Pular para o conteúdo principal

O Equívoco Brasileiro

Como diria Ledo Ivo, a nossa Economia "patinha", anda como pato. Isso é resultado da forma equivocada como ela é conduzida pelo governo. O pressuposto principal, defendido pelo ministro que já devia ter sido demitido, é que basta estimular o consumo para que o PIB cresça, e todas as iniciativas econômicas foram nesse sentido: a desvalorização cambial, a queda dos juros, o aumento do crédito, a queda dos impostos dos produtos que possuem maior poder junto ao governo, como também uma pressão desmedida sobre o empresariado para que ele perca dinheiro investindo em uma batalha incerta.

O comportamento da indústria em 2012 foi de dar dó. Com o consumo em alta ela conseguiu a proeza de decrescer 2,9% nos 10 primeiros meses do ano, em relação aos do ano anterior. A verdade é que a nossa vocação produtiva sofre de um mal de origem, que foi criado com a reserva de mercado, iniciada com a Política Nacional de Informática, lei 7232, aprovada em outubro de 1984. Grandes investimentos foram feitos pelo Governo e pelo Setor Privado, cujo resultado foi pífio e acabou por engessar o desenvolvimento econômico do país. Houve inclusive acusações de pirataria contra empresas nacionais que copiaram descaradamente hardware e software de empresas estrangeiras, notadamente americanas. Tinha-se a ilusão de que o mercado era um bem a ser preservado apenas para as empresas brasileiras, que eram protegidas de forma totalmente artificial. Isso gerou ineficiência pelo simples fato de que essas indústrias não eram expostas ao crivo da competitividade.

Esse mal durou até 1991, quando a lei federal 8.248 decretou o fim da reserva de mercado, mas aí a nossa indústria já sofria de um raquitismo crônico, do qual ela não conseguiu se livrar, e eu temo que nunca venha a conseguir. Digo isso porque a reserva de mercado acabou no papel, mas a sua ideologia, originária na época da ditadura, teve como fiel seguidor justamente o partido criado na clandestinidade dessa ditadura com o intuito de combatê-la: o PT. Ela apenas mudou de nome e de procedimentos; hoje ela se chama "política de substituição de importações", e é uma praga que atormenta todas as iniciativas no sentido de tornar competitivas as nossas áreas produtivas.

Um exemplo claro é a indústria automobilística. A obrigação de conteúdo nacional é uma aberração numa época em que a globalização obriga o fornecimento de peças a se concentrar em um número mínimo de fornecedores. O novo regime automotivo, o Programa Inovar Auto, já possui 22 empresas habilitadas, a saber:

Hyunday Motor, Ford Motor, Fiat Automóveis, Renaut do Brasil, General Motors, MMC Automóveis (Mitsubishi), Peugeot Citroen, Toyota do Brasil, Volkswagen do Brasil, Honda Automóveis, Nissan do Brasil, MAN Latin America, Scania Latin America, Mercedes Benz, SNS Automóveis (JAC e Aston Martin), Iveco Latin America, Venko Motors (Chery), Caoa Montadora (Hyundai), Volvo Cars, SVB Automotores (Suzuki), Districar Importadora (Ssang-yong) e British Cars (Bentley e Bugatti).

E o que é oferecido a essas empresas? Uma reserva do mercado brasileiro maquiada em incentivos fiscais que tornará impossível a importação automóveis que não sejam dessas marcas. Mas elas não constituem a quase totalidade da produção mundial? Sim, mas o regime automotivo as obriga a ter fabricação local a troco de uma total liberdade para praticar o preço que quiserem. Trata-se de um acordo de cavalheiros onde quem paga o pato é o consumidor.

Levantamento feito em cinco países (Brasil, EUA, Argentina, França e Japão) mostrou que o carro brasileiro é sempre o mais caro. O Honda Fit no Brasil é 106,03% mais caro que na França. O Nissan Frontier é 91,31% mais caro que nos EUA. O recordista, o Jeep Grand Cherokee bate 319,64% na relação São Paulo / Miami (US$ 89.500 x US$ 28.000).

Estima-se que a margem de lucro praticada pelas montadoras no Brasil seja pelo menos o dobro da média internacional (10% contra 5%), mas esse número é ilusório. No caso do Jeep Grand Cherokee, por exemplo, a margem praticada em Miami seria de US$ 1.400, e aqui seria de US$ 8.950, um escândalo de 639,29% na diferença do lucro.

