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MARX, na opinião de um leigo. E outras coisas.

Estou terminando de ler um grande livro. Seu nome é ... "Grandes Livros (Great Books)", de David Demby, um crônico de cinema que tomou a decisão de voltar à Universidade de Colúmbia em 1991, para assistir novamente a dois cursos, "Letras Clássicas" e "Civilização Contemporânea", que ele já tinha cursado 30 anos atrás, em 1961. 

Os dois cursos percorrem obras primas da literatura e da filosofia, passando por Homero, Safo, Platão, Sófocles, Aristóteles, Ésquilo e Eurípides, Virgílio, O Antigo Testamento, O Novo Testamento, Santo Agostinho, Maquiavel, Hobbes e Locke, Dante, Boccaccio, Hume e Kant, Montaigne, Rousseau, Shakespeare, Hegel, Austen, Marx e Mill, Nietzsche, Beauvoir, Conrad, Woolf. Entendo que a decisão de ter voltado a assistir a estes dois cursos foi verificar as atualizações pelas quais eles passaram, mas principalmente ver qual a reação dos alunos a eles nas duas ocasiões.

Era óbvio que o ambiente nas universidades em 1991 era totalmente diferente daquele de 1961. Eu mesmo vejo essa diferença aqui no Brasil, pois ao entrar na Universidade em 1963 sequer me passava pela cabeça qualquer preocupação por exemplo em conseguir emprego, pois estava em uma faculdade de boa reputação. Então para ele parecia interessante sentir de perto qual a reação dos alunos às posições defendidas pelos professores, principalmente com aqueles autores que, como Rousseau ou Marx, lançaram ideias revolucionárias a respeito das ideologias. 

Como a diversidade racial dos alunos também era muito mais variada, certamente ocorreu uma contestação ao perfil "branco" do currículo, e a cobrança da inserção de autores "não ocidentais". Alunos de origem africana e asiática, raros em 1961, se levantaram contra este fato. Mas é minha intenção, na medida em que minha competência permitir, apresentar alguns desses autores. Começarei por aquele que hoje só encontra algum crédito no ambiente universitário, já que aqueles que ainda o defendem fora desse ambiente estão na mesma direção daqueles que utilizaram Karl Marx para torná-lo motivo de piada, dados os fracassos desencadeados pelo uso errado de suas teorias.

David Demby teve a sorte de assistir a uma palestra de um importante historiador do marxismo, o polonês Leszek Kolakowski, na mesma ocasião em que Marx estava sendo apresentado no curso. Vejamos o que disse na palestra este importante autor:

"A teoria de Marx explica alguma coisa no nosso mundo? A teoria de Marx dá alguma chance para se prever o que acontecerá? A resposta é não, Marx não explica nada. Não existe uma distinção clara na teoria marxista entre explicação e profecia. Todas as profecias importantes de Marx acabaram não se realizando.

A revolução do proletariado não ocorreu em lugar nenhum. O que ocorreu de mais parecido com uma revolução de classe trabalhadora foi uma revolução dos operários na Polônia, que acabou sob o símbolo do crucifixo e abençoada pelo Papa. Quanto às demais certezas de Marx, a garantia do fim do lucro e a obstrução do progresso do capitalismo, elas também estavam erradas. A verdade é que ocorreu exatamente o contrário do que ele disse. O mercado estimulou a economia. O socialismo ficou esgotado".

Dá para imaginar o mal estar que isso causou no auditório de uma universidade. Boa parte dos presentes se retirou, já que eles tinham sua base intelectual calcada nas teorias de Marx. Para Demby, a intenção do palestrante foi castigar aqueles que acreditaram tanto no marxismo, em vista das dificuldades que as sociedades comunistas do leste europeu estavam passando, para readquirir os valores e estruturas que os europeus do oeste tanto defendiam. As universidades ocidentais em geral ainda duvidavam do que aconteceu no leste europeu, onde os intelectuais do partido questionaram as instituições democráticas e as liberdades, considerando-as ferramentas do mercado. 

Do ponto de vista dos professores, tanto de 1991 como de 1961, Marx nunca teceu referências à necessidade de um estado autoritário, e não foi apenas o comunismo soviético que usou seu nome para conquistar o poder. Os partidos socialistas democráticos, principalmente os da Europa, e as reformas feitas no capitalismo, tiveram origem nas críticas que Marx lançou. Mesmo o capitalismo americano seria muito mais cruel sem as reformas introduzidas nele resultantes do movimento trabalhista.

