Pular para o conteúdo principal

O Coeficiente de Gini e suas implicações no caso Brasileiro

O Coeficiente de Gini sempre é citado como a prova de que o Brasil é desigual, e pouca gente sabe o real significado dele, exceto que o coeficiente ideal é zero e a desigualdade total é 1. Ou seja, uma comunidade onde todos são iguais tem índice 0, e uma comunidade onde uma pessoa tem toda a renda e os demais nada têm possui o índice de Gini igual a 1.

Agora a surpresa: Uma listagem do Coeficiente de Gini dos estados brasileiros vai deixar vocês com uma certo grau de incredulidade. O ano de 2013 deu o seguinte resultado:
  1. Santa Catarina                 0,436
  2. Rondônia                         0,442
  3. Acre                                 0,452
  4. Espírito Santo                  0,453
  5. Amapá                             0,455
  6. Alagoas                           0,456
  7. Goiás                               0,458
  8. Paraná                             0,461
  9. Pernambuco                    0,463
  10. Rio Grande do Sul          0,465
  11. Mato Grosso                   0,466
  12. Pará                                 0,472
  13. Minas Gerais                  0,474
  14. São Paulo                        0,474
  15. Amazonas                       0,478
  16. Ceará                               0,487
  17. Rio de Janeiro                 0,489
  18. Roraima                           0,490
  19. Mato Grosso do Sul         0,491
  20. Tocantins                         0,500
  21. Paraíba                             0,514
  22. Rio Grande do Norte       0,521
  23. Maranhão                        0,545
  24. Bahia                               0,559
  25. Sergipe                            0,562
  26. Piauí                                0,566
  27. Distrito Federal               0,570
Brasília é a grande vilã do Coeficiente de Gini. Isso porque milhares de "barnabés" dividem espaço com uma legião de imigrantes das mais diversas regiões. A periferia de Brasília é conhecida pelo alto nível de criminalidade, pelas condições degradantes como vivem, a quilômetros da sede do governo federal, centenas de milhares de pessoas.

Por outro lado as regiões que eu definiria como a nova fronteira brasileira (Rondônia, Acre, Amapá) têm um bom Gini. Exceção para Roraima, provavelmente porque tem uma forte presença militar somada a uma grande população indígena.

Outra coisa que impressiona é a força com que os estados nordestinos levam pra cima o Coeficiente de Gini. Dos 9 estados do Nordeste, 7 se encontram na metade inferior da lista. Para mim isso significa que podemos dividir o Nordeste em duas partes:
  • a região litorânea com megalópoles altamente desiguais e 
  • o chamado sertão com um razoável Coeficiente de Gini.
Caatiba, no sul da Bahia, possui cerca de 11.000 habitantes, um PIB per capita de três mil e cem reais, e um Coeficiente de Gini equivalente ao de Portugal, de 0,39 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Caatiba). Como pode uma cidade com PIB per capita de R$ 3.100 ter um Gini tão bom? Um grande amigo meu já falecido diria que o Gini é uma faca de dois "legumes": um povoado miserável que pequenos criadores de gado não tem uma grande desigualdade social e seu Gini é muito bom. Caatinga deve ser um bom exemplo de cidade que mantém o Gini baixo e fornece material humano para elevar o Gini das grandes cidades como Salvador e São Paulo.

Resumindo, para você ter um Gini bom basta você ter uma população homogênea. Das 15 cidades mais igualitárias do Brasil 12 são gaúchas de origem alemã. Sem qualquer política pública, sem imposto sobre fortuna, isso foi conseguido apenas devido à enorme semelhança entre os seus habitantes: mesma origem cultural e mesmo nível de educação. São José do Hortêncio, a campeã, tem uma população de 4.100 habitantes, um PIB per capita de 15.700 reais (1.300 reais por mês!), e um Gini de 0,28.

Vejamos agora São Paulo, nossa maior cidade. Com um PIB per capita de R$ 48.300, seu Gini é 0,65. Isso com um IDH de 0,805. O Índice de Desenvolvimento Humano é um dado das Nações Unidas que analisa a qualidade de vida de uma população, e ao contrário do Gini melhora quando se aproxima de 1 (o IDH do Brasil é 0,699, e ocupa o 73° lugar no ranking mundial). A pergunta é: como uma cidade pode ter um IDH elevado e um Gini tão ruim?

