Em março de 2014 fiz um Post que mostrava a preocupação com a diminuição gradual da população ateia a nível global:
http://ceticocampinas.blogspot.com.br/2014/03/o-ateismo-esta-com-os-dias-contados.html
Isso com base em artigo de Luiz Felipe Pondé na Folha de São Paulo de 03/03/14, a qual dava como fator predominante o fato de os ateus terem poucos filhos.
Para minha surpresa e alegria me deparei com reportagem no Estadão de 10/04, o qual diz que o número de ateus no Brasil tem aumentado consistentemente, e isso já é motivo de preocupação por parte da Igreja Católica. Segundo a reportagem essa preocupação já é maior que a com o crescimento das religiões evangélicas.
Dados da Assembléia Geral da CNBB mostraram que o número de brasileiros que se declaram ateus cresceu de 7,9% em 2010 para 8,9% em 2014, o que reflete uma média de 3% ao ano. Segundo a CNBB esse crescimento é resultado do cada vez maior pluralismo religioso. Por mais de 400 anos o brasileiro nascia e era obrigado a ser católico, mas a democracia finalmente chegou ao ambiente religioso, e a opção de não ter religião também conseguiu o seu lugar.
Como o ateísmo em sociedades que passaram pelo horror da Inquisição tem como característica ser pouco agressivo, a CNBB o encara mais como um "indiferentismo". O crescimento do ateísmo é particularmente preocupante porque não é resultado de nenhuma campanha de marketing no estilo das igrejas evangélicas, ele é espontâneo. Existem tentativas de associá-lo à ideologia marxista que dominou a educação no Brasil, mas o fato é que vivemos modernamente em um Estado laico, e as iniciativas de tornar as escolas públicas laicas têm dado como resultado uma mudança no conceito de família, com o respeito às diferenças e à dignidade humana.
A Igreja Católica, em suas celebrações, não tem sido enfática em suas mensagens de tolerância. Pelo contrário, o que vemos é um Papa pregando misericórdia e seus bispos o sabotando. Em um documento recente, a Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), ele apela por mais tolerância por parte da Igreja em relação aos arranjos familiares modernos, sugerindo que as leis católicas "não são pedras para serem atiradas sobre a vida das pessoas".
O crescimento do ateísmo não está se dando apenas no Brasil. Embora os ateus reproduzam menos, seu comportamento social ameno tem atraído adeptos a nível global, e já existe quem defenda que esse movimento deve se tornar constante. Segundo Phil Zuckerman, professor de sociologia do Pitzer College na Califórnia, nunca houve tantos ateus no mundo, tanto em números absolutos quanto em porcentagem da humanidade. O Instituto Gallup International entrevistou 50 mil pessoas em 57 países, e concluiu que o número de religiosos caiu de 77% para 68% entre 2005 e 2011, e o número dos que se identificaram como ateus cresceu de 10% para 13%.
Os países com menores índices de crença religiosa no mundo são, pela ordem, Japão, Grã Bretanha, Canadá, Coréia do Sul, Holanda, República Tcheca, Estônia, Alemanha, França e Uruguai (por sua forte imigração europeia). No entanto o que se observa é um forte declínio da religiosidade a nível global, inclusive no Brasil, na Jamaica e na Irlanda. Entre os países ricos do mundo a exceção são os Estados Unidos. Mesmo assim, segundo o Pew Institute, a população de ateus por lá cresceu de 1,6% em 2007 para 2,4% em 2011.
Mas voltemos ao Brasil. Para fazer frente à influência dos grupos religiosos na política, os ateus brasileiros passaram se mobilizar através das redes sociais e de eventos temáticos em todo o país.
Pelo censo de 2010 eles eram uma minoria de 615 mil pessoas em um universo de 15 milhões que se diziam "sem religião".
Aqui verificamos uma incongruência entre os dados do CNBB e os do IBGE. Quinze milhões de "sem religião", são 7,5% da população brasileira, e tudo indica que a CNBB considerou todos os "sem religião" como ateus. Mas eles podem também ser céticos ou agnósticos. E qual é a diferença? A melhor resposta que encontrei foi que o ateu não credita em Deus, o cético não acredita em nada, e o agnóstico crê que existe uma divindade, só que não é o Deus que as religiões cultuam. Mas tudo isso para a CNBB é cosmético: ateus, céticos e agnósticos incomodam de forma igual.
