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A Incompetência e a Irresponsabilidade

Abro o Estadão de hoje, 17/10, e leio a manchete: "Viracopos estuda ter kit de resgate de avião". As barbaridades estão à flor da pele. Vou transcrever algumas delas:
  • A concessionária Aeroportos Brasil estuda a possibilidade de comprar um equipamento de resgate de aeronaves quebradas na pista, o recovery kit. O equipamento custa cerca de R$ 4 milhões.
  • A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) abriu procedimento para averiguar o plano de emergência do terminal, que determina quais procedimentos devem se tratados em casos como este.
  • A ANAC ameaça suspender as atividades da Centurion Cargo Airlines, dona do avião acidentado.
  • Para a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO) as ações seguiram o que diz o plano de emergência.
  • A Aeroportos Brasil confirmou que as obras de construção da segunda pista terão início no segundo semestre de 2014, com operação prevista para 2017.
  • O recovery kit foi alugado da TAM pela Centurion para remover o MD-11. O equipamento estava em São Carlos. A TAM é a única empresa capacitada nesse tipo de remoção e é ela a única empresa que deve ser acionada em caso de a companhia envolvida não ter estrutura própria, segundo o plano de emergência de Viracopos.
  • A Azul Linhas Aéreas fala em perdas acima de R$ 10 milhões, e não descarta processar a Centurion.
Estamos falando do Aeroporto de Viracopos, Campinas, que ficou fechado por 46 horas, provocando o cancelamento de 512 voos e  fazendo com que cerca de 40.000 passageiros fossem prejudicados pessoal e profissionalmente. Estamos falando do segundo maior aeroporto de cargas do Brasil, que recebe diariamente dezenas de monstros capazes de transportar 80 toneladas de carga. Estamos falando do HUB da Azul, que decidiu usar Viracopos como centro de distribuição de praticamente todos os seus voos.

Todo avião, ao tocar o solo, começa a contar o chamado "tempo de permanência em solo", pelo qual a companhia aérea é cobrada pela empresa administradora do aeroporto. Foi o que me disse o meu genro André, que trabalhou por muito tempo para a United Airlines, inclusive nesse assunto, já que segundo ele os aeroportos costumam salgar esse tempo. Convido desde já o André para fazer as críticas que julgar pertinentes sobre esse assunto. Pois bem, ao tocar o solo devem existir garantias por parte da administradora de que as providências necessárias ao socorro do avião estão disponíveis. O contrário tornaria impossível o negócio aeronáutico, já que as companhias de aviação teriam que dispor individualmente dos tais equipamentos, o que seria economicamente inviável.

O descaso e o jogo de empurra está patente na reportagem. O culpado do caso também já está definido, e não será a Agência Reguladora ANAC, nem a administradora do aeroporto, que não se sabe bem quem é, já que a Aeroportos Brasil, ganhadora da concorrência de privatização, declarou que ela só será totalmente responsável pelo aeroporto a partir de fevereiro de 2013.

Os ideólogos do partido do governo vão encontrar no episódio um prato cheio para combater a "privataria" dos aeroportos, que eles tiveram que engolir ao cair na realidade de que são incompetentes para administrar qualquer tipo se serviço de infraestrutura, no Estado por eles aparelhado. Segundo eles o Estado, ao cumprir a sua sagrada missão de incentivar o consumo através de benesses, estará automaticamente assegurando os investimentos privados, como se não fosse necessária uma supervisão pela evitar a bagunça em que nos encontramos. E ela, infelizmente, não se restringe aos aeroportos, que há muito deixaram de ser exclusividade da "elite" e se transformaram em autênticos galinheiros de gente com seus "puxadinhos". A lista é enorme. Temos a bagunça elétrica, cujo Operador Nacional do Sistema sempre encontra um componentezinho em Foz do Iguassú para culpar um apagão em Brasília. A das ferrovias, que enriqueceu um tal Juquinha, presidente da estatal Valec, pelos desvios de verba na Ferrovia Norte Sul. A dos metrôs, das rodovias, dos portos, das comunicações, pra não falar da bagunça moral, destampada agora pelo Supremo Tribunal Federal.

O aeroporto de Goiânia é um retrato fiel dessa estado de coisas. Ele é considerado, junto com o de Vitória, um dos piores do país. Pois bem, foi feito um puxadinho que aumentou a área de embarque, só que o avião pousa em frente ao desembarque e o coitado que vai embarcar tem que andar mais de 200 metros até a avião. Pra compensar, ele tem a visão idílica de um enorme esqueleto do outro lado da pista; trata-se do novo terminal de embarque/desembarque que foi embargado pelo Ministério Público de Goiás por desvio de verbas. Temos no aeroporto então a conjunção Novo Terminal - Puxadinho, mostrada na foto aérea de 2007:


É muita incompetência. É muita irresponsabilidade. Eu fui uma das 40.000 vítimas desse descaso.

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