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As Mentiras do Governo

A meu ver o crítico mais virulento do governo petralha é o J. R. Guzzo. Na Veja de 10/09 ele se saiu com uma tirada impagável: "Governos que mentem para o público acabam mais cedo ou mais tarde mentindo para si mesmos e, pior ainda, acreditando nas mentiras que dizem; o resultado é que sempre chegam a uma situação em que não sabem mais fazer a diferença entre o que é verdadeiro e o que é falso".

Por outro lado, a Consultoria Empiricus, que foi vítima de uma investida petista na Justiça, exigindo a retirada de seu site de críticas à política econômica, relacionou as 10 mentiras principais do governo Dilma. São elas:
  1. A crise vem de fora.
  2. A política neoliberal vai aumentar o desemprego.
  3. A oposição quer acabar com o reajuste do salário mínimo.
  4. A política neoliberal proposta pela oposição vai promover arrocho salarial.
  5. O programa de Marina reduz a pó a política industrial.
  6. A política monetária foi exitosa.
  7. Precisamos de um pouco mais de inflação para não perder empregos.
  8. "As contas públicas estão absolutamente organizadas. O superavit primário, embora menor do que em 2008, é um dos maiores do mundo. Dizer que há uma desorganização é um absurdo".
  9. Nunca foi feito tanto pelo pobre neste país.
  10. A oposição faz terrorismo eleitoral.
É interessante ver que a mentira n° 10 é resultante de você concordar que qualquer das 9 afirmações anteriores é pura mentira. Por exemplo, se você concorda é é mentira que a crise vem de fora, então você é um terrorista eleitoral. Como eu entendo que as 9 afirmações são mentira, coitado de mim; devo pertencer ao ISIS tupiniquim.

Seria terrorismo eleitoral comparar Marina com Collor? Certamente que sim, já que Collor é parte da base de apoio ao governo; logo, Marina não pode se apoderar dessa comparação. Mas alto lá, quem compara Marina com Collor é o PT, o partido do governo. Dá pra entender?

Comecemos pela crise que vem de fora; Os chamados tigres latino-americanos, Chile, Colômbia e Peru, cresceram 4,1. 4,0 e 5,6% ao ano entre 2008 e 2013, enquanto a evolução média brasileira durante a administração Dilma deve crescer 1,7% ao ano. Logo, a crise não vem de fora, vem de dentro.

Quanto à mentira n°2, temos que o crescimento na era Dilma é o menor desde Floriano Peixoto, cujo governo se encerrou em 1894. Tivemos também o pior junho desde 1998 e o pior julho desde 1999. Logo, quem vai gerar desemprego é a atitude a ser tomada pelo novo governo. seja ele qual for, para consertar as bobagens perpetradas por um ministro que, muito embora demitido em um programa de rádio, continua a dar as cartas.

Já a mentira n° 3 é descaradamente uma das mais escabrosas: os dois candidatos da oposição já se comprometeram em manter a política de reajuste do salário mínimo. Além disso o aumento real do salário mínimo na era FHC foi de 4,7% ao ano, na era Lula de 5,5% e na era Dilma de 3,5%. Logo, de guardiã do salário mínimo Dilma não tem nada.

A n° 4 se relaciona com a n° 2. O arrocho salarial já existe em função da disparada da inflação. O que interessa para o assalariado não é tanto quanto ele ganha, mas sim se o seu poder de compra permanece inalterado ou cresce, e a leniência no combate à inflação leva necessariamente a uma deterioração do poder de compra.

A n° 5 é um vetor orientado no sentido contrário. Se a afirmação pertencesse a qualquer candidato da oposição ela seria uma verdade. A tal política de criação dos campeões nacionais, na qual o governo escolheu quem seriam os vencedores de cada área produtiva, levou toda a indústria a uma situação de descrédito na política do governo, e fez do BNDES uma depositário de dívidas impagáveis.

E a política monetária, teve êxito? Aqui o governo usa do artifício de que se a inflação está dentro da meta, tudo bem. Só que a meta por ele definida é muito elástica: até 6,5%, com média em 4,5%. Para dar uma ideia do que isso significa, em 10 anos a inflação calculada pelo teto da meta cresce 21% mais que a calculada pela média da meta. Tem mais: o IPCA de agosto foi de 6,51% em 12 meses, acima do teto da média.

A velha discussão entre inflação e crescimento, embora não seja explicitamente dita pelo governo, na prática é a que vem sendo implementada. Só que tem um detalhe: não temos crescimento e temos inflação; é o que os especialistas chamam de estagflação. Ou seja, não é preciso esperar que a oposição vença para começarmos a ter uma reviravolta no nível de emprego: ele já está chegando.

Quanto à mentira n° 8, em entrevista ao jornal Valor o (ex?) ministro Mântega se saiu com essa preciosidade. Dizem os especialistas que se tirarmos a maquiagem escondida nos seus cálculos é bem provável que o superavit primário não chegue a 0,5% do PIB.

E os pobres, melhoraram de vida? Sim e não. Pesquisa realizada pelo PNAD mostra que, depois de 10 anos ininterruptos de melhora, a desigualdade de renda parou de cair em 2012. A relação entre a renda dos 1% mais ricos e os 50% mais pobres aumentou de 0,66 para 0,69, quebrando uma série de 10 anos de avanço na distribuição de renda no Brasil. A conclusão óbvia é a de que a política heterodoxa do governo Dilma, além de não ter feito crescer o bolo, o distribuiu de forma mais desigual.

Mas segundo Gustavo Franco, o momento mais lamentável de todas as campanhas, em todos os tempos, está mostrado no vídeo abaixo:


Nele fica clara a decisão de sacrificar talvez a maior conquista já alcançada pela nossa sofrida sociedade, em função de uma vitória eleitoral. Foram necessários anos para que o Banco Central conseguisse construir sua credibilidade, ao vencer a hiperinflação, dar ao país uma moeda digna, manter a inflação sob controle, isso tudo graças à independência que lhe foi propiciada por FHC, e que foi acompanhado por Lula. É sempre bom lembrar que essas providências que resultaram no Plano Real foram constantemente solapadas pelo PT.

O anúncio acima destruiu todo esse patrimônio, ao afirmar que a independência significa na captura da moeda pelos bancos, em prejuízo do trabalhador. Segundo Franco é impossível imaginar maior desserviço à nossa moeda. Isso vem a significar que num governo que pensa assim quem manda na política monetária é o presidente, o ponto final.

A família de Emílio Botín, dono do Santander, recebeu de um grande político brasileiro uma carinhosa mensagem de condolências pela passagem de sua morte. Não, esse político não é a Marina, é o Lula (ainda bem...).

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