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Sobre os Perigos que não Vemos

Antes algumas definições:

Micro-organismos ou micróbios: são organismos que só podem ser vistos ao microscópio. Incluem os vírus, as bactérias, os protozoários, as algas unicelulares, fungos, ácaros, etc.(Wikipedia).

Bactérias: São seres vivos microscópicos, portanto micróbios, constituídos por uma única célula. Elas medem em torno de 1 mícron (1 milésimo de milímetro) e geralmente apresentam a forma de uma bola ou bastão.

Vírus: do latim "veneno", é um agente infeccioso reduzido ao mínimo, uma capsula proteica, cerca de 20 vezes menor que a bactéria. Ele invade as células hospedeiras e interfere em suas funções de replicação. 

Antibióticos: medicamentos usados combater infecções causadas por micro-organismos que infectam outro organismo. Eles não destroem os vírus, mas atingem as bactérias matando-as (bactericidas) ou interrompendo sua reprodução (bacteriostáticos).

Antivirais: medicamentos usados para tratar infecções virais. Os mais conhecidos hoje são aqueles que lidam com o HIV, o vírus da Herpes, da Hepatite B e C, e da Influenza A e B.

Agora um papo informal:

Aquelas pessoas que conhecemos, que se preocupam muito com esses seres que não conseguimos ver, em geral assumem um comportamento extremamente antissocial. Diz-se por exemplo que o grande Louis Pasteur tinha a mania de levar consigo uma lente de aumento para examinar os pratos que lhe eram servidos. Li esta semana no Estadão que Howard Hughes tinha em seus carros um purificador do ar condicionado que ocupava todo o parta malas.

Esse tipo se preocupação na verdade não faz muito sentido. É como se dizer que só devemos nos preocupar com aquilo que podemos resolver. As células humanas constituem não mais que 43% da contagem total de células do nosso corpo. O restante são micro organismos, o chamado microbioma que levamos conosco.

Até pouco tempo atrás se pensava que havia 10 células não humanas para cada humana no nosso corpo, Recentemente esse número foi corrigido para uma relação perto de 1:1. No entanto, geneticamente, essa desvantagem é bem maior. 

O genoma humano é composto de 20 mil instruções que chamamos genes, mas o nosso microbioma pode chegar a 20 milhões de instruções de genes microbianos. Então podemos dizer que o que nos torna humanos é algo muito maior que o nosso DNA, é a combinação dele com o DNA dos nossos micróbios intestinais. São as bactérias do nosso intestino que tornam possível a nossa digestão, regulam o nosso sistema imunológico nos protegendo contra doenças e produzem as vitaminas sem as quais não sobreviveríamos.

A ciência está considerando uma nova abordagem no tratamento dos micróbios que nos habitam, que tem sido até agora a de inimigos em uma guerra. As armas criadas até agora foram os antibióticos e as vacinas, e as conquistas nessa luta têm sido enormes a salvaram muitas vidas. No entanto hoje em dia existe uma certa preocupação, porque este ataque constante aos vilões causadores de doenças também trazem danos muito grandes às nossas bactérias do bem. 

Nos últimos 50 anos tivemos um enorme sucesso na eliminação de doenças infecciosas, mas temos visto um crescimento assustador das doenças autoimunes e das alergias. O ataque que o nosso microbioma sofreu nessa guerra resultou no crescimento significativo do mal de Parkinson, da doença inflamatória intestinal, do autismo, da obesidade. Credita-se a obesidade ao histórico familiar e ao estilo de vida, sem se levar em conta o que pode ter ocorrido com o micobioma intestinal.

Uma experiência conduzida com ratos mostrou que o transplante de fezes de humanos magros e obesos em camundongos pode torná-los mais magros ou mais gordos, com uma mesma dieta. Isso pode provar que o microbioma do obeso está tendo papel de protagonista na sua obesidade. Quando se está doente isso pode ser sinal de que existem micróbios a menos em nosso organismo, e a nova abordagem é introduzi-los. Resumindo, em vez de atacar o inimigo com uma munição pesada que acaba se tornando um "fogo amigo" a ideia é aumentar o nosso microbioma, o nosso exército. 

