A Coluna Prestes se aproxima de Carolina. Os homens responsáveis pela cidade, cientes do rastro de crimes que essa força revolucionária deixava pelas cidades por onde passava, receberam dois oficiais que vieram em companhia do carolinenese Hildebrando Rodrigues, emissários do Comando Revolucionário. Meu tio Rossini Gonçalves Maranhão descreve com minúcias essa passagem em seu livro "Carolina meu Mundo Perdido" (1971), de onde eu tirarei as informações a seguir.
Meu avô Diógenes Gonçalves de Souza, junto com mais dois cidadãos proeminentes da cidade responderam ao Comando Geral com a seguinte carta:
"Os membros do Partido Republicano Maranhense, representados pelos signatários da presente missiva, sabendo aproximarem-se da heróica terra de Elias Barros forças do Exército Libertador, dirigem-se ao Comando Geral das mesmas, saudando-os em nome do bom povo desta cidade que, de coração genuflexo, aguarda a vinda dos bravos defensores da República sã e moralizada.
Apesar dos boatos alarmantes espalhados, aguarda-os a boa terra carolinense, na maioria da sua população livre, de braços abertos, sem nenhuma tentativa de resistência, confiante e esperançosa na próxima redenção da Pátria Brasileira.
À disposição das tropas revolucionárias, para facilitar a passagem do rio Manoel Alves, segue um barço tripulado por pessoas adestradas nesse serviço.
Aproveitando a oportunidade apresentamos, em nome dos nossos amigos, protestos de respeito e simpatia aos valentes defensores dos postergados direitos do Povo Brasileiro.
Carolina, 8 de novembro de 1025
(aa) Diógenes Gonçalves de Souza
Sandoval Aires Maranhão
Benjamim Carvalho"
Segundo meu tio Rossini, foram esses mesmos homens que, inspirados por um alto senso de equilíbrio e liderança, convenceram a população a permanecer em suas casas e receber a Revolução sob aplausos. Assim, no dia 15 de novembro, data da comemoração do 36° aniversário da República, as forças revolucionárias entravam em Carolina, sob as flores ques lhes atiravam as moças da sociedade.
Isso surpreendeu a Coluna, já que o comum era que a população fugisse à procura de segurança nas matas, e as cidades e vilas ficassem à mercê de marginais que as saqueavam, com a contribuição de elementos da Coluna, cujos líderes faziam vista grossa.
A tropa era composta de 1.200 homens e ficou acampada nas imediações da cidade, num local chamado Ticoncá, hoje um bairro de Carolina. Comandantes e comandados chegaram a Carolina necessitando de tudo. Fizeram então requisicões de roupas, suprimentos, animais de montaria e até dinheiro em espécie. Os proprietários dos bens confiscados receberam, assinados pelo Coronel Juarez Távora, documentos referentes às dívidas contraídas, que serviriam, segundo explicaram no "O Libertador" (publicação da Coluna impressa em Carolina), de comprovantes para o recebimento de indenização pelos cofres públicos federais, através das Delegacias Fiscais do Tesouro Nacional nos Estados, logo que vitoriosa a revolução. Um dos do meu avô dizia:
"FORÇAS REVOLUCIONÁRIAS Carolina, 20/11/925
Q,G. da Divisão
Vim a tomar conhecimento do papel do meu avô na passagem da Coluna Prestes por Carolina ao ler o livro do meu Tio. Décadas depois me deparei com o livro a meu ver mais completo sobre o assunto: "As Noites das Grandes Fogueiras - Uma História da Coluna Prestes", de Domingos Meirelles, Record, 1995. Trata-se de um livro fantástico, que descreve os motivos que levaram um grupo de visionários a percorrer um caminho que deixaria Mao Zedong com inveja, dada a sua extensão e as dificuldades encontradas. Na sua página 451 me emocionei muito ao ler:
"Os rebeldes são recepcionados pela Filarmônica Carolinense que, em uniforme de gala, executa com entusiasmo e ardor a marchinha "Ai, seu Mé, apelido pejorativo de Arthur Bernardes incorporado ao repertório carnavalesco.....