David Demby resolveu então procurar nos livros de Marx pontos defendidos por ele, à procura de algo que pudesse reabilitá-lo, pelo menos da acusação de não ter contribuído em nada, de ter sido um engodo. Vejamos o que ele achou:

"A burguesia, sempre que obteve o domínio, pôs termo a todas as relações feudais, patriarcais e idílicas. Desapiedadamente, rompeu os laços feudais heterogêneos que ligavam o homem aos seus "superiores naturais" e não deixou restar vínculo algum entre um homem e outro além do interesse pessoal estéril, além do "pagamento em dinheiro" insensível. No lugar das inumeráveis liberdades privilegiadas, implantou essa liberdade única, inescrupulosa, o Mercado Livre. Em uma palavra, substituiu a exploração velada, por ilusões religiosas e políticas, pela exploração aberta, impudente, direta e brutal."

Tudo oque Marx escreve deve ser lido duas vezes, o que eu sugiro. Esse trecho do Manifesto Comunista, um panfleto escrito para a Liga Comunista Inglesa, não era uma obra erudita de Marx. Ele foi feito para um público que sabia que a única coisa a se esperar do capitalismo industrial era o sofrimento. Alguns o consideram "o mais eficaz texto histórico do mundo inteiro, com exceção da Bíblia", como instrumento de persuasão. Traduzindo o que Marx quis dizer, deve-se considerar que tudo na Europa, e em particular na Inglaterra, tinha mudado nos últimos 100 anos. O trabalho, o relacionamento, o acúmulo de capital, os produtos, o dinheiro. As coisas eram agora o fator dominante no ambiente onde viviam as pessoas, que dependiam do dinheiro para adquiri-las. Foi Marx, ainda jovem, quem chamou para si a responsabilidade de batizar e analisar essa mudança. Vejam o que pensava o jovem Marx:

"O trabalhador, quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e alcance, mais pobre se torna. Da crescente "valorização" do mundo das coisas decorre em proporção direta a "desvalorização"  do mundo dos homens. O produto do trabalho é o que foi congelado num objeto, que se tornou material, é a "objetivação" do trabalho. Essa realização do trabalho aparece como "perda de realidade" para os trabalhadores; a objetivação, como "perda do objeto" e servidão ao objeto. É verdade que o trabalho produz para os ricos coisas maravilhosas, mas para o trabalhador ele produz privação. Produz palácios, mas para o trabalhador, choupanas, Produz inteligência, mas para o trabalhador, idiotice, cretinice."

Se lerem novamente o trecho acima, como eu recomendei, e fizerem esforço de trazer o que ele disse para a realidade que estamos vivendo, poderão chegar à mesma conclusão que Demby: o que Marx disse aqui não foi apenas a respeito do começo do capitalismo, foi sobre o que estamos vivendo agora. Pode ser que você não concorde com a conclusão de Demby, mas me tirando como exemplo, por décadas eu dividi a minha vida em duas partes: trabalho e lazer, ganhar e gastar, e mergulhei no trabalho, por muitos anos a mais de cem quilômetros da minha família, para conseguir a casa, o lazer, o carro, as roupas, as coisas, as férias muitas vezes adiadas pelas exigências do trabalho. 


A garrafa de cachaça acima, com a casa que foi do meu Avô em Carolina - Ma., vai retratar muito bem onde eu quero chegar. Ela tem duas portas à direita que constituíam a ocupação do meu Avô; ele era atacadista além de fazendeiro. As duas janelas à esquerda formavam uma sala separada onde meu Pai teve seu consultório de medicina. As três janelas seguintes formavam uma imensa sala de visita, onde por sinal meu avô recebeu os comandantes da Coluna Prestes:

Os números escritos na foto identificam os personagens
A porta em seguida às 3 janelas da sala é a entrada da residência, que possui uma placa que comemora a famosa visita. Ela dá num comprido corredor que termina numa grande varanda, que inicia de trás pra frente a residência. A modernidade exigiu que meu tio transformasse a casa seguinte numa garagem. 

A Coluna Prestes chegou a Carolina, confiscou tudo o que a cidade tinha e distribuiu promissórias precificando tudo o que tinha sido confiscado, orientando como receber os valores descritos nelas, caso se saíssem vencedores ou vencidos. A promissória mostrada abaixo, assinada pelo Cel. Juarez Távora e destinada ao meu avô Diógenes Gonçalves, foi uma das muitas deixadas por lá.


Meu avô e a cidade inteira ficaram na miséria. No caso dele foi perdido todo o estoque contido o armazém mostrado na foto, que constava inclusive de ensacados, tecidos, munição, etc., e de sua fazenda foi levado o gado e as montarias.

Esse flagelo castigou o país de 1924 a 1927, ano em que foram criados os Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, que contrataram o meu Avô para ser seu gerente em Carolina. As duas portas da fotografia se transformaram numa agência de passagens aéreas! 