Outro papo informal

Nossa relação com as bactérias é antiga, e culminou com a descoberta da penicilina, mas é bom não nos iludirmos. Elas são MUITO mais antigas que nós nesse planeta, este é o SEU planeta, não nosso. Seu trabalho nos nossos intestinos é fundamental para a nossa sobrevivência, além de atuarem como soldados contra os micróbios que engolimos. Mas então surge a pergunta: que interesse teriam as bactérias em nos prejudicar, nós que somos o seu planeta? Bem, podemos garantir que a grande maioria delas é neutra ou benéfica em relação a nós. Estima-se que apenas uma em mil é capaz de produzir efeitos danosos em nosso organismo. 

Para essas bactérias e vírus danosos existe uma estratégia. Os sintomas ajudam a espalhar a doença que eles causam. São eles o vômito, o espirro, a diarreia, que os posicionam no sentido de procurar outro hospedeiro. Outra arma utilizada é contar com a ajuda de um colaborador, que os especialistas chamam de vetor, e para isso os mosquitos são fundamentais. O seu ferrão os injeta diretamente no nosso sangue, onde eles podem trabalhar sem que nossos mecanismos de defesa tenham sido alertados para a invasão. 

A malária, a febre amarela, a dengue, a zica, a chikungunya, enfim, centenas de doenças, começam em nosso organismo pela picada de um mosquito. Mas aí surge a pergunta: se a AIDS ficou conhecida pelo contágio através de agulhas, por que o mosquito não é um vetor dela? A resposta que consegui foi que, por enquanto, por se tratar de um vírus novo para o seu organismo, o HIV que ele absorve é eliminado em seu metabolismo. Mas pode acontecer de o vírus conseguir, a exemplo dos outros mais antigos, contornar essa limitação, e aí podemos dizer que a civilização estará realmente em apuros.

Por outro lado o seu corpo possui uma multidão de glóbulos brancos que constituem seu exército defensivo. São perto de 10 milhões de diferentes tipos de soldados prontos para destruir os invasores. Ao sermos invadidos as sentinelas identificam o atacante e convocam os reforços certos para combater o invasor identificado. Enquanto as tropas certas estão sendo preparadas você passa mal e só vai começar a se recuperar quando elas entrarem em ação.

A luta é implacável e os atacantes recorrem a duas estratégias para se defender. Eles passam para um novo hospedeiro, ou se disfarçam para que os glóbulos brancos não consigam detetá-los. Ano passado por exemplo eu sofri um ataque do vírus de uma catapora que me atacou quando criança no interior do Pará. O vírus ficou escondido e 60 e tantos anos depois resolveu transformar meu lado direito do meu abdome numa ferida enorme, a tal Herpes Zoster. Passado algum tempo recorri a uma vacina caríssima para tentar não passar novamente por isso. Acho que todo idoso que acredita em vacinas deveria seguir esse exemplo. A Herpes Zoster adora idosos. 

Mais um papo informal, o último

Assistindo à Globo News vi um epidemiologista cujo nome não guardei dizer mais ou menos o seguinte:

Vamos tentar deixar em paz os vírus porque nós não podemos com eles. Vejam o caso atual: os chineses invadiram o habitat natural dos morcegos. e seus vírus então migraram para os invasores e se espalharam pelo mundo inteiro. A Amazônia possui vírus que sequer conhecemos e a devastação que estamos fazendo, além de resultar em forte impacto ambiental, tem potencial para criar uma pandemia equivalente à de uma Ebola a nível mundial. Existe um vírus chamado Sabiá no Brasil de letalidade equivalente.

Resolvi fazer uma breve investigação no tal Sabiá e encontrei,entre outros:


Resumido: Em 11 de janeiro passado faleceu por febre hemorrágica brasileira em Sorocaba um homem que passou férias no Vale do Ribeira. Entre o início dos sintomas em 30 de dezembro e o óbito ele passou por 3 hospitais, sendo o último o HC da USP. "O vírus identificado tem 88% de similaridade com o vírus Sabiá, mas não é exatamente igual. É um vírus novo", declarou o Dr. João Rebelo da USP.