Cercados de tanto carinho, Juarez Távora e Lourenço Moreira Lima dirigem-se à população de Carolina de forma apaixonada....
Antes de deixar Carolina, os rebeldes queimam em praça pública, diante de uma multidão estupefata, os livros e as listas de cobranças de impostos atrasados....."
Mas nem tudo foi festa. Ao deixar Carolina intacta graças à mediação do meu Avô, o que se constatou foi que não havia mais nenhuma montaria, nenhuma cabeça de gado, nem um saco de cereal, nenhuma munição, nem um metro de tecido, nada. A cidade estava à míngua. Meu Avô nunca se recuperou desse golpe. Já que ele era o maior atacadista da região e um dos grandes fazendeiros, foi o que arcou com o maior prejuízo. Ele terminou a vida, curiosamente, com agente da Cruzeiro do Sul. Para quem não sabe, Carolina era atendida por três companhias de aviação: Cruzeiro do Sul, Real Aerovias e Lloyd Aéreo, além de ser ponto de pouso da PanAm na sua rota Rio - Nova York.
Também décadas mais tarde tive a oportunidade de percorrer parte do caminho da Coluna Prestes na rodovia que hoje leva seu nome, passando por Arraias, Natividade, Porto Nacional, terminando em Palmas. Ao ver aquela terra pobre do leste do estado do Tocantins a caminho de Palmas, onde o meu Pai ia receber o título de cidadão tocantinense, me passou pela cabeça mover uma ação da minha família contra o Estado Brasileiro, com base nas requisições do Coronel Juarez Távora. Entendo que ela tem mais base que as indenizações pagas com base nas ações promovidas pelo Greenhalgh.
Deixa pra lá ......
Meu avô Diógenes Gonçalves de Souza, junto com mais dois cidadãos proeminentes da cidade responderam ao Comando Geral com a seguinte carta:
"Os membros do Partido Republicano Maranhense, representados pelos signatários da presente missiva, sabendo aproximarem-se da heróica terra de Elias Barros forças do Exército Libertador, dirigem-se ao Comando Geral das mesmas, saudando-os em nome do bom povo desta cidade que, de coração genuflexo, aguarda a vinda dos bravos defensores da República sã e moralizada.
Apesar dos boatos alarmantes espalhados, aguarda-os a boa terra carolinense, na maioria da sua população livre, de braços abertos, sem nenhuma tentativa de resistência, confiante e esperançosa na próxima redenção da Pátria Brasileira.
À disposição das tropas revolucionárias, para facilitar a passagem do rio Manoel Alves, segue um barço tripulado por pessoas adestradas nesse serviço.
Aproveitando a oportunidade apresentamos, em nome dos nossos amigos, protestos de respeito e simpatia aos valentes defensores dos postergados direitos do Povo Brasileiro.
Carolina, 8 de novembro de 1025
(aa) Diógenes Gonçalves de Souza
Sandoval Aires Maranhão
Benjamim Carvalho"
Segundo meu tio Rossini, foram esses mesmos homens que, inspirados por um alto senso de equilíbrio e liderança, convenceram a população a permanecer em suas casas e receber a Revolução sob aplausos. Assim, no dia 15 de novembro, data da comemoração do 36° aniversário da República, as forças revolucionárias entravam em Carolina, sob as flores ques lhes atiravam as moças da sociedade.
Isso surpreendeu a Coluna, já que o comum era que a população fugisse à procura de segurança nas matas, e as cidades e vilas ficassem à mercê de marginais que as saqueavam, com a contribuição de elementos da Coluna, cujos líderes faziam vista grossa.
