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O Capitalismo de Estado no Brasil I

Tenho como regra não colocar minhas parcas economias em nenhum banco público. Já tive contas no banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, e a conclusão a que cheguei foi que para ser atendido por funcionário público basta o que tenho que passar nas filas dos postos de saúde, do INSS, do Ciretran, e outros quetais. Devo ressalvar aqui o excelente atendimento que me proporciona o Poupatempo, a perfeita idéia de Mário Covas que tem sido copiada por outros governos tucanos, como por exemplo o Vapt Vupt em Goiás. Em 2006, uma pesquisa do IBOPE revelou que 99% dos usuários aprovaram o atendimento prestado no Poupatempo, um verdadeiro milagre nesta selva burocrática dos serviços públicos no Brasil.

Pois não é que, lendo o Estadão, fiquei sabendo que a Caixa já investiu este ano 797 milhões de reais em mídia, num crescimento de 88,1% em relação a 2011? Enquanto isso o Itaú, o maior banco privado do país, investiu 334 milhões, ou 42% do investido da Caixa. Haja Camila Pitanga para nos chatear com a sua vozinha. Para se ter uma idéia mais clara das propostas desses dois bancos, a Caixa investiu em mídia 19% do seu lucro líquido de 4,2 bilhões de Reais, enquanto o Itau investiu 3,3% do seu lucro líquido de 10,1 bilhões de Reais. Isso em 2012.

Muito bem. E quais as grandes diferenças entre esses dois bancos? O Acordo de Basiléia, ratificado em 1988 por mais de 100 países, objetivou criar exigências mínimas de capital, que devem ser respeitadas por bancos comerciais, como precaução contra risco de crédito. Os cinco maiores bancos do país possuem os chamados Índices de Basiléia seguintes:
  • BB              15,2%
  • Itaú             17,4%
  • Bradesco    16,0%
  • Caixa          12,6%
  • Santander   22,1%
sendo que o mínimo recomendado para esse índice é 11%. Ou seja, a Caixa está correndo riscos. E que riscos são esses? Neste ano a expansão de crédito na Caixa atingiu 44%. Isso porque o seu controlador, o Governo Federal, baixou os juros, abriu o bolso e investiu pesado em mídia, como já foi visto acima.

Vê-se aqui que a estratégia da Caixa está fortemente ditada pela ideologia, e tem como objetivo final a dominação pelo Estado da atividade financeira no Brasil. Isso no banco que tem o pior atendimento entre os cinco maiores, como reconhece o seu presidente na mesma reportagem. Disse ele que "não basta trazer o cliente para a agência; ele tem que querer ficar". Ainda segundo ele, não há porque se preocupar com o baixo Índice de Basiléia, já que a Caixa não tem problemas em conseguir novos aportes quando necessários. É a viúva atendendo um banco público, novela tantas vezes repetida.

Temos visto nos Estados Unidos e na Europa que todo o dinheiro disponibilizado pelos Bancos Centrais não chega ao mercado, porque os bancos estão preferindo reaplicá-los em títulos do governo. A Caixa está seguindo exatamente o caminho contrário, seguindo a orientação de seu controlador, que de forma política quer manter o crédito elevado. O risco de inadimplência se torna alto, e a Caixa devia mostrar de onde tirou a idéia de liberar empréstimos quando todo o mundo o está restringindo.

O pior da história é que a linha de liberação de crédito praticada pela Caixa não é de boa qualidade. Tradicionalmente a Caixa era forte na liberação de crédito para a infraestrutura e o atendimento à pessoa jurídica, mas isso mudou e o forte hoje é o incentivo ao varejo.

A grande crise global pela qual acabamos de passar deu ao Governo credenciais para intervir de forma forte na economia. O resultado até agora foi o comprometimento da capacidade de crescimento do país. Os otimistas dizem que foram erros decorrentes da vontade de acertar sem dispor de quadros competentes para tal. Eu prefiro a versão de que se trata de pura ideologia, que se aproveitou da crise para colocar a tropa em campo.

A crise global pode sempre ser chamada a justificar os insucessos angariados por esses dois primeiros anos Dilma, mas aqui mesmo no nosso quintal temos bons exemplos de países que estão se saindo muito bem. No Chile por exemplo os investimentos estão em torno de 28% do PIB. A reação do governo à crise portanto se resume ao intervencionismo puro e simples, mudando regras e trazendo desconfiança ao investidor, comprometendo com isso o aporte de capital estrangeiro, tão necessário à modernização de nossa infraestrutura.

Um exemplo claro dessa política é o pacote intervencionista de barateamento de energia que o Governo está impondo. Ele quer ao mesmo tempo baratear o preço e aumentar a energia fornecida, numa equação que não fecha. Estou com a fatura da CPFL da minha casa, com vencimento em 09/11, na minha frente. O valor total é de R$ 184,17, mas vamos discriminá-lo:
  • Energia;          65,70
  • Transmissão     9,75
  • Distribuição:   40,20                                      Total Parcial:   115,65
Seguindo:
  • Encargos:                               12,13
  • PIS / PASEP                              1,33
  • Cofins                                        6,09
  • ICMS                                        45,07
  • Contribuição Custeio IP-CIP      3,90               Total Parcial:     68,52
                                                                               Total Geral:    184,17

ou seja, 37,20% do que eu pago na conta de luz consiste de encargos e impostos. Acho que esse assunto merece uma outra abordagem. Me aguardem.

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