticas de alto risco para a saúde do corpo e da mente. O público é em sua maioria de adolescentes entre 11 e 17 anos, e torna-se necessário o enquadramento desses vídeos como indução à morte, crime previsto no nosso Código Penal. A psicóloga Fabiana Vasconcelos, também do Dimicuida, cita um canal com mais de 6 milhões de inscritos, como sendo o principal propagador dessa nova moda: " se eu, jovem, vejo que um adolescente ganha dinheiro fazendo prática de risco na Internet, vou segui-lo e fazer igual". 

Enquanto nossas autoridades discutem o sexo dos anjos, tentando interpretar as dubiedades do Marco Civil da Internet no que tange a responsabilidade pelo conteúdo, as famílias têm que se preparar para enfrentar esse problema. Os números são assustadores. Segundo a Veja de 26/04, nos Estados Unidos o suicídio é a segunda causa de morte de adolescentes entre 15 e 19 anos, atrás apenas dos acidentes, com 1700 casos. No Brasil são estimadas 667 mortes por ano. 

Dados oficiais de 2.012 dizem que o índice de suicídios de jovens até 29 anos no Brasil foi de 6,9 casos para cada 100 mil habitantes, uma taxa relativamente baixa se comparada com os países que lideram esse trágico ranking. Índia, Zimbábue e Cazaquistão têm mais de 30 casos, e nós ainda somos o 12° na lista dos países latino americanos. Mesmo assim, se levarmos em conta uma população de 200 milhões de habitantes, chegamos ao número de 13.800 suicídios de jovens até 29 anos em 2.012 no Brasil, ou 52 por dia. ou 2,2 por hora. 

Só que esses números cresceram, principalmente nas faixas de idade menores. Segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2.012 se suicidaram 803.900 pessoas, com a distribuição etária mostrada no gráfico abaixo, distinguindo países de alta renda dos de baixa renda:



Abaixo temos que foram considerados 55 países de alta renda com um total de 197.200 suicídios (25%), e 139 países de baixa renda com 606.700 suicídios (75%). Os 26 países latino americanos contribuíram com apenas 4% desse total, ou 32.200 suicídios.


Podemos creditar esses valores baixos ao fato que nossas religiões consideram o suicídio um pecado sem perdão, que te remete diretamente ao inferno, sem direito a segunda instância. Me lembro agora de uma aula de religião que tive na minha adolescência, quando eu levantei a questão que um suicida que se lança do alto de um edifício pode ter tempo suficiente para pedir perdão e ter acesso aos serviços da igreja no seu funeral.

Mas isso é outra história. Estou divergindo do assunto principal. O grave dessa nova moda é que, com certeza, o pico de 20 anos de idade para suicidas jovens vai certamente se desviar para a esquerda no primeiro gráfico, ou já se desviou. Enquanto as autoridades culpam a banana colocada no precipício, é necessário que, em nossas casas, consigamos nos aproximar dos nossos jovens com algum sucesso, sem alarde, para sabermos até onde está o seu envolvimento com essas práticas. 

Um psiquiatra da USP, em entrevista no Estúdio I na semana passada, a meu ver indicou o caminho das pedras. A abordagem do assunto deve ser a mais informal possível, e a estratégia serve também para outros assuntos tabu tais como sexo, etc. Vamos fazer um breve ensaio de como se comportar numa situação como essa:

Cena 1: almoço de família com filhos adolescentes:

Pai: Mulher, fiquei sabendo dessa história de sites e vídeos que convidam nossos jovens a assumir situações de risco físico e mental, inclusive com recompensas que variam com quão longe eles vão nas suas tarefas. Você já ouviu alguma coisa sobre isso?

Mãe: Minhas amigas têm mencionado esse assunto na academia. Também estou um pouco preocupada.

Pai: É. O que me preocupa são os números e o fato de quase nada estar sendo feito a respeito pelas autoridades. Fiquei sabendo de pais que perderam filhos e criaram sites que denunciam essas práticas. 

Cena 2: almoço dias depois:

Pai: Mulher, tentei encontrar sites de denúncia e me dei mal. Sou ruim nessas buscas. 

Mãe: Temos em casa um expert nisso. Filho, você pode dar uma mão ao seu Pai nisso, não pode?

e por aí vai. É absolutamente necessário que aquele espírito de camaradagem entre Pais e Filhos seja ressuscitado, e nada como a Internet, para colocar o Filho numa posição superior à do Pai quando o assunto é ela própria. Meus netos de 11 e 12 anos me dão verdadeiros banhos quando tratamos disso, a começar com a agilidade com que eles usam os dois polegares para mandar mensagens no ZapZap.

Brincadeiras à parte, ainda segundo a OMS, para cada caso fatal há pelo menos 20 tentativas fracassadas. Como já foi dito, apenas os acidentes de trânsito matam mais, e se analisarmos as diferenças de gênero, o suicídio ganha dos acidentes entre as mulheres.

Além de uma aproximação com os filhos, atenção deve ser dada a mudanças sutis, tais como mudanças no ambiente familiar ou escolar, e crises de identidade sexual. Elas trazem consigo sinais iniciais de alteração de comportamento, que não devem ser ignoradas. 

O sensacionalismo da mídia também tem que ser levado em conta. Ele encoraja imitações. A Veja de 26/04 acaba de trazer uma reportagem sobre a nova série da Netflix, "13 Reasons Why", que trata da questão do suicídio de uma adolescente, Hannah Baker, que grava em 13 fitas cassete as 13 razões que a levaram a se suicidar. A série caiu como uma bomba sobre o publico adolescente, e resultou nas mais variadas reações por parte dos pais. Entendo que esta é uma ótima oportunidade de assistir em família à série e discutir com os filhos os 13 motivos, em profundidade. A proibição vai apenas atiçar a curiosidade dos que ficam sabendo dela através dos colegas. 

Caso não venha a ser tratada como deve, a série pode vir a se tornar o Werther do nosso século. Publicado em 1774, esse livro conta a história de um jovem que se suicida por amor, e desencadeou uma série enorme de suicídios na época, quando adolescentes de vestiam como Wherter e deixavam o livro aberto na passagem fatal. A Netflix tomou o cuidado de divulgar o telefone do CVV (Centro de Valorização da Vida) no episódio final, mas eu ainda acho que o melhor a fazer é a família inteira assistir a todos os capítulos.

Não que eu tenha sido o Pai exemplar com as minhas filhas. As oportunidades profissionais que tive me afastaram de cada por vários anos. Ainda bem que naquelas tempos ainda não havia a Internet. 

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