Pular para o conteúdo principal

A Imortalidade

Voltemos ao assunto que gerou o nome deste Blog, o Ceticismo, hoje abordando a Imortalidade. O livre pensador americano Robert Ingersoll, grande defensor do agnosticismo, dizia que "a única evidência, pelo que sei, a respeito de outra vida é, primeiro, que não temos nenhuma evidência; e, em segundo lugar, que lamentamos não tê-la e adoraríamos ter".  

Por outro lado, o filósofo irlandês George Berkeley dizia que "posso facilmente superar qualquer dor momentânea presente quando penso que está em meu poder ser feliz por mil anos a partir de agora. Não fosse por esse pensamento, preferiria ser uma ostra a ser um homem".

Isso quer dizer que existem pessoas que não conseguem encarar este mundo sem uma estrutura de crença na imortalidade, e é porisso que existem milhares de organizações religiosas no mundo, todas elas alardeando o conhecimento exclusivo do que nos espera após a morte. Segundo Sócrates, a sabedoria só é atingida quando conseguirmos nos afastar do temor da morte: "ninguém sabe o que é a morte, nem se, porventura, será para o homem o maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males". Mas ningém quer se sentir uma ostra sem futuro, motivo pelo qual recorremos à religião.

O argumento de que continuaremos a viver através do nosso legado não convence. Disse Woody Allen que "não quero conquistar a imortalidade pela minha obra, quero conquistar a imortalidade não morrendo". Da minha parte, eu entendo que, por ser pai de duas filhas e avô de quatro netos, eu já sou imortal. Minha constituição genética está presente em 50% nas minhas filhas e em 25% nos meus netos. Meus bisnetos vão levar 12,5%, e assim por diante. A verdadeira imortalidade para mim não pode ser uma incerteza de vida futura, já que a morte é inevitável. Aliás, não deve haver sentido algum em se manterem vivos aqueles que não são mais geneticamente úteis, competindo pelos recusos limitados com os que têm como tarefa passar adiante os seus próprios genes.

Não são só os religiosos que perseguem a imortalidade. A ciência ultimamente tem dedicado bastante espaço ao tema. Uma maneira ética é o uso dos transplantes de órgãos, o aprimoramento das técnicas cirúrgicas, a imunização, o conhecimento nutricional, a prática de exercícios. Outro caminho é a clonagem, que levanta questões éticas importantes: o clone é humano? Se for, ao se fazer um clone de si mesmo haverá uma ou duas almas, na concepção cristã? Também já se investiu muito na chamada suspensão criônica, o chamado processo "congela - espera - revive", e o resultado disso até agora foi que pessoas inconformadas com a morte gastaram rios de dinheiro nessa utopia tão incerta quanto a própria existência do Paraíso.

Disse Gore Vidal, morto dias atrás, que o monoteismo é o grande mal da nossa cultura. Um Deus está presente em todas as nossas atividades, totalítário, absoluto, e que se refletiu nos reis, nos papas, nos chefes, em tudo, e que nos promete vida após a morte como compensação daquilo que nos toma nesta (única) vida. Porisso eu tendo a gostar das religiões mágicas, como o Candomblé. São as chamadas religiões não éticas. Nelas não há espaço para negação deste mundo terreno em prol da busca de um outro mundo. O que se busca é a interferência do sobrenatural neste mundo presente, através da manipulação de forças sagradas. Os orixás não são divindades moralistas, que promovem quem é bom e castigam quem é mau. Acho que vou aderir a essa religião. Falarei dela mais tarde.

Comentários

  1. Fui com você até o final, me afastei na sua, não crível, busca do candomblé, embora reconheça que essa religião tende a ser muito mais autêntica que as judaico-cristãs.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo De Assis
      Acho que ainda vou me divertir um bocado com esse assunto. Me aguarde

      Excluir
  2. Sem falar que o povo parece que se diverte pacas nos rituais afro do Candomblé. Sarava!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Amigo Amaro

      Foi exatamente o que acabei de dizer pro De Assis, acima. Já comprei as passagens pro dia 30/08.

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

A Europa Islâmica

É irreversível. A Europa, o berço da Civilização Ocidental, como a conhecemos, está com seus dias contados. Os netos dos nossos netos irão viver em um mundo, se ele ainda existir, no qual toda a Europa será dominada pelo Islamismo. Toda essa mudança se dará em função da diminuição da população nativa. Haverá revoltas localizadas, mas o agente maior dessa mudança responde por um nome que os sociólogos têm usado para alertar para esse desfecho: a Demografia. Vamos iniciar este Post com um exercício simples. Suponhamos uma comunidade de 10.000 pessoas, 5.000 homens e 5.000 mulheres, vivendo de forma isolada. Desse total metade (2.500 homens e 2.500 mulheres) já cumpriu sua função procriadora, e a outra metade a está cumprindo ou vai cumprir. Aqui vamos definir dois grupos, o velho não procriador e o novo procriador. Se os 2.500 casais procriadores atingirem uma meta de cada um ter e criar 2 filhos, teremos como resultado que, quando esta geração envelhecer (se tornar não procriadora), a c

Sobre os Políticos

Há tempos estou à procura de uma fonte que me desse conteúdo a respeito desse personagem tão importante para as nossas vidas, mas que tudo indica estar cada vez mais distanciado de nós. Finalmente encontrei um local que me forneceu as opiniões que abasteceram a minha limitada profundidade no assunto: Uma entrevista no site Persuation, de Yascha Mounk, com o escritor, diplomata e político Rory Stewart.  Ex-secretário de Estado para o Desenvolvimento Internacional no Reino Unido, Rory Stewart é hoje presidente de uma instituição de caridade global de alívio à pobreza, a GiveDirectly (DêDiretamente em tradução Livre) e autor do recente livro How not to be a Politician, a Memoir (algo como "Como não ser um Político, um livro de Memórias"). A entrevista é longa e eu me impressionei com ela a ponto de me atrever a fazer um resumo. Pelo que entendi, com o livro Stewart faz uma descrição de suas experiências na política do Reino Unido. Ele inicia a entrevista falando da brutalidade

Civilidade e Grosseria

  Vamos iniciar este Post tentando ensaiar teatrinhos em dois países diferentes: País A O sonho do jovem G era ser membro da Força Aérea de A, mas na sua cabeça havia um impedimento: ele era Gay. Mesmo assim ele tomou a decisão de apostar na realização do seu sonho. O País A  não pratica a conscrição, ou seja, ninguém é convocado para prestar serviço militar. Ele está disponível para homens entre 17 e 45 anos de idade. G tinha 22 e entendeu que o curso superior que estava fazendo seria de utilidade na carreira militar. Detalhe: há décadas o País A tinha tomado a decisão de colocar todos os ramos militares em um único quartel, com a finalidade de aumentar o grau de integração e a logística. Isso significa a Força Aérea de A está plenamente integrada nas Forças de Defesa de A. Tudo pronto, entrevista marcada, o jovem G comparece à unidade de alistamento e é recebido com a mesma delicadeza que aquele empresário teria ao se interessar por um jovem promissor de 22 anos. Tudo acertado, surgi