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A Pirâmide Etária Revisitada

Ao iniciar este Post verifico com satisfação que este Blog já teve 20.242 acessos a 149 Posts. Isso dá um média de 136 acessos por Post. Acontece que um Post datado de Junho de 2012, intitulado "A Pirâmide Etária", achou por bem se tornar um ponto exageradamente fora dessa estatística. Ele teve um total de 4.538 acessos.

http://ceticocampinas.blogspot.com.br/2012/06/piramide-etaria.html

Subtraindo esse número do total, chego à conclusão de que na realidade os meus Posts têm uma média de 106 acessos apenas. Mas tudo bem, juntando esse diletantismo à minha atividade de tradutor voluntário da Fundação Lemann para vídeos de Artes e Humanidades, posso dizer que a minha velhice, além de bastante ocupada, é um pouco produtiva.

Surge no entanto uma curiosidade: por que tantos acessos à Pirâmide Etária? A conclusão a que cheguei é a de que esse assunto, na época, era bastante atual, e o que pode ter ocorrido foi uma procura de estudantes no Google para gerar dissertações sobre ele.

A Veja de 06/01 traz um artigo de Eduardo Oinegue que volta a discutir a Pirâmide Etária, mais em função da decisão da Chima de dar um termo à proibição dos casais terem mais de um filho. Nele o autor oscila entre a explosão populacional decorrente do excesso de filhos por casal e o efeito da carência de filhos no crescimento da uma sociedade, com reflexos na mão de obra e no PIB.

Vejamos o caso da China: Segundo Oinegue, em 1979 ela tinha 970 milhões de habitantes e uma média de 2,8 filhos por casal. Seu crescimento demográfico nos 20 anos anteriores tinha sido de 47%, abaixo por exemplo do brasileiro que foi de 68%. Só que o Brasil não tinha 1 bilhão de habitantes (apenas 120 milhões). Com a medida radical imposta a China chegou à população atual de 1,3 bilhões de habitantes, crescendo 38% apenas nesse período de 37 anos, Caso ela não tivesse sido tomada a sua população atual seria de 1,7 bilhões, tento havido então uma diminuição de 400 milhões de habitantes, o equivalente a dois Brasis.

Os efeitos dessa medida foram muito positivos nesse aspecto, em que pesem os traumas familiares decorrentes em uma cultura milenar. Os chineses nascidos nesse século não têm irmãos; não têm sequer primos, e isso certamente não pode ter sido assimilado com tranquilidade.

Isso me remete à minha infância nas pequenas cidades da Amazônia, onde eu cresci. Meu Pai era médico da Saúde Pública e era ele quem acompanhava de perto o nascimento das crianças na cidade de Abaetetuba e redondezas. O número e crianças por casal era enorme. Ele mesmo era filho de um casal que teve 11 filhos, dos quais "vingaram" 7.

Ao ouvir pela primeira vez o verbo vingar usado nesse contexto, procurei o dicionário e me surpreendi: o verbo vingar tinha 17 significados, e uma deles era "chegar à maturidade". Como a mortalidade infantil era imensa devido à falta de assistência, a solução adotada pelas famílias era ter muitos filhos para que "vingassem" alguns. Porém com a chegada do saneamento, dos postos de saúde, dos hospitais, os partos passaram a ter uma estatística mais positiva, mas o costume de ter muitos filhos prevaleceu. Esse fato resultou também no aumento da vida média, com reflexo no número de idosos. O resultado foi a explosão populacional.

O Brasil tem hoje uma taxa de fecundidade de 1,72 filhos por casal, cálculo esse resultante do divisão dos nascimentos pelo número de mulheres férteis (com idade entre 15 e 49 anos, número esse estimado em 50 milhões). Para chegar a esse valor de taxa de fecundidade, bem abaixo do número mágico 2, que define a derivada do crescimento populacional, não houve nenhuma decisão política por parte do governo. O que de fato aconteceu foi uma conjunção de fatores que levaram a mulher a se aproximar do homem a nível decisório. O maior acesso à educação e ao mercado de trabalho, a mudança do campo para a cidade, a necessidade da mulher trabalhar para ajudar no sustento da família, tudo isso levou de forma espontânea os casais a decidir ter menos filhos. O Planeta agradece.

É claro que isso não ocorre sem que as normas tenham que se adaptar a essa nova realidade. Hoje de manhã eu ouvi a nossa incompetente presidentA mais uma vez falar bobagem a respeito desse assunto. Segundo ela as sociedades evoluídas têm resolvido esse problema aumentando a idade da aposentadoria, mas o Brasil não pode agredir os chamados "direitos adquiridos". Ou seja, o Brasil não tem interesse em afrontar os sindicatos interessados apenas na manutenção do que eu prefiro chamar de vantagens adquiridas.

Não há dúvida que a Pirâmide Etária não existe mais. O que existe hoje se aproxima muito mais de um Cilindro Etário. A única forma de se lidar com esse fato é aumentar a idade da aposentadoria, diminuindo assim a quantidade de idosos a ser mantidos pelos trabalhadores ativos. Não existe milagre. Outra providência a ser tomada é incentivar a manutenção do idoso no mercado. Eu sou um exemplo claro de que essa política não existe. Enquanto o meu Pai só foi se aposentar com 78 anos, eu não tive escolha senão me aposentar 20 anos mais cedo.


O Brasil, mais uma vez, senta em cima do problema. Só que nesse caso não vai ser possível alegar que ele é resultante de uma crise externa que nos atingiu de surpresa. Todos os países estão tratando dele com seriedade. A Rússia por exemplo perde 700 mil pessoas por ano e bonifica os casais com 9 mil dólares pelo segundo filho. Singapura teve sua taxa caindo de 6,6 filhos em 1950 para apenas 1,2 atualmente. O fenômeno é moderno, e prova disso é que levou 130 anos para a taxa de fecundidade britânica cair de 5 para 2. No Irã ela levou apenas 7 anos. 

Até o fim do século 60% dos países vão ter taxa de crescimento populacional negativa, o Brasil incluído. Só que a população idosa continuará crescendo. Sem a reforma na previdência o Brasil vai quebrar. Não há espaço para o populismo nessa história. 

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