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Sobre a Mobilidade Moderna

As mudanças nos serviços de mobilidade estão acontecendo numa rapidez que deixam pra trás pessoas como eu, nascidas na primeira metade do século passado, que se estressam ao embarcar nessas facilidades e preferem se manter no regime antigo.

Hoje mesmo vou fazer check-in em um voo da Azul para Goiânia via Internet, mas não vou me arriscar a jogar o bilhete no meu Apple; vou imprimir-lo junto com o da minha Esposa, gastando papel e tinta da impressora. Paciência. Enquanto essa opção for oferecida eu acho que fico nela, a não ser que algum neto meu me ensine como fazer essa mudança de hábito. Aliás, fazer check-in no computador eu acho que já foi um passo e tanto. 

Acontece que essas mudanças chegaram pra valer e estão invadindo nossas vidas de forma definitiva. Dia desses passei 4 dias no Rio e cometi a proeza de não gastar um centavo em papel moeda. O Uber, o Booking e os cartões de crédito se encarregaram de me deixar mais à vontade nessa cidade que eu tenho sempre o prazer de revisitar. 

Já que as mudanças chegaram mesmo, nada como tentar estudá-las e ver se conseguimos tirar informações que nos permitam lucrar com delas. O Estado de São paulo de 11 de agosto trouxe informações interessantes que eu resolvi expôr aqui, pela surpresa que tive em saber que problemas que enfrentamos no dia a dia já possuem soluções de startups muito inventivas. 

Segundo a reportagem hoje devem existir no País algo em torno de 200 "autotechs", empresas que atuam em serviços ligados ao setor automobilístico. A mudança nessa área vai com certeza acontecer, já está acontecendo, o que vai alterar de forma definitiva o nosso comportamento no que se refere à forma como nos locomovemos em terra. 

Entre os serviços descritos na reportagem escolhi 3 que me interessaram mais como cliente. São eles:

1 - Seguro sob demanda

Meu Pai teve um amigo que tinha tanto medo de viajar de avião que toda vez que tinha que se submeter a esse sacrifício embarcava a mulher em um voo e seguia em outro. Mais que isso: na véspera de uma viagem contratava um seguro de vida do qual desistia de continuar pagando ao voltar de viagem. 

Trazendo esse raciocínio para seguro dos meus dois carros, concluí que eu pago seguro para um objeto caro que permanece uma enorme parte do tempo na minha garagem, já que não o uso mais para trabalhar e minha Esposa usa o seu profissionalmente apenas para dar aulas de piano em domicílio. O restante é ir ao supermercado, visitar amigos e passear esporadicamente. 

Pois bem, a startup Onsurance opera com seguro de veículos por tempo de acionamento desde abril de 2.018. Segundo ela o seu seguro pode vir a custar  entre 50% a 80% menos que o seguro convencional. Entrei no site https://onsurance.me/ e simulei o seguro do HB20X da minha esposa. Bom, eu já pago um seguro com uma seguradora tradicional, com bônus 7. Renovei este seguro em abril passado pagando um prêmio total de R$ 1.310 em seis prestações. 

O carro está avaliado pela tabela FIPE em R$ 53.200, o que significa que eu estou pagando algo como 2,5% do valor do carro com seguro. Meu bônus é razoável, nossas idades ajudam; enfim, fiz o teste na Onsurance por mera curiosidade. 

Entre as informações que tive que dar surgiu aquela que mais interessava: por quanto tempo por dia, em média, eu queria acionar o seguro. Coloquei que durante 3 horas por dia eu queria estar segurado. 

O resultado da simulação foi que eu devia pagar um crédito inicial de R$ 1.596, e que esse crédito, em uma média diária de uso de 3 horas, garantiria o seguro do carro por 17,9 meses. Fazendo as contas de outra forma, eu iria pagar R$ 1.073 por ano para ter o carro segurado em média 3 horas por dia. É claro que se esse número de horas por dia se revelasse menor o número de meses de vigência do seguro seria maior. Com uma hora por dia o Crédito inicial de R$ 1.596 se estenderia por 28,3 meses segundo a simulação, ou R$ 677 por ano. 

