Segundo a revista Foreign Affairs de Março - Abril, a queda abrupta dos preços do petróleo representou uma grande transferência de riqueza dos produtores para os consumidores de algo como 1,5 trilhões de dólares até agora, ou algo em torno de 2% do PIB mundial. Existem ganhadores e perdedores, mas há duas razões para se esperar que essa transferência venha ser positiva para a economia global.
Em primeiro lugar, os consumidores têm um peso muito maior que os produtores no PIB global. Em segundo lugar, os países importadores, de acordo com a história recente, tendem a gastar uma parcela maior daquilo que chamamos de "lucro inesperado" que os exportadores. Países como os Estados Unidos e o Canadá são produtores e consumidores de energia, e para eles o quadro fica um pouco mais confuso.
Uma queda nos preços do petróleo e seus derivados (gasolina, diesel, combustível de aviação, óleo combustível, etc.) aumenta o poder aquisitivo dos consumidores e os negócios. Por exemplo, a queda e 1 dólar no preço do galão de gasolina nos Estados Unidos nos últimos meses equivale a uma queda de 100 bilhões de dólares em impostos. Some-se a isso o aumento da confiança do consumidor. Os negócios que são intensivos do uso do petróleo, como a agricultura e o transporte, têm uma significativa redução nos seus custos. A economia americana cresceu 5% no terceiro trimestre de 2014 em função disso.
Em países onde o subsídio e as tarifas são baixas, como os Estados Unidos, o impacto da queda dos preços do petróleo é bem maior que que naqueles países onde as tarifas e os subsídios são elevados, como na Europa. Mas os benefícios são evidentes de forma generalizada.
Existe no entanto um país que consegue a proeza de não se beneficiar de forma nenhuma dessa nova realidade. Adivinhem qual é: o nosso. Por aqui o preço da gasolina não vai cair porque, caso vocês estejam cientes ou não, fomos todos convocados para patrocinar a recuperação da empresa que o governo, com suas estratégias e seus cambalachos, conseguiu transformar na maior devedora mundial.
Vamos ver se consigo explicar como a coisa funciona por aqui, mas primeiro vejamos como ela funciona em um país que subsidia fortemente os combustíveis. Segundo Miriam Leitão em O Globo de 04/02/2014, a Indonésia declarou que gastaria em 2014 11% a mais em subsídios aos combustíveis do que tinha gasto em 2013. Em seguida a sua moeda perdeu 20% do seu valor, já que o mercado viu nessa decisão um erro estratégico. A Índia resolveu subir o preço do diesel tão logo a rúpia se desvalorizou. É claro que subir o preço dos combustíveis tem suas consequências, sendo a principal a queda da produção industrial, mas o fato é que está se tornando pesado demais manter os subsídios, daí ser necessário um critério refinado de controle dassa equação.
O Brasil nesse campo resolveu inovar, se é que esta é a palavra adequada: em 10/12/2013 o Presidente do Banco Central Alexandre Tombini negou peremptoriamente a existência de subsídios do governo aos preços dos combustíveis vendidos nos postos de todo o Brasil:
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,tombini-afirma-que-gasolina-nao-e-subsidiada-e-contradiz-petrobras,172518e
Para esse burocrata as perdas da Petrobrás em manter o preço dos combustíveis baixos são problema dela, uma empresa de capital aberto. Talvez ele nem saiba que eles são mantidos baixos exatamente por pressão do seu principal acionista, o governo. Pior ainda: qualquer brasileiro estranha quando a Petrobrás afirma quase chorando que está vendendo gasolina a um preço menor do que a produz ou compra. Como assim se estou pagando R$ 3,20 pelo litro da gasolina comum? A resposta é simples: o governo insiste em taxar os combustíveis em um nível tal que, independentemente do preço mundial do petróleo, toda a produção fica comprometida.
Em 22/04 a Petrobrás declarou que o seu endividamento tinha aumentado 31% em 2014, totalizando 351 bilhões de Reais:
Com isso a alavancagem da empresa cresceu para inacreditáveis 4,7, embora o seu conselho de administração tenha fixado o limite de 2,5. A alavancagem é a relação entra a dívida líquida e sua capacidade de geração de caixa (EBITDA). Para efeito de comparação, a Exxon, a maior petroleira do mundo registrou uma alavancagem de 0,48 em 2014.
A situação da Petrobrás é resultado em parte do saque que o PT fez ao seu caixa através de um esquema criminoso do qual estamos cansados de vivenciar, mas também deve ser creditado ao fato dela ter adotado uma política de preços ajustada à política econômica do governo. Estima-se que em três anos as perdas chegaram a 80 bilhões de Reais.
E o Tombini diz que não há subsídios, e na sua cabeça de burocrata ele está certo. Essa perda vai ser paga por mim, por você que está se dando ao trabalho de ler esse Post, por todos aqueles que enchem os tanques de seus carros, por todos os brasileiros que de uma forma ou outra precisam de combustível. Como disse o seu novo presidente Bendine, "a companhia passou por um período de dificuldade onde foi a mais prejudicada, mas retomará a capacidade enorme de geração de valor para os acionistas e toda a sociedade brasileira".
Luis Stuhlberger, dono do Fundo Verde, que administra 22 bilhões de Reais, e que já se valorizou mais de 10.000% no período em que o CDI rendeu 1.370% (Veja dessa semana), não está bem de acordo com Bendine:
"Um dos meus princípios é fugir das estatais. Por uma questão básica: elas não visam o lucro. Por que vou investir em uma empresa cujo objetivo é servir o Estado? Eu até aceito perder dinheiro quando tomo decisões baseadas em princípios corretos. Já perder investindo na Argentina, na Rússia ou na Petrobrás me traria um desgosto muito grande".