Trabalhos com esse tipo de vírus só são realizados em laboratórios com nível máximo de segurança e não há nenhum no Brasil, e os pesquisadores que identificaram o vírus não foram mais autorizados a trabalhar com as amostras. Ele está na mesma classe de vírus do africano Ebola que tem a classificação máxima de número 4, que são os causadores de febres hemorrágicas, e o coronavírus SARS. Amostras foram encaminhadas para o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Undos.

Os arenavirus são transmitidos pelas fezes de roedores silvestres que vivem nas matas e áreas rurais e periurbanas. Apesar da ocorrência de casos ser pequena a doença é de uma fatalidade enorme, no mesmo nível do Ebola e do Marburg (cidade alemã, os vírus são democráticos).

Ao ler esse artigo me veio a lembrança que ano passado faleceram no meu bairro duas pessoas com quem tinha grande afinidade. Moro na periferia de Campinas em uma casa agradável para se passar uma quarentena, com 15 palmeiras enormes que despejam no mínimo 15 folha por més, que precisam ser picadas e ensacadas caso contrário o lixeiro não leva. Mas vale a pena.

Os sintomas apresentados foram os mesmos para os dois. Como há uma certa incidência de febre maculosa na região, o que faz os moradores encararem com desconfiança a quantidade de capivaras que moram por aqui, a ponto de condomínios fechados terem declarado guerra a elas, essas mortes que ocorrem acabam sindo creditadas à febre maculosa, que é causada pela picada do carrapato estrela. Nos estados Unidos ela recebe o nome de Rocky Montaim Disease. 

Minha mania de passar as tarde pescando nos pesqueiros da região está sub judice em função desses episódios. Não bastassem a dengue, a chikungunya e a zica agora tenho que me preocupar com a febre maculosa e uma eventual Febre Hemorrágica Brasileira. Isso pra não falar da COVID19.

Conclusão

A conclusão a que chegamos é que a orientação que demos ao desenvolvimento do progresso científico está totalmente equivocada. Abro os jornais e revistas e o que vejo são enormes investimentos para enviar voos tripulados a Marte, reviver espécies extintas. Mas no que diz respeito àquilo que nos interessa, a garantia da nossa integridade física, até essa pandemia o que se via não passava de novos remédios de uso contínuo. 

Segundo li não existia grandes novidades no combate aos vírus e bactérias, que nos agridem de forma eventual. Esses remédios não dão lucro de forma contínua. Bastou no entanto uma situação como a atual para mais de 100 empresas se lançarem numa verdadeira olimpíada para conseguir os lucros de uma vacina eficaz. Chegamos ao ponto de governos comprarem  com antecedência todo o estoque de uma vacina futura em detrimento da humanidade como um todo. Albert Sabin se recusou a patentear sua vacina, e deve estar se revirando no túmulo com tanta indignidade. 

Mostrei esses argumentos a uma pessoa muito próxima e ela respondeu que em compensação os progressos tecnológicos levaram a medicina a uma enorme eficiência, principalmente nas intervenções cirúrgicas. Não deixa de ser verdade e eu mesmo sou prova disso: Já fiz mais de uma dezena de cirurgias e com toda certeza, sem a presença de algumas não estaria vivo. O maior exemplo foi um câncer de próstata que foi curado no Sírio Libanês de São Paulo pela mão do Dr. Miguel Srougi em 1998. Tinha me dado 5 anos de vida e já ganhei 22. Houve também uma cirurgia de catarata recente que me facilitou enormemente a visão, E os sete parafusos que tenho na perna direita sem os quais não conseguiria andar. Enfim, desde a minha cirurgia de amídalas aos sete anos que eu convivo com o bisturi. 

Só que vou fazer uma observação: esse progresso todo em uma comparação seria investir fortemente no ensino superior desprezando o ensino básico. Outro amigo ao discutir esse assunto alegou que a medicina no Brasil é de primeira linha dada a excelência de seus cirurgiões em várias especialidades. Sinceramente eu preferiria uma medicina onde a paciente não tivesse que passar o que passa por exemplo pra fazer uma mamografia em um hospital público.

Só que nesse caso provavelmente eu não estaria vivo pra pensar assim...

Pra finalizar um vídeo amigo da minha filha Claudia:




Comentários

  1. Estou convencido que a passagem da raça humana na terra é temporária.
    Estamos aqui a poucos milênios e sumiremos assim como já sumiram mais de 99% das espécies que aqui habitaram

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