O carro segurado vai receber um dispositivo que será ligado para acionar o seguro e desligado quando o seguro não é necessário. Há uma taxa mensal pelo uso desse dispositivo, uma despesa adicional ao crédito inicial, de R$ 39,90. Isso vai se traduzir em R$ 480 adicionais por ano. A Onsurance garante que se você se esquecer de ligar o seguro o dispositivo vai chamar a sua atenção. 

A estratégia da Onsurance inclui iniciar sua operação nos Estados Unidos no ano que vem. Ela também acaba de fechar um contrato com uma frota de 40 mil veículos.

2 - Peça de Importado

Entre as manias que não consegui mitigar com a velhice tenho a de ter sempre por perto um Subaru. Já tive 6: três Outbacks três Foresters, todas compradas de segunda mão porque ninguém é de ferro pra comprar carro japonês zero. Minha Forester atual 2.010 está com 105 mil quilômetros, vale em torno de R$ 40 mil, e acho que vou ser enterrado com ela, porque para comprar um SUV que me dê uma percentagem do que ela me dá vou ter que desembolsar algo como cem mil reais, mais ela. 

Mas existe o problema das peças para as minhas Subarus. Já fiz importação direta no site https://www.subarupartsdepot.com/, já paguei uma nota absurda na autorizada Subaru daqui de Campinas para trocar uma turbina que não aguentou a nossa gasolina com excesso de álcool, mas agora descobri uma opção interessante para todos os que enfrentam esse problema. O site Canal da Peça (https://www.canaldapeca.com.br/) reúne um banco de dados de mais de 11,5 milhões de componentes disponíveis em mais de 400 revendas em todo o país. 

Anos atrás tive que ir pescar de Tucson porque minha Forester 2.006 estava com um coifa rasgada e tive que ir pro Araguaia só com tração dianteira, já que a SubaruParts demorou a me enviar a peça. Pois bem, entrei agora do Canal da Peça e achei um kit de coifa para a minha Forester atual ao preço de R$ 39,18:
O Canal da Peça funciona como um intermediário, uma espécie de Buscapé, entre o Clliente e a Loja. O negócio é fechado entre as partes. O que o site faz não é mais que facilitar a busca, que está concentrada em uma única ferramenta, poupando assim o Cliente de sair procurando a peça em vários sites.

3 - O AIRBNB das Garagens

Fui visitar uma pessoa São Paulo que não via há mais de 40 anos. Perguntei a ela se havia algum estacionamento perto do seu prédio na Jesuíno Arruda. Ela me indicou um na esquina da Av. São Gabriel. Chegando lá vi que se tratava de um estacionamento externo de um prédio residencial. Falei com o porteiro e ele me mandou entrar com o carro. 

Me lembrei que em 2.001, quando trabalhava em São Paulo, aluguei um flat na Teodoro Sampaio, quase esquina com a Oscar Freire. Um dia tive que voltar ao flat no horário de trabalho e vi que a minha garagem estava ocupada por outro carro. Reclamei com o porteiro e descobri que alguém alugava vagas não ocupadas em horários de expediente (Em tempo, a boa lembrança desse flat é que ele fica a 50 metros do Caverna Bugre, um restaurante que eu adorava frequentar para pedir o seu famoso Filé Alpino https://sonoma.com.br/explorar/receitas/receita-file-alpino-por-caverna-bugre)

Fiquei sabendo na reportagem que a startup Unpark conecta quem tem garagens desocupadas com quem precisa de local para deixar o automóvel. Sua plataforma tem hoje 125 mil vagas cadastradas, o que inclui casas, apartamentos, terrenos e até estacionamentos. Os locais são mostrados na tela do celular, junto com o valor. A reserva é feita, é feito um check-in e um check-out e o valor é descontado no cartão de crédito. O seguro está embutido no valor. 

Segundo a Unpark o objetivo é dar um novo significado aos espaços urbanos ociosos, gerando uma renda extra. Ela cita como exemplo um centro comercial em Osasco com 1.400 vagas em que foi fechado um contrato para disponibilizar 400 vagas no aplicativo. A Unpark lucra com parte do valor da locação.