Pra finalizar, uma foto sua, meu caro leitor, enchendo o seu tanque:
Em primeiro lugar, os consumidores têm um peso muito maior que os produtores no PIB global. Em segundo lugar, os países importadores, de acordo com a história recente, tendem a gastar uma parcela maior daquilo que chamamos de "lucro inesperado" que os exportadores. Países como os Estados Unidos e o Canadá são produtores e consumidores de energia, e para eles o quadro fica um pouco mais confuso.
Uma queda nos preços do petróleo e seus derivados (gasolina, diesel, combustível de aviação, óleo combustível, etc.) aumenta o poder aquisitivo dos consumidores e os negócios. Por exemplo, a queda e 1 dólar no preço do galão de gasolina nos Estados Unidos nos últimos meses equivale a uma queda de 100 bilhões de dólares em impostos. Some-se a isso o aumento da confiança do consumidor. Os negócios que são intensivos do uso do petróleo, como a agricultura e o transporte, têm uma significativa redução nos seus custos. A economia americana cresceu 5% no terceiro trimestre de 2014 em função disso.
Em países onde o subsídio e as tarifas são baixas, como os Estados Unidos, o impacto da queda dos preços do petróleo é bem maior que que naqueles países onde as tarifas e os subsídios são elevados, como na Europa. Mas os benefícios são evidentes de forma generalizada.
Existe no entanto um país que consegue a proeza de não se beneficiar de forma nenhuma dessa nova realidade. Adivinhem qual é: o nosso. Por aqui o preço da gasolina não vai cair porque, caso vocês estejam cientes ou não, fomos todos convocados para patrocinar a recuperação da empresa que o governo, com suas estratégias e seus cambalachos, conseguiu transformar na maior devedora mundial.
Vamos ver se consigo explicar como a coisa funciona por aqui, mas primeiro vejamos como ela funciona em um país que subsidia fortemente os combustíveis. Segundo Miriam Leitão em O Globo de 04/02/2014, a Indonésia declarou que gastaria em 2014 11% a mais em subsídios aos combustíveis do que tinha gasto em 2013. Em seguida a sua moeda perdeu 20% do seu valor, já que o mercado viu nessa decisão um erro estratégico. A Índia resolveu subir o preço do diesel tão logo a rúpia se desvalorizou. É claro que subir o preço dos combustíveis tem suas consequências, sendo a principal a queda da produção industrial, mas o fato é que está se tornando pesado demais manter os subsídios, daí ser necessário um critério refinado de controle dassa equação.
O Brasil nesse campo resolveu inovar, se é que esta é a palavra adequada: em 10/12/2013 o Presidente do Banco Central Alexandre Tombini negou peremptoriamente a existência de subsídios do governo aos preços dos combustíveis vendidos nos postos de todo o Brasil:
http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,tombini-afirma-que-gasolina-nao-e-subsidiada-e-contradiz-petrobras,172518e
Para esse burocrata as perdas da Petrobrás em manter o preço dos combustíveis baixos são problema dela, uma empresa de capital aberto. Talvez ele nem saiba que eles são mantidos baixos exatamente por pressão do seu principal acionista, o governo. Pior ainda: qualquer brasileiro estranha quando a Petrobrás afirma quase chorando que está vendendo gasolina a um preço menor do que a produz ou compra. Como assim se estou pagando R$ 3,20 pelo litro da gasolina comum? A resposta é simples: o governo insiste em taxar os combustíveis em um nível tal que, independentemente do preço mundial do petróleo, toda a produção fica comprometida.
Em 22/04 a Petrobrás declarou que o seu endividamento tinha aumentado 31% em 2014, totalizando 351 bilhões de Reais:
A situação da Petrobrás é resultado em parte do saque que o PT fez ao seu caixa através de um esquema criminoso do qual estamos cansados de vivenciar, mas também deve ser creditado ao fato dela ter adotado uma política de preços ajustada à política econômica do governo. Estima-se que em três anos as perdas chegaram a 80 bilhões de Reais.
E o Tombini diz que não há subsídios, e na sua cabeça de burocrata ele está certo. Essa perda vai ser paga por mim, por você que está se dando ao trabalho de ler esse Post, por todos aqueles que enchem os tanques de seus carros, por todos os brasileiros que de uma forma ou outra precisam de combustível. Como disse o seu novo presidente Bendine, "a companhia passou por um período de dificuldade onde foi a mais prejudicada, mas retomará a capacidade enorme de geração de valor para os acionistas e toda a sociedade brasileira".
Luis Stuhlberger, dono do Fundo Verde, que administra 22 bilhões de Reais, e que já se valorizou mais de 10.000% no período em que o CDI rendeu 1.370% (Veja dessa semana), não está bem de acordo com Bendine:
"Um dos meus princípios é fugir das estatais. Por uma questão básica: elas não visam o lucro. Por que vou investir em uma empresa cujo objetivo é servir o Estado? Eu até aceito perder dinheiro quando tomo decisões baseadas em princípios corretos. Já perder investindo na Argentina, na Rússia ou na Petrobrás me traria um desgosto muito grande".
Pra finalizar, uma foto sua, meu caro leitor, enchendo o seu tanque:
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