Mas onde eu quero chegar com tudo isso? É que existem dois ingredientes importantes que ligam Marx à casa do meu avô. O primeiro é aquele que caracteriza o trabalho como uma mera extensão da casa. Bem em frente à casa mostrada ficava a casa do boleiro, a "padaria" da época onde imperava a tapioca, com as mesmas duas portas para o negócio, as janelas e a porta da casa. Ao lado dela a barbearia onde um único adendo me impressionava quando criança: a placa onde estava escrito "Barbearia do Povo, entra Velho sai Novo". A casa tinha do trabalho não mais que a distância de uma porta interna. 

Entendo que é a isso que Marx se refere quando diz que a valorização do mundo das coisas nos fez perder esse vínculo entre casa e trabalho que existia naquela rua, hoje com justiça chamada Rua Diógenes Gonçalves. O segundo ingrediente contido nessa história é: o que é que Karl Marx tem a ver com o confisco de toda a riqueza de uma cidade que recebeu a Coluna Prestes com festa? Foi meu avô quem forneceu à Coluna o ajojo (junção de duas canoas e um tablado para transportar pessoas e carga) que lhe permitiu o acesso á cidade. Onde nos escritos de Marx está autorizada tamanha agressão, que na verdade foi um microcosmo do que estava ocorrendo na Rússia inteira em seu nome?

Ajojo

Quando conto esse "causo" pros meus amigos surge a ideia de reunir as promissórias que ainda podem existir por aí e remetê-las para o Governo atual, que por sinal parece ter forte afinidade ideológica com a Coluna Prestes. 

Agora vamos voltar ao trecho do Manifesto Comunista apresentado acima. A comparação que Marx faz entre a chamada aristocracia "do sangue" e a aristocracia "do dinheiro"  me leva a crer que ele não era avesso à ideia de Platão de que a escola deveria selecionar os melhores para cuidar da comunidade. A palavra aristocracia vem do grego e significa "Governo dos Melhores". Para mim sua revolta não é mais pelo fato de que as relações feudais, ao invés de progredirem para uma sociedade menos desigual, deram lugar ao dinheiro e partiram para a "exploração aberta, impudente, direta e brutal".

Resta investigar o que levou a humanidade a tomar o caminho da aristocracia do dinheiro, já que aquele que a meu ver foi o maior socialista da história, Jesus Cristo, sempre foi a bússola que orientou a Europa e as regiões que ela conquistou no sentido contrário. Acho que a explicação está nos fundamentos da moderna democracia. A pessoa que melhor definiu os valores da nova forma de governo criada na América do Norte foi o francês Alexis de Tocqueville: "A Democracia é o regime que oscila entre dois valores essenciais: liberdade e igualdade". Para Tocqueville isso gera tensões, já que esses valores são na verdade antagônicos.

Segundo Luiz Felipe Pondé explica em seu belo livro "Guia Politicamente Incorreto da Filosofia - Ensaio de Ironia", quando você enfatiza a liberdade o resultado é a tendência à democracia acentuar as diferenças entre as pessoas, no entanto a liberdade é a ferramenta da capacidade criativa e empreendedora do homem. Por outro lado, se você enfatiza a igualdade a democracia ganha em nivelamento mas perde em criatividade e geração de riquezas. 

Para administrar essas tensões os criadores da pátria americana inventaram os chamados contrapesos, que não são mais que a atribuição de poderes a três entidades diferentes, de forma a evitar o absolutismo: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, algo parecido com aquele jogo onde a tesoura corta o papel que embrulha a pedra que quebra a tesoura. Só que o tempo ensinou os atores a encontrar mecanismos que contornaram esses contrapesos, e aqui no Brasil por exemplo o que se vê é uma relação incestuosa entre os três poderes, o que a rigor não é exclusividade nossa.

Com isso o que se tem a nível global é que, na falta dos tais contrapesos, surgiu uma polarização entre aqueles que defendem a ênfase na liberdade e os que defendem a igualdade. Quando somos governados pelos libertários se produz mais riqueza, mas a desigualdade cresce e o dinheiro corre para os ricos. Já quando quem nos governa são os igualitários não se produz riqueza, porque com eles a criatividade sai de cena. 

Assim, vemos por exemplo nos Estados Unidos que o igualitário Biden desfaz o que o libertário Trump fez, o qual desfez o que o igualitário Obama tinha feito ..., e o processo democrático se transforma numa imensa perda de energia, além de se tornar altamente exposto às mais variadas formas de agressão. Aqui no nosso quintal esse bate bola está a pleno vapor com a volta de Lula.

Outra problema que chamou a atenção de Tocqueville foi a vocação democrata de estimular as pessoas a dar opinião sobre tudo, e a afirmação de que somos todos iguais. Segundo Pondé, o mestre Descartes já dizia ser impossível levar a sério a ideia de que os homens foram aquinhoados com o bom senso em doses iguais para todos. A tecnologia se encarregou de fornecer as ferramentas mais variadas para que todos nós demonstrássemos a nossa falta de profundidade sobre qualquer assunto (e este Post talvez até seja um bom exemplo disso).


Em um cemitério de Londres se encontra talvez o túmulo mais vandalizado do mundo. Nele está escrito "WORKERS OF ALL LANDS, UNITE - KARL MARX", algo como "TRABALHADORES DE TODAS A TERRAS, UNÍ-VOS". Acho justa a homenagem ao homem que deu vida à necessidade de se encontrar uma alternativa para a relação capital - trabalho. Suas ideias seguem vivas muito embora as estratégias para implementa-las tenham de certa forma fracassado. 

Ele deu vida a uma forma de ativismo político que não existia, talvez por ter vivido na pobreza, o que deu crédito aos seus argumentos, e fez uso da filosofia para denunciar a nova forma de aristocracia baseada do dinheiro. 

Ele questionou a ideia de que o capitalismo se auto regulava, como dizia Adam Smith, e o que estamos vendo hoje é que os poucos e pequenos países com partidos socialistas fortes são os que melhor conseguem harmonizar as tensões da democracia.

Ele denunciou o ganho desmedido dos monopólios, onde o capital tende a se concentrar em poucas mãos, o que leva ao desemprego e à depreciação dos salários, evidentes nos dias de hoje.

Por fim vem a ideia de que o grande equivoco de Marx foi a afirmação de que o capitalismo cavaria sua própria sepultura, mas o que houve o seu fortalecimento com a queda da URSS. Isso foi contestado com ironia pelo pensador marxista francês Jacques Rancière ao dizer que "o proletariado, longe de sepultar o capitalismo, o mantém vivo. Trabalhadores explorados e mal pagos, libertados pela maior revolução socialista da história, são levados à beira do suicídio para que o Ocidente possa seguir jogando com seus iPads, e enquanto isso o dinheiro chinês financia os Estados Unidos que, de outra forma, estariam falidos".




Comentários

  1. Marx não é um tema fácil nem simples; eu escrevi há algum tempo uma pretenciosa análise sobre o insucesso do socialismo e suas vertentes que intitulei “Divagações sobre o Marxismo” onde procurei identificar as razões do que podemos entender como fracasso das teorias socialistas e não vou incomodar mais ninguém com minhas arengas. Vou, no entanto, repetir aqui o principal ponto do meu entendimento: o ser humano nunca foi igualitário. Percorra-se a história da humanidade e vamos sempre encontrar a raça humana egoísta, ambiciosa, meritocrática, acumuladora de bens e riquezas e violenta na “defesa de seus direitos”. Marx partiu dessa falsa premissa, de que o ser humano objetivava a igualdade, como podemos encontrar resumidamente na sua famosa proposta na sua “Crítica ao Programa de Gotha”: “Na fase superior da sociedade comunista, quando houver desaparecido a subordinação escravizadora dos indivíduos à divisão do trabalho e, com ela, o contraste entre trabalho intelectual e trabalho manual; quando o trabalho não for somente um meio de vida, mas primeira necessidade vital; quando, com o desenvolvimento dos indivíduos em todos os seus aspectos, crescerem as forças produtivas e jorrarem em caudais os mananciais da riqueza coletiva, só então será possível ultrapassar-se o estreito horizonte do direito burguês e a sociedade poderá inscrever em suas bandeiras: De cada qual, segundo sua capacidade; a cada qual, segundo suas necessidades.” Sonhos de uma noite de verão. Eu ousaria até dizer que, sem querer faltar com o respeito à fantástica obra de Marx, que o socialismo foi um modismo europeu do sec. XIX.

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  2. O comentário acima é meu.

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  3. Marx, um sonhador em busca do equilibrio improvável entre o social e o econômico..simples assim.

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  4. Meu Cético preferido nunca foi um covarde.
    Ousar discorrer sobre Marx é coisa pra cabra nordestino
    O texto é maravilhoso.
    Marx e Engels são como o Gordo e o Magro, Chitãozinho e Xororó,... mas Fiederich foi colocado na devida sombra.
    Fonfas me fez lembrar o inesquecível Embaixador Roberto de Oliveira Campos, "No capitalismo deixado sozinho, os ricos ficam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres".
    Bob Fields não ignorou Karl Marx.

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