Resumindo isso tudo, a Indústria não consegue se beneficiar do aumento do consumo porque não consegue competir, e cabe então ao governo proteger setores da indústria à custa do consumidor. E por que essa preocupação tão grande com a indústria? Porque ela é o berço do sindicalismo no Brasil, consequentemente o berço do PT. A indústria pesa 28% no PIB brasileiro, contra 67% dos serviços, o que significa que mais incentivos aos serviços resultariam em um PIB muito maior que o decorrente dos incentivos dados à indústria, pra não falar que iríamos ter uma melhoria em setores muito mais carentes do que o automóvel: educação, saúde, transportes, comunicação, turismo, etc.
O FIESP tem um poder de pressão muito grande junto ao governo, tanto que o seu presidente se tornou uma espécie de garoto propaganda da Dilma. O bordão atual da FIESP se chama "agregação de valor", com o argumento de que é melhor fabricar e vender produtos industrializados do que artigos básicos. Isso valeria se a nossa indústria fosse competitiva, e a Vale nunca engoliu a pressão do governo em montar siderúrgicas, nem outros capitais que não os da Petrobrás jogaram dinheiro na construção de refinarias.
Ao contrário do que se imagina, as atividades que mais agregam valor são a mineração, a agricultura e os serviços. O petróleo e o minério de ferro decuplicam de valor ao serem extraídos, o que torna a agregação de valor a partir da extração irrelevante. A semente de soja necessária ao cultivo de 1 hectare custa US 200, e a produção de um hectare é vendida por algo em torno de US$ 3.500.

As empresas de ponta dos países desenvolvidos há muito abdicaram da agregação de valor, transferindo suas unidades para a Ásia e o Leste Europeu, e se concentrando no projeto, na criação dos produtos e na tecnologia. É portanto um grande equívoco a insistência na reindustrialização de um país que possui uma indústria tão despreparada e um governo que não faz nada para amenizar o alto custo de se produzir aqui. Não é demérito algum assumirmos a nossa vocação extrativista e agrícola. A natureza nos presenteou com muito minério, muita área culturável e muito sol.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Europa Islâmica

É irreversível. A Europa, o berço da Civilização Ocidental, como a conhecemos, está com seus dias contados. Os netos dos nossos netos irão viver em um mundo, se ele ainda existir, no qual toda a Europa será dominada pelo Islamismo. Toda essa mudança se dará em função da diminuição da população nativa. Haverá revoltas localizadas, mas o agente maior dessa mudança responde por um nome que os sociólogos têm usado para alertar para esse desfecho: a Demografia. Vamos iniciar este Post com um exercício simples. Suponhamos uma comunidade de 10.000 pessoas, 5.000 homens e 5.000 mulheres, vivendo de forma isolada. Desse total metade (2.500 homens e 2.500 mulheres) já cumpriu sua função procriadora, e a outra metade a está cumprindo ou vai cumprir. Aqui vamos definir dois grupos, o velho não procriador e o novo procriador. Se os 2.500 casais procriadores atingirem uma meta de cada um ter e criar 2 filhos, teremos como resultado que, quando esta geração envelhecer (se tornar não procriadora), a c

Sobre os Políticos

Há tempos estou à procura de uma fonte que me desse conteúdo a respeito desse personagem tão importante para as nossas vidas, mas que tudo indica estar cada vez mais distanciado de nós. Finalmente encontrei um local que me forneceu as opiniões que abasteceram a minha limitada profundidade no assunto: Uma entrevista no site Persuation, de Yascha Mounk, com o escritor, diplomata e político Rory Stewart.  Ex-secretário de Estado para o Desenvolvimento Internacional no Reino Unido, Rory Stewart é hoje presidente de uma instituição de caridade global de alívio à pobreza, a GiveDirectly (DêDiretamente em tradução Livre) e autor do recente livro How not to be a Politician, a Memoir (algo como "Como não ser um Político, um livro de Memórias"). A entrevista é longa e eu me impressionei com ela a ponto de me atrever a fazer um resumo. Pelo que entendi, com o livro Stewart faz uma descrição de suas experiências na política do Reino Unido. Ele inicia a entrevista falando da brutalidade

Civilidade e Grosseria

  Vamos iniciar este Post tentando ensaiar teatrinhos em dois países diferentes: País A O sonho do jovem G era ser membro da Força Aérea de A, mas na sua cabeça havia um impedimento: ele era Gay. Mesmo assim ele tomou a decisão de apostar na realização do seu sonho. O País A  não pratica a conscrição, ou seja, ninguém é convocado para prestar serviço militar. Ele está disponível para homens entre 17 e 45 anos de idade. G tinha 22 e entendeu que o curso superior que estava fazendo seria de utilidade na carreira militar. Detalhe: há décadas o País A tinha tomado a decisão de colocar todos os ramos militares em um único quartel, com a finalidade de aumentar o grau de integração e a logística. Isso significa a Força Aérea de A está plenamente integrada nas Forças de Defesa de A. Tudo pronto, entrevista marcada, o jovem G comparece à unidade de alistamento e é recebido com a mesma delicadeza que aquele empresário teria ao se interessar por um jovem promissor de 22 anos. Tudo acertado, surgi