4 - Mais uma, agora sobre viagens de ônibus

Estava quase despachando o Post quando me deparei com mais uma reportagem do Estadão de 28/08 sobre viagens de ônibus. Pois bem, 80 milhões de passageiros por ano é um número bom para atrair startups nesse setor até agora engessado na burocracia do século 20. 

Por exemplo, se você comprar uma passagem de ônibus pela internet não pode embarcar direto com ela na rodoviária. É necessário antes do embarque trocá-lo por um comprovante físico. Isso não ocorre com uma passagem de avião comprada na internet, e coube à ClickBus trazer esse procedimento para as passagens de ônibus. Fundada em 2013 e com 115 funcionários, essa startup promete vender mais de R$ 1 bilhão em 2019, com o argumento de que muita gente não comprava passagem pela internet porque seria um esforço dobrado: a compra da passagem e a troca na rodoviária.

O bilhete digital necessita de uma mudança nos procedimentos nas rodoviárias, o qual exige investimento, e essa mudança sofreu boicote pelas empresas que não queriam investir. A adoção de passagens eletrônicas só passou a ser encarada com seriedade depois que as Secretarias da Fazenda dos Estados mudaram a legislação nesse campo e tornaram obrigatória essa mudança. Em São Paulo ela ocorre a partir do ano que vem. 

A intervenção do poder público se tornou necessária porque havia a necessidade da emissão do cupom fiscal impresso, o que exigia que tanto o bilhete quanto o cupom fossem de papel. Então o usuário tinha que escolher entre fazer o trabalho dobrado de comprar pela internet e trocar por um bilhete cupom fiscal, e se arriscar a chegar na rodoviária e o ônibus estar lotado.

Mas a coisa não para por aí. A startup Buser faz a conexão entre o usuário e empresas de fretamento de ônibus, com os passageiros dividindo o custo da passagem. Os pontos de partida são shopping centers, postos de gasolina, etc. Esse verdadeiro Uber de ônibus já transportou mais de 200 mil pessoas desde a sua fundação em 2016, e já mereceu reportagem na revista Veja. Obviamente ele está sofrendo a pressão das empresas tradicionais que o acusam de transporte clandestino. O caso já foi parar no Supremo Tribunal Federal, e o argumento da Buser é que ela apenas intermedeia a relação passageiro - empresa. 

As gigantes do setor já acordaram para a novidade e a meta será ir além do bilhete eletrônico. O foco é a melhora no atendimento, por exemplo com o uso de robôs de conversa no WhatsApp e de algoritmos para entender os hábitos do cliente. Também está previsto o uso do Google Assistant e da Siri da Apple para a venda de passagens. 

Ou seja, aquelas empresas que entendem que fornecer Wi-Fi nos seus ônibus é o suficiente vão ter que rever seus processos. A crise pela qual estamos passando fez os passageiros iniciarem uma mudança do avião para o ônibus. Nos primeiros 4 meses deste ano o número de passageiros que encararam as viagens por ônibus cresceu 12% em relação a igual período do ano passado, 4 vezes mais que o crescimento das passagens de avião, que foi de 2,95%. Esse crescimento fez com que esse serviço passasse a ser encarado com mais seriedade pelas autoridades e pelos empresários. 

Comentários

  1. Prezado amigo, e vamos nos preparando para receber ofertas de chips a serem implantados sem dor alguma e que irão facilitar muito nossas vidas. Para nós ainda é uma opção, para nossos netos,
    provavelmente, haverá de ser um item de primeira necessidade.

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  2. Comentário vis WhatsApp de Vasco Costa:
    Realmente , você tem razão, a velocidade das inovações é assustadora para a nossa geração , não é possível mais entender o mundo em que vivemos , acredito que até as novas gerações tem uma certa dificuldade em conviver com tanta inovação . A nos resta contemplar e entender o que for possível do novo mundo que vivemos . Sem stress, de boa como diz a nova geração. Um grande abraço

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