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Lembranças do son(h)o

Um problema que me persegue é o fato de eu raramente me lembrar do que sonho, e eu sonho bastante. Me lembro de que quando eu era um engenheiro projetista costumava sonhar com a solução de um problema que não conseguia resolver. Mais de uma vez a solução veio no sonho.

Resolvi estudar um pouco o assundo, de forma superficial (mas nada tanto assim), e cheguei a conclusões interessantes. Normalmente a maior parte do que sonhamos é imediatamente esquecida tão logo despertamos. A quebra do limite entre a realidade e a fantasia só se dá em situações de privação de sono, quando as alucinações parecem tão reais quanto as sensações do dia a dia. As palavras que você troca com os personagens do sonho são relembradas como um acontecimento normal. Entendo que, sob estas condições, as pessoas com as quais você convive no sonho são tão "autênticas" quanto as da vida real.

Acho então que era isso que ocorria comigo quando ia pra cama com a cabeça cheia de problemas sem solução com meus projetos de circuitos integrados. Eu adormecia mas a mente continuava trabalhando na solução dos tais problemas, e as soluções ocorriam.

Vamos então trazer essas considerações para um fato corriqueiro hoje em dia: a chamada abdução. Esse termo é utilizado para descrever "memórias supostamente reais de pessoas que foram levadas secretamente, contra a própria vontade ou não, por entidades aparentemente não-humanas, e então submetidas a procedimentos físicos e psicológicos de complexidade não-compreendida" (Wikipedia).

Aqueles que alegam terem sido abduzidos frequentemente relatam exames médicos forçados que enfatizam o sistema reprodutor. Os abduzidos algumas vezes são advertidos sobre a destruição do meio-ambiente ou do perigo de armas nucleares. A natureza dos relatos de abduzidos varia, com alguns falando de uma experiência assustadora e outros de uma experiência agradável ou transformadora.

A abdução é motivo de estudos por parte de cientistas e profissionais de saúde mental, que negam objetivamente os relatos existentes e questionam se os fatos realmente aconteceram da forma como são descritos; as explicações dadas para os relatos são muitas, incluindo sugestionabilidade, psicopatologias e hipnose.

A primeira narrativa de abdução a ter ampla divulgação aconteceu em 1961, o chamado caso de Betty e Barney Hill. Relatos de abdução têm sido feitos ao redor do mundo, mas são mais comuns em países de língua inglesa, especialmente os Estados Unidos. O conteúdo da narrativa tende a variar de acordo com a cultura local do suposto abduzido. Abduções por alienígenas têm sido assunto de teorias de conspiração e têm sido abordadas em trabalhos de ficção científica, como Arquivo X.

Não quero concluir que as pessoas que alegam terem passado por esperiências de abdução estavam privadas de sono, ou passando por um processo de estresse. Para mim, no entanto, fica claro que nessas condições é possível a ocorrência de uma suposta experiência de abdução. Existem então duas possibilidades para este caso:
  1. As pessoas têm experiências provocadas por estados alterados ou ou situações incomuns;
  2. Estamos de fato sendo secretamente visitados por alienígenas de outro mundo.
Uma mente cética escolhe sempre a possibilidade mais provável, e aqui podemos garantir que, embora não seja impossível que haja alienígenas, é muito mais provável que os humanos estejam experimentando processos de consciência alterada e, movidos pela mídia, interpretando esses processos com base naquilo a que são expostos. Afinal, antes de 1961 ninguém falou de extraterrestres.

Existem porém aqueles que pensam que, se os humanos conseguiram realizar voos espaciais e até mandaram naves para fora do nosso sistema solar, por que então negar a possibilidade de outros seres inteligentes fazerem os mesmo? É provável que eles tenham aprendido a vencer as enormes distâncias entre as estrelas viajando além da velocidade da luz, embora isso seja considerado impossível de acordo com a ciência atual. No entanto os homens de Volcano ensinaram aos homens da Terra a dominar a Dobra Espacial, a chamada Velocidade Warp, o que possibilitou a Capitão Kirk comandar a Frota Estelar. Eles também devem ter resolvido o problema das colisões com as partículas espaciais, que iriam esmigalhar uma nave se deslocando a essa velocidade. É claro também que, para terem chegado a esse nível de sofisticação tecnológica, eles devem ter administrado com competência os seus problemas políticos, dado que eles não se autodestruíram. O progresso que alcançamos em pouco mais de 100 anos, desde a voo de Santos Dumont, nos autoriza a imaginar que em um milênio nós mesmos podemos alcançar esse nível de sofisticação. Não seria então arrogância de nossa parte pensar que apenas nós existimos e que somos os únicos seres inteligentes do universo, ou os mais evoluídos?

O fenômeno da abdução é na realidade o fruto de um estado alterado da consciência, resultado de um entorno cultural repleto de filmes, programas de TV e literatura de ficção tratando exatamente desse assunto. E tem mais: há mais de 40 anos estamos explorando o universo à procura de evidências de inteligência extraterrestre, e isso leva as pessoas a se inserirem nesse processo de busca.

A grande maioria das histórias de abdução são lembradas sob hipnose, boa parte anos depois do acontecido. Quase todas acorrem à noite, durante o sono. Existem estados incomuns de sonho, as chamadas alucinações, em que são relatadas experiências tais como flutuar fora do corpo (quase morte?), se sentir paralisado, ver entes queridos já falecidos, ver fantasmas e, por que não, ser abduzidos por alienígenas. O componente sexual dessas abduções (todas as mulheres são molestadas sexualmente), vem do fato de que nós, humanos, não condicionamos o sexo a ritmos biológicos ou aos ciclos das estações; nós gostamos de sexo a qualquer hora e em qualquer lugar. Como então desligar de um fenômeno alucinatório um componente tão importante da nossa vida, que nos deixa obcecados? Na idade média os alienígenas, que levavam as mulheres á fogueira, eram os demônios. No século XIX os encontros sexuais passaram a ser com fantasmas, e no seculo XX temos os chamados rituais satânicos envolvendo crianças e adultos. Chegou então a vez dos alienígenas participarem desse festim.

Repete-se aqui a pergunta: é mais provável que demônios, fastasmas, espíritos e alienígenas estejam abusando sexualmente de humanos, ou que os humanos estejam experimentando fantasias e as inserindo no seu contexto social? Na verdade o fato de nós humanos termos a possibilidade de passar por essas experiências é tão fascinante como a possibilidade de haver inteligência extraterrestre.

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