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Sobre o Medo Econômico e o Medo Político.

Li em algum lugar que o pessimista, embora chato, tem mais probabilidade de sobreviver nas situações de crise. Acredito nisso. Fico imaginando o homem primitivo caminhando na selva e ouvindo um barulho. Se for pessimista ele vai imediatamente procurar um lugