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O Índice Big Mac

Em 1986 a respeitada The Economist, talvez a revista de economia mais conceituada a nível mundial, se saiu com uma novidade que chocou o meio econômico: o Índice Big Mac. Trata-se de um guia de fácil entendimento que analisa as moedas a partir do preço em dólar do famoso hamburger da cadeia mundial MacDonald's. A ideia era posicionar as moedas do mundo em relação ao dólar e sugerir um "valor correto" a partir dessa análise:

                   http://www.economist.com/content/big-mac-index

A simplicidade dessa ferramenta é tamanha que faz a economia parecer uma ciência de fácil entendimento. Toma-se um produto de baixo custo, existente em muitos países, e com base no valor dolarizado desse produto faz-se uma análise da moeda dos países onde a cadeia MacDnald's existe. Simples assim.

Embora que eu me lembre só tenha pisado num MacDonald's, a contragosto, para levar meus netos quando me visitam, e nunca tenha posto um Big Mac na boca, acho a escolha muito boa: trata-se de um produto de altíssimo consumo; basta ir a qualquer shopping center em qualquer lugar do mundo para se certificar disso.

Ao acessarmos o site acima vemos que o Big Mac mais caro do mundo é o da Noruega, sendo que o Brasil se encontra em 5° lugar nessa lista de 45 países, base julho de 2013. A moeda base, que inicialmente era apenas o US Dollar, hoje pode ser o Yuan chinês, o Euro, o Yen Japonês, a Libra Esterlina e o próprio Dollar. O índice também pode ser hoje em dia avaliado na sua forma original (raw), ou ajustada, onde é levado em conta o PIB per capita do país em questão. Nesse caso o Brasil passa a ter o Big Mac mais caro do mundo

Tomemos o caso brasileiro: em julho deste ano tínhamos o seguinte:
  • Preço: US$ 5,28 = R$ 12,00
  • Índice básico: sobrevalorizado em 16,0%
  • Taxa de conversão atual: 1 US$ = 2,27 Reais (base julho)
  • Taxa de conversão sugerida: 1 US$ = 2,63 Reais
  • Índice ajustado: sobrevalorizado em 71,6%
  • Taxa de conversão ajustada sugerida: 1 US$ = R$ 3,89
Para explicarmos esses dados devemos levar em conta que em julho o Big Mac custava US$ 4,56 nos Estados Unidos, logo, US$ 5,28% no Brasil é um valor 16% maior que o americano. Para que o Big Mac no Brasil custasse os mesmos US$ 4,28 que custa nos Estados Unidos a taxa de conversão devia ser 2,27 x 1,16 = 2,63, ou seja, a cotação do dólar devia ser, em julho, de R$ 2,63.

Levando em conta a enorme diferença entre os PIBs per capita dos dois países, a conclusão a que The Economist chega é a de que no Índice Ajustado o Dólar devia custar 2,27 x 1,716 = R$ 3,89! Nessa taxa de conversão a compra de um Big Mac doeria o mesmo no bolso do americano e do brasileiro.

Diz a revista que a "Burgernomia" nunca teve o objetivo de ser uma ferramenta precisa de medida do desequilíbrio das moedas, mas sim uma forma de tornar a teoria das moedas mais "palatável" (no sentido literal). De qualquer forma esse Índice se tornou um padrão mundial e foi incluído em vários textos de economia, se tornando assunto para mais de 20 trabalhos acadêmicos.

A introdução do chamado Índice Ajustado leva em conta que o hamburger deveria ser mais barato em países pobres, devido ao baixo custo da mão de obra. O fato de o Brasil virar o campeão com esse Índice é uma vergonha em todos os aspectos. Isso significa que comer nesse país é uma necessidade cada vez mais inacessível.

Ao analisarmos a posição dos nossos vizinhos no Índice Ajustado, vemos que se trata de um problema do nosso continente, onde a economia é tratada por "Margarinas":
  • Brasil (1°)
  • Colômbia (2°)
  • Argentina (4°)
  • Peru (5°)
  • Chile (6°)
Se apresentarmos esses dados a um político ou economista do governo brasileiro, hão de surgir as mais variadas justificativas para esse descalabro. Há aquela de que no Brasil os impostos são muito maiores; mas é aí que reside o problema: recolhem-se impostos que só vão alimentar o custeio da mastodôntica estrutura do governo, que não transforma esse recolhimento em infraestrutura de iria aumentar a renda. Vão dizer também que o país que preocupa com o bem estar dos envolvidos no processo de fabricação e venda do Big Mac, o que implica em um Custo Brasil maior. Está-se vendo....