Podemos fazer uma comparação interessante entre um católico e um ateu: em ambos os casos há os "praticantes" e os "não praticantes", e segundo o IBGE os ateus praticantes são 615 mil. E o que eles fazem? Novas associações estão sendo criadas para discutir questões como o combate ao preconceito e a defesa da laicidade do Estado brasileiro. A Internet vem sendo usada com sucesso na divulgação dos conceitos do ateísmo; as aproximações com minorias religiosas vítimas de preconceito têm tido relativo sucesso: são os religiosos afro-brasileiros, também vitimas de forte discriminação, os homossexuais. Porém o mais comum é os sites ateus serem invadidos por mensagens de ódio provenientes principalmente de grupos fundamentalistas.
Há casos interessantes: a Liga Humanista Secular do Brasil tem 3% de religiosos entre seus membros e mais de 500 filiados que não se declaram ateus. Em geral são membros de igrejas inclusivas, como as que aceitam homossexuais. Elas se associam a uma entidade de viés ateu com a finalidade de combater as arbitrariedades cometidas pelas instituições religiosas, e se opor à bancada teocrática no Congresso.
http://ligahumanista.org/
https://www.facebook.com/lihsbrasil/
Tudo o que os ateus querem com sua mensagem secular não chega nem perto de uma sociedade laica impositiva. É exatamente o contrário; eles não querem que um dia exista um governo que os obrigue a fingir que eles têm uma religião. Perto de minha casa há um supermercado que vende alheiras. Trata-se de um entubado da culinária portuguesa que tem como ingredientes carne de aves, pão , azeite, alho e colorau. Segundo a tradição, esse entubado foi criado por cristãos novos que, em segredo, guardavam os costumes de sua religião judaica proibida. Uma forma de descobrir judeus era ver se no seu quintal havia linguiça pendurada, já que os judeus não comem porco. A alheira servia como disfarce à linguiça. Os ateus não querem que isso se repita.
http://ceticocampinas.blogspot.com.br/2014/03/o-ateismo-esta-com-os-dias-contados.html
Isso com base em artigo de Luiz Felipe Pondé na Folha de São Paulo de 03/03/14, a qual dava como fator predominante o fato de os ateus terem poucos filhos.
Para minha surpresa e alegria me deparei com reportagem no Estadão de 10/04, o qual diz que o número de ateus no Brasil tem aumentado consistentemente, e isso já é motivo de preocupação por parte da Igreja Católica. Segundo a reportagem essa preocupação já é maior que a com o crescimento das religiões evangélicas.
Dados da Assembléia Geral da CNBB mostraram que o número de brasileiros que se declaram ateus cresceu de 7,9% em 2010 para 8,9% em 2014, o que reflete uma média de 3% ao ano. Segundo a CNBB esse crescimento é resultado do cada vez maior pluralismo religioso. Por mais de 400 anos o brasileiro nascia e era obrigado a ser católico, mas a democracia finalmente chegou ao ambiente religioso, e a opção de não ter religião também conseguiu o seu lugar.
Como o ateísmo em sociedades que passaram pelo horror da Inquisição tem como característica ser pouco agressivo, a CNBB o encara mais como um "indiferentismo". O crescimento do ateísmo é particularmente preocupante porque não é resultado de nenhuma campanha de marketing no estilo das igrejas evangélicas, ele é espontâneo. Existem tentativas de associá-lo à ideologia marxista que dominou a educação no Brasil, mas o fato é que vivemos modernamente em um Estado laico, e as iniciativas de tornar as escolas públicas laicas têm dado como resultado uma mudança no conceito de família, com o respeito às diferenças e à dignidade humana.
A Igreja Católica, em suas celebrações, não tem sido enfática em suas mensagens de tolerância. Pelo contrário, o que vemos é um Papa pregando misericórdia e seus bispos o sabotando. Em um documento recente, a Amoris Laetitia (A Alegria do Amor), ele apela por mais tolerância por parte da Igreja em relação aos arranjos familiares modernos, sugerindo que as leis católicas "não são pedras para serem atiradas sobre a vida das pessoas".