A resposta está no fato de o Brasil ser um país livre, o que permite que um habitantes das milhares de Caatibas existentes migrem para as poucas São Paulos, gerando um problema social grave nas nossas megalópoles. O fotógrafo Tuca Vieira ganhou prêmios internacionais com a foto abaixo, que mostra o contraste entre a favela de Paraisópolis e um edifício de luxo do bairro Morumbi:


A foto provoca de imediato uma comparação perversa, que foi explorada ao extremo pelas correntes ideológicas, a ponto de ser destaque em prova do ENEM. A intenção seria responsabilizar os condôminos do prédio pela situação dos cortiços. Mais adequado seria investigar se os habitantes dos cortiços estão em situação melhor ou pior que estariam se tivessem permanecido em seus lugares de origem. A miséria de Paraisópolis não é criação dos moradores dos condomínios do Morumbi. É justamente o contrário; a presença desses condomínios foi o que atraiu os favelados para a sua proximidade, gerando empregos para os imigrantes. 

As favelas das nossas megalópoles são miseráveis se comparadas com seus bairros prósperos, mas essa comparação não é justa. As megalópoles não criam pobreza, elas atraem os pobres, porque lhes proporcionam a oportunidade de progredir que eles não tinham em seus locais de origem. 

Assim sendo, vamos deixar essas pessoas em paz com o seu Gini de 0,65 em São Paulo. Eles são mais felizes e realizados aí que como o Gini de 0,39 em Caatiba. 



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Europa Islâmica

É irreversível. A Europa, o berço da Civilização Ocidental, como a conhecemos, está com seus dias contados. Os netos dos nossos netos irão viver em um mundo, se ele ainda existir, no qual toda a Europa será dominada pelo Islamismo. Toda essa mudança se dará em função da diminuição da população nativa. Haverá revoltas localizadas, mas o agente maior dessa mudança responde por um nome que os sociólogos têm usado para alertar para esse desfecho: a Demografia. Vamos iniciar este Post com um exercício simples. Suponhamos uma comunidade de 10.000 pessoas, 5.000 homens e 5.000 mulheres, vivendo de forma isolada. Desse total metade (2.500 homens e 2.500 mulheres) já cumpriu sua função procriadora, e a outra metade a está cumprindo ou vai cumprir. Aqui vamos definir dois grupos, o velho não procriador e o novo procriador. Se os 2.500 casais procriadores atingirem uma meta de cada um ter e criar 2 filhos, teremos como resultado que, quando esta geração envelhecer (se tornar não procriadora), a c

Sobre os Políticos

Há tempos estou à procura de uma fonte que me desse conteúdo a respeito desse personagem tão importante para as nossas vidas, mas que tudo indica estar cada vez mais distanciado de nós. Finalmente encontrei um local que me forneceu as opiniões que abasteceram a minha limitada profundidade no assunto: Uma entrevista no site Persuation, de Yascha Mounk, com o escritor, diplomata e político Rory Stewart.  Ex-secretário de Estado para o Desenvolvimento Internacional no Reino Unido, Rory Stewart é hoje presidente de uma instituição de caridade global de alívio à pobreza, a GiveDirectly (DêDiretamente em tradução Livre) e autor do recente livro How not to be a Politician, a Memoir (algo como "Como não ser um Político, um livro de Memórias"). A entrevista é longa e eu me impressionei com ela a ponto de me atrever a fazer um resumo. Pelo que entendi, com o livro Stewart faz uma descrição de suas experiências na política do Reino Unido. Ele inicia a entrevista falando da brutalidade

Civilidade e Grosseria

  Vamos iniciar este Post tentando ensaiar teatrinhos em dois países diferentes: País A O sonho do jovem G era ser membro da Força Aérea de A, mas na sua cabeça havia um impedimento: ele era Gay. Mesmo assim ele tomou a decisão de apostar na realização do seu sonho. O País A  não pratica a conscrição, ou seja, ninguém é convocado para prestar serviço militar. Ele está disponível para homens entre 17 e 45 anos de idade. G tinha 22 e entendeu que o curso superior que estava fazendo seria de utilidade na carreira militar. Detalhe: há décadas o País A tinha tomado a decisão de colocar todos os ramos militares em um único quartel, com a finalidade de aumentar o grau de integração e a logística. Isso significa a Força Aérea de A está plenamente integrada nas Forças de Defesa de A. Tudo pronto, entrevista marcada, o jovem G comparece à unidade de alistamento e é recebido com a mesma delicadeza que aquele empresário teria ao se interessar por um jovem promissor de 22 anos. Tudo acertado, surgi