Entre setembro de 2001 e janeiro de 2005 o Dólar oscilou entre os valores Básico e Ajustado sugeridos pelo Índice Big Mac. O esforço do governo foi no sentido de levá-lo de volta aos valores pré transição FHC - Lula, o que de certa forma foi feito. Acontece que a equipe do governo atual é de uma incompetência atroz, a ponto de não haver uma voz única sobre esse assunto. O Estadão de quarta feira 21/08 é uma prova disso. Vamos reproduzir as falas de algumas personagens desse teatro de marionetes, pronunciadas todas na mesma ocasião:
  • "Quando o câmbio estava barato, reclamavam que a indústria estava mal. Agora que ele subiu, vão reclamar também? Acho que está ótimo" - Fernando Pimentel, Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
  • Em entrevista exclusiva ao serviço em tempo real da Agência Estado o Ministro da Fazenda, Guido Mântega, afirmou que o mercado de câmbio está sob controle e descartou a necessidade de venda de reservas do Banco Central.
  • O Ministro-Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que o governo está "preocupado" com o comportamento do Dólar.
  • O Tesouro Nacional e o BC atuaram de forma conjunta no mercado para segurar a alta do Dólar.
O mesmo jornal, na mesma data, dá uma pista do esforço dos grandes em insistir no controle do dólar a níveis muito menores que os sugeridos pelo Índice Big Mac: "Dólar caro pode corroer 44% do lucro das empresas". Como diz o meu tio: "Ah Bom!". Os nossos turistas, sempre ávidos em comer Big Mac em Miami, também têm mostrado insatisfação no Jornal Nacional. Não vêem que com o dólar a R$ 3,89 tanto faz comer aqui como lá. e isso vale para as bugigangas que vão lá comprar.

O principal argumento contra o dólar alto é o de que ele aumenta a inflação. Esse é um argumento de curto prazo. Na medida em que os bens importados se tornam mais caros abre-se espaço para a indústria local substituí-los por bens fabricados aqui, ou das indústrias globais passarem a considerar a fabricação local. A nossa visão estratégica está tão distorcida que a Apple até hoje não decidiu abrir uma Apple Store no Brasil. A GAP, terceira maior rede mundial de vestuário, somente agora chegou ao nosso país, o que demonstra que o nosso mercado, muito embora enorme, devido as dificuldades burocráticas acaba por não ser atrativo. A GAP já está estabelecida no Chile, no Uruguai, na Colômbia e no México, países que juntos não têm o nosso mercado.

Um argumento de alguma consistência contra o Índice Big Mac é que os economistas não levaram em conta que comer um hamburger em um MacDonald's no Brasil não tem o mesmo status que comê-lo nos Estados Unidos. Ir ao MacDonald's aqui é um programa em escala muito mais elevada, enquanto nos Estados Unidos existe uma campanha muito grande em banir esse tipo de serviço "unhealthy". A meu ver isso é pura bobagem, já que esse fator está incluído na diferença entre os PIBs per capita dos dois países. Vou dar um exemplo: na Índia o Big Mac se chama Maharaja Mac e é feito com carne de frango:
  • Preço: US$ 1,50 = 90 Rúpias
  • Índice básico: subvalorizado em 67,1%
  • Taxa de conversão atual: 1 US$ = 59,98 Rúpias
  • Taxa de conversão sugerida: 1 US$ = 19,75 Rúpias
  • Índice ajustado: subvalorizado em 42,5%
  • Taxa de conversão ajustada sugerida: 1 US$ = 34,49 Rúpias
Vemos que a Índia, bem como a Rússia, a China e a África do Sul, só para focarmos os BRICS, se esforçam em manter a sua moeda subvalorizada, com o motivo óbvio de lhes dar uma vantagem competitiva. O Brasil pensa diferente, e é acompanhado pelo grosso da América Católica nessa insanidade.

A nossa economia é tão errada que, levada a uma comparação como a do Índice Big Mac leva o nosso pobre país, junto com os seus vizinhos, a essa situação constrangedora. E o motivo é simples: a nossa carga tributária é tão grande, e o retorno tão ínfimo, que isso faz os preços subirem a um nível incompatível com a nossa renda. Junte-se a isso o fato de o governo, não contente em tributar fortemente os bens, atacar também os nossos salários, ficando com praticamente metade daquilo que por direito devia ser nosso, na forma de encargos. Como cético que sou, acredito que os ajustes de contas que porventura vamos ter que enfrentar são realizados aqui mesmo, na única existência que posso ver. Pois bem, temo que a hora do ajuste de contas está chegando....

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