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Lição Número Um: O Capitalismo

O austríaco Ludwig von Mises é considerado como um dos grandes defensores da liberdade econômica como suporte da liberdade individual, e um dos ícones da escola austríaca. Em 1958, logo após a queda de Perón, ele foi convidado pela Universidade de Buenos Aires para dar um curso de economia, na esperança de que suas aulas insuflassem na juventude argentina idéias novas após o período de sombras por que passou a nação vizinha. Sua esposa Margit compilou as seis lições proferidas, que foram condensadas em um livro, "As Seis lições", do qual eu tenho a sorte de ter um exemplar digital.

A Primeira Lição é uma defesa didática do Capitalismo. Tudo o que vou condensar aqui reflete o pensamento deste grande homem.

Antes do advento do capitalismo, a existência do homem praticamente não se alterava desde o seu nascimento até a sua morte. Se nascido pobre, pobre permaneceria até morrer; se rico, rico seria para sempre. Não havia brecha nesse estado de coisas. As indústrias primitivas existiam em proveito dos ricos e 90% da população européia trabalhava na terra e ainda não tinha nenhum aceso aos produtos gerados pela indústria.

Aconteceu no entanto que a população rural, a despeito da grande mortalidade infantil, ficou saturada e transbordou para as cidades, as quais se preocuparam em vetar a esses párias qualquer possibilidade de ocupação, e o resultado dessa política foi uma verdadeira ameaça ao sistema social vigente. A Inglaterra, por exemplo, tinha 6 milhões de habitantes, dos quais 2 milhões não passavam de indigentes.

Ao contrário do que pregam os esquerdistas de hoje, foi nesse caldo desesperador que surgiram as raízes do Capitalismo moderno; foi nesse ambiente que grupos começaram a organizar pequenos negócios com foco em produtos que pudessem satisfazer as necessidades dessa horda de proletários. Foi o começo da "produção em massa", que veio a se constituir na base da indústria capitalista. As novas indústrias passaram a produzir com vistas a corresponder às demandas de toda a população.

Em todos os países onde há um sistema de produção em massa, esse princípio permanece inalterado: as empresas de grande porte produzem para suprir as carências das massas, e dar-lhes ocupação, emprego, com o que elas se capacitam a adquirir esses produtos. Os empregados das grande fábricas são eles próprios os maiores consumidores dos produtos que elas fabricam. A pequena diferença que existe hoje é que, com a globalização, as sociedades que iniciaram esse processo galgaram outros estágios e hoje se dedicam mais aos aspectos de concepção e projeto, migrando as industrias para as áreas necessitadas de emprego braçal. Não devemos confundir isso com exploração e sim como um ato de levar o desenvolvimento onde ele ainda é carente.

Outro erro de concepção é aquele que dá às empresas um grande poder. Ela na realidade é inteiramente dependente da preferências daqueles que lhes compram os produtos. O poder de uma empresa repousa inteiramente nos seus clientes. Outro erro é imaginar que o crescimento de uma determinada empresa resulta em um monopólio que acaba por colocar os clientes nas mãos dessa empresa. A evolução tecnológica, principalmente na área das telecomunicações, mostrou que isso é uma grande inverdade. Trabalhei para uma empresa chamada Northern Telecom, uma gigante canadense que tinha uma enorme fatia do mercado global e hoje não existe mais. A Motorola hoje é um vestígio do que foi: a maior fabricante de celulares, desbancada pela Nokia, que hoje cede lugar para a Samsung e, quem diria, a Apple.

A essência do Capitalismo consiste em que cada homem tem o direito de servir da melhor forma o seu cliente, e foi esse conceito que resultou em dar ao proletariado meios de se desenvolver e crescer, com a população mundial atingindo níveis sem precedentes. A Inglaterra do século XVIII, com um território que só podia dar sustento a 6 milhões de pessoas, com 2 milhões passando fome, hoje desfruta de um padrão de vida na sua média maior que o que desfrutavam os ricos daquele tempo.

A resposta a ser dada aos contestadores do Capitalismo, segundo Mises seria: "A população mundial é hoje dez vezes maior que nos períodos precedentes ao Capitalismo. Se não tivesse sido criado, a população de hoje permaneceria a mesma, já que o proletariado não teria sobrevivido. Como você tem a probabilidade de 90% de ser um descendente de proletários, você hoje não existiria. Logo, sua existência é a maior prova do sucesso do Capitalismo".

De onde vem então esse ataque furioso ao Capitalismo? A falha maior atribuída aos primórdios do Capitalismo era a de que o padrão de vida dos trabalhadores era extremamente baixo. Mas as condições de vida do proletariado já eram escandalosas, e não porque o Capitalismo as forçava a esse estado de coisas: elas já existiam. As mulheres e crianças não deixavam a boa vida para ir trabalhar nas fábricas; as mães iam para as fábricas porque não tinham o que cozinhar em casa; as crianças porque estavam morrendo de fome. A prova disso é que entre 1760 e 1830, em 70 anos, a população inglesa dobrou, o que significa que, sem as fábricas, milhões de crianças teriam morrido, já que a população inglesa era estável. Foram as primeiras fábricas que supriram as necessidades de seus trabalhadores através da exportação de manufaturados e importação de alimentos, o que permitiu o crescimento da população.

A aristocracia é na realidade a grande inimiga do Capitalismo. Bismark, o famoso chanceler alemão, encontrou em Berlim um homem que havia trabalhado em suas terras e lhe perguntou: "Por que deixou minhas terras?". Segundo ele o homem respondeu: "Na aldeia eu não tinha um jardim onde eu podia sentar com meus amigos , tomar cerveja e ouvir música". Com toda certeza esta historia não seria contada da mesma forma pelos empregados de Bismark que migraram para a cidade. A verdade era que as indústrias pagavam salários muito maiores que o campo, a exemplo da migração que ocorreu no Brasil. O retorno ao campo só se deu após a profissionalização a agricultura, daí a agricultura industrial ser tão combatida em nosso país.

Nos países capitalistas de hoje a diferença entre as classes abastadas e a classe média só existe nas grifes: ambas têm acesso igual a alimento, roupa e abrigo. A diferença entre um rico e um pobre é que um tem um carro importado e o outro um nacional de segunda mão. Anteriormente ao Capitalismo o rico tinha sapato e o pobre NÃO. As investidas contra o Capitalismo partem da constatação de que os salários são pagos por pessoas diferentes das que trabalham no chão de fábrica. De fato existe uma minoria que consome sem trabalhar, e podemos livremente traçar todo tipo de teoria para explicar esse fato, mas a realidade é que todo consumidor tem, de um forma ou de outra, de ganhar dinheiro para poder exercer o consumo, e graças ao capitalista isso é tornado possível para todos. No fim das contas, quem paga o salário não e propriamente o capitalista e sim o consumidor, pela aceitação do maior ou menor do produto no mercado.

O termo "Capitalismo" foi cunhado por Karl Marx, não propriamente um simpatizante do sistema. Segundo Mises um simpatizante não teria criado uma designação mais apropriada. É a acumulação de capital por pessoas que não consomem tudo o que produzem exatamente o motor que aciona essa máquina poderosa que tornou possível a existência de uma sociedade altamente desenvolvida e saudável.

Cabe aos inimigos do Capitalismo, cuja densidade é maior nas áreas onde a exploração dos menos favorecidos permeia, e infelizmente a nossa América Católica é rica nisso, combater esse princípio basilar: se você acumular capital você progride, não não acumular, você morre. Para que você não morra os tiranetes inventam ferramentas de subsistência que fazem de você um grande defensor das políticas assistencialistas. Good night and good luck.

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