A tropa era composta de 1.200 homens e ficou acampada nas imediações da cidade, num local chamado Ticoncá, hoje um bairro de Carolina. Comandantes e comandados chegaram a Carolina necessitando de tudo. Fizeram então requisicões de roupas, suprimentos, animais de montaria e até dinheiro em espécie. Os proprietários dos bens confiscados receberam, assinados pelo Coronel Juarez Távora, documentos referentes às dívidas contraídas, que serviriam, segundo explicaram no "O Libertador" (publicação da Coluna impressa em Carolina), de comprovantes para o recebimento de indenização pelos cofres públicos federais, através das Delegacias Fiscais do Tesouro Nacional nos Estados, logo que vitoriosa a revolução. Um dos do meu avô dizia:
"FORÇAS REVOLUCIONÁRIAS Carolina, 20/11/925
Q,G. da Divisão
REQUISIÇÃO
Requisito do Sr. Diogenes Gonçalves, morador em Carolina, município o mesmo nome, Estado do Maranhão, para uso da tropa, o seguinte:
1 (uma) peça de mescla - cento e sessenta mil réis 160.000
1 (um) kg. de linha de pesca - trinta mil réis 30.000
2 (duas) caixas de balas "winchester" - cem mil reis 100.000
4 (quatro) caixas de bala "38" - oitenta mil réis 80.000
12 (doze) caixas de prato - cento e trinta mil réis 130.000
16 (ilegível) de brim - cinquenta e oito mil réis 58.000
9 (nove) animais de montaria - novecentos e noventa mil réis 990.000
4 rezes de corte - trezentos e vinte mil réis 320.000
Importa essa requisição em - um conto oitocentos e sessenta e oito mil réis
Cel. Juarez Távora
RECIBO: Recebi do Sr. Diógenes Gonçalves os artigos acima requisitados, na importância total de um conto oitocentos e sessenta e oito mil réis (1:868.000)
Carolina 20 de novembro de 1925
Cel. Juarez Távora
Chefe do Estado Maior

"Os rebeldes são recepcionados pela Filarmônica Carolinense que, em uniforme de gala, executa com entusiasmo e ardor a marchinha "Ai, seu Mé, apelido pejorativo de Arthur Bernardes incorporado ao repertório carnavalesco.....
Cercados de tanto carinho, Juarez Távora e Lourenço Moreira Lima dirigem-se à população de Carolina de forma apaixonada....
A família Diógenes Gonçalves, uma das mais tradicionais da cidade, recepciona os rebeldes com uma grande festa.....
Antes de deixar Carolina, os rebeldes queimam em praça pública, diante de uma multidão estupefata, os livros e as listas de cobranças de impostos atrasados....."
Mas nem tudo foi festa. Ao deixar Carolina intacta graças à mediação do meu Avô, o que se constatou foi que não havia mais nenhuma montaria, nenhuma cabeça de gado, nem um saco de cereal, nenhuma munição, nem um metro de tecido, nada. A cidade estava à míngua. Meu Avô nunca se recuperou desse golpe. Já que ele era o maior atacadista da região e um dos grandes fazendeiros, foi o que arcou com o maior prejuízo. Ele terminou a vida, curiosamente, com agente da Cruzeiro do Sul. Para quem não sabe, Carolina era atendida por três companhias de aviação: Cruzeiro do Sul, Real Aerovias e Lloyd Aéreo, além de ser ponto de pouso da PanAm na sua rota Rio - Nova York.
Também décadas mais tarde tive a oportunidade de percorrer parte do caminho da Coluna Prestes na rodovia que hoje leva seu nome, passando por Arraias, Natividade, Porto Nacional, terminando em Palmas. Ao ver aquela terra pobre do leste do estado do Tocantins a caminho de Palmas, onde o meu Pai ia receber o título de cidadão tocantinense, me passou pela cabeça mover uma ação da minha família contra o Estado Brasileiro, com base nas requisições do Coronel Juarez Távora. Entendo que ela tem mais base que as indenizações pagas com base nas ações promovidas pelo Greenhalgh.
Deixa pra lá ......
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