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Sobre a Sete Brasil

A Veja desta semana, a de 03/12, na sua coluna intitulada Radar, lançou uma isca para um peixe que há muito estou querendo ver na rede. Disse ela:

"Não está fácil - A Sete Brasil parou de pagar os fornecedores há trinta dias."

Meses atrás eu cheguei a enviar um e-mail para um repórter da revista que eu mais admiro (a revista e o repórter), sugerindo que esta empresa fosse investigada (embora a nossa presidentE entenda que a mídia não tem nada que investigar). Não recebi resposta mas tenho a ilusão se que alguém leu o meu e-mail.

Mas de que empresa estamos falando? Vamos recorrer à Wikipédia. Diz ela:

"Sete Brasil é uma empresa brasileira de investimentos criada em 2011 e especializada em gestão de portfólio de ativos voltados para a exploração na camada pré-sal  .
Formada por um grupo de investidores que reúne fundos de pensão, bancos, fundos e empresas de investimento nacionais e internacionais e a Petrobras, em pouco tempo de existência tornou-se a maior empresa do mundo no mercado de sondas de águas ultra profundas por número de sondas, além de ser hoje o maior competidor global no setor  .
Em 2011 e 2012, a empresa ganhou duas licitações da Petrobras para a construção de 28 sondas de última geração que serão afretados à estatal. Ao todo, ela tem hoje 29 sondas do tipo navios-sonda e semi-submersíveis, atualmente em construção em cinco estaleiros no país. Em fevereiro de 2013 foi anunciado um aporte financeiro de até R$ 2,5 bilhões na empresa, feito pelo Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS) , por meio da aquisição de debêntures da empresa e de cotas do FIP Sondas, um de seus controladores".
Vamos traduzir o que diz a Wikipédia. Todas as 28 sondas serão propriedade desta empresa, que as alugará à Petrobras. Então seria bom saber:
  1. Qual o valor desse empreendimento.
  2. Qual será o valor do aluguel dessas sondas.
  3. Quais são os acionistas dessa empresa.
  4. Qual o grau de exposição da Sete Brasil ao escândalo da Petrobras.
O Estadão de 25/11 traz reportagem que de certa forma esclarece algumas dessas dúvidas:
  1. As 29 sondas (uma a mais) estão orçadas em US$ 25,5 bilhões. Das 28 sondas contratadas apenas 5 estão em construção, embora mais de 30% do valor do contrato já tenha sido pago. Ou seja, a Sete Brasil não tem sonda alguma operando. 
  2. A Sete Brasil é uma empresa de capital fechado, onde a própria Petrobras detém uma participação de 9,7%, 
  3. Um grande investidor da Sete Brasil, como se viu na Wikipédia, é o FI-FGTS, com o aporte inicial de R$ 2,5 Bi. 
  4. Pedro Barusco, que foi indiciado na operação Lava Jato e tem US 100 M depositados em contas no exterior, foi Diretor de Operações da Sete Brasil de 2011 a 2013. Foi ele quem intermediou os contratos das sondas de perfuração. Observa-se aqui que a empresa foi criada com essa pessoa na direção da mesma. 
O Globo de 16/01 anunciou um financiamento de R$ 8,8 Bi  por parte do BNDES. Junte-se a isso o participação do BNDESPar em debêntures no valor de R$ 1,2 Bi. Total de R$ 10 Bi. A reportagem cita como sócios da Sete Brasil a Petrobras, com 5% do capital, e o FIP (Fundo de Investimento em Participações), com 95%. O FIP reúne a Petrobrás, fundos de pensão (Petros, Fincef, Previ e Valia), três bancos de investimento privados (BTG Pactual, Santander e Bradesco), o FI_FGTS e o EIG (novo controlador da LLX do Eike). Este é o segundo maior aporte da história do BNDEs, perdendo apenas para o da usina de Belo Monte. 

A receita é sempre a mesma. Para a exploração do pré-sal foi feita a exigência absurda de que o conteúdo nacional dos equipamentos fornecidos fosse de no mínimo 55%. Isso alija as concorrentes estrangeiras e abre espaço para que se arme um butim. Os preços vão parar na estratosfera, pelo simples fato de que o conteúdo nacional tem que ser caro. A concorrência, quando existente, é mínima e facilmente controlada. No caso em questão temos então as seguintes operadoras:
  1. Queiroz Galvão Óleo e Gás
  2. Odfjell Drilling
  3. Odebrecht Oil & Gas
  4. OAS Óleo e Gás
  5. Etesco
  6. Petroserv
  7. Seadrill
  8. Petrobrás
Petrobras, Queiroz Galvão, OAS e Odebrecht estão atoladas até o pescoço na Operação Lava Jato. Isso seria motivo suficiente para que fosse investigado a fundo o contrato com a Sete Brasil. 

Agora a cereja do bolo: Na Folha de 04/12 acaba de cair a ficha: Segundo a reportagem, dois sócios minoritários acabam de abandonar o projeto, e o escândalo de corrupção já bateu à porta da Sete Brasil. Foi confirmada a saída da Petroserv e da OAS/Etesco. Esses sócios minoritários participavam da construção de 5 das 28 sondas. 

A Sete está quebrada. Precisa de R$ 2,3 Bi para pagar contratos que vencem entre dezembro e fevereiro, e já foi socorrida pela Caixa Econômica com um aporte de R$ 900 Mi. Ela está tentando junto ao BNDES e o UK Export um empréstimo de US$ 5 Bi, mais R$ 800 Mi do Banco do Brasil. Observe-se aqui que 30% do valor do contrato, ou aproximadamente U$ 7 Bi, já foram pagos. 

A reportagem apurou que as críticas à Petrobras pela indicação de Pedro Barusco são abertas. Teme-se que o esquema descoberto pela Lava Jato tenha sido replicado na Sete Brasil, e a simples presença de Barusco da direção já comprometeu de forma irreversível a imagem da empresa. 

Para coroar o rosário de problemas da Sete Brasil, vamos ver quando custa o aluguel de uma sonda dessas. Dois anos atrás elas eram alugadas a US$ 450 K por dia. Hoje elas são alugadas por US$ 250 K, com um ligeiro detalhe: hoje se pagam apenas os dias de uso efetivo, enquanto antes o aluguel era fixo, variando entre 6 meses e um ano. Ou seja, o mercado dessas ferramentas encolheu de forma drástica, em grande parte pela entrada dos Estados Unidos no mercado com produção maciça de óleo a partir do xisto. O pré-sal, que já era suspeito, pode simplesmente sumir. Resta saber se o contrato com a Sete Brasil prevê tudo isso...

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