O crescimento do ateísmo não está se dando apenas no Brasil. Embora os ateus reproduzam menos, seu comportamento social ameno tem atraído adeptos a nível global, e já existe quem defenda que esse movimento deve se tornar constante. Segundo Phil Zuckerman, professor de sociologia do Pitzer College na Califórnia, nunca houve tantos ateus no mundo, tanto em números absolutos quanto em porcentagem da humanidade. O Instituto Gallup International entrevistou 50 mil pessoas em 57 países, e concluiu que o número de religiosos caiu de 77% para 68% entre 2005 e 2011, e o número dos que se identificaram como ateus cresceu de 10% para 13%.
Os países com menores índices de crença religiosa no mundo são, pela ordem, Japão, Grã Bretanha, Canadá, Coréia do Sul, Holanda, República Tcheca, Estônia, Alemanha, França e Uruguai (por sua forte imigração europeia). No entanto o que se observa é um forte declínio da religiosidade a nível global, inclusive no Brasil, na Jamaica e na Irlanda. Entre os países ricos do mundo a exceção são os Estados Unidos. Mesmo assim, segundo o Pew Institute, a população de ateus por lá cresceu de 1,6% em 2007 para 2,4% em 2011.
Mas voltemos ao Brasil. Para fazer frente à influência dos grupos religiosos na política, os ateus brasileiros passaram se mobilizar através das redes sociais e de eventos temáticos em todo o país.
Pelo censo de 2010 eles eram uma minoria de 615 mil pessoas em um universo de 15 milhões que se diziam "sem religião".
Aqui verificamos uma incongruência entre os dados do CNBB e os do IBGE. Quinze milhões de "sem religião", são 7,5% da população brasileira, e tudo indica que a CNBB considerou todos os "sem religião" como ateus. Mas eles podem também ser céticos ou agnósticos. E qual é a diferença? A melhor resposta que encontrei foi que o ateu não credita em Deus, o cético não acredita em nada, e o agnóstico crê que existe uma divindade, só que não é o Deus que as religiões cultuam. Mas tudo isso para a CNBB é cosmético: ateus, céticos e agnósticos incomodam de forma igual.
Podemos fazer uma comparação interessante entre um católico e um ateu: em ambos os casos há os "praticantes" e os "não praticantes", e segundo o IBGE os ateus praticantes são 615 mil. E o que eles fazem? Novas associações estão sendo criadas para discutir questões como o combate ao preconceito e a defesa da laicidade do Estado brasileiro. A Internet vem sendo usada com sucesso na divulgação dos conceitos do ateísmo; as aproximações com minorias religiosas vítimas de preconceito têm tido relativo sucesso: são os religiosos afro-brasileiros, também vitimas de forte discriminação, os homossexuais. Porém o mais comum é os sites ateus serem invadidos por mensagens de ódio provenientes principalmente de grupos fundamentalistas.
Há casos interessantes: a Liga Humanista Secular do Brasil tem 3% de religiosos entre seus membros e mais de 500 filiados que não se declaram ateus. Em geral são membros de igrejas inclusivas, como as que aceitam homossexuais. Elas se associam a uma entidade de viés ateu com a finalidade de combater as arbitrariedades cometidas pelas instituições religiosas, e se opor à bancada teocrática no Congresso.
http://ligahumanista.org/
https://www.facebook.com/lihsbrasil/
Tudo o que os ateus querem com sua mensagem secular não chega nem perto de uma sociedade laica impositiva. É exatamente o contrário; eles não querem que um dia exista um governo que os obrigue a fingir que eles têm uma religião. Perto de minha casa há um supermercado que vende alheiras. Trata-se de um entubado da culinária portuguesa que tem como ingredientes carne de aves, pão , azeite, alho e colorau. Segundo a tradição, esse entubado foi criado por cristãos novos que, em segredo, guardavam os costumes de sua religião judaica proibida. Uma forma de descobrir judeus era ver se no seu quintal havia linguiça pendurada, já que os judeus não comem porco. A alheira servia como disfarce à linguiça. Os ateus não querem que isso se repita.
P.S. - Para quem tem algum tipo de restrição ou preconceito com os entubados, sugiro a alheira. Tenho feito experiências com ela e me dei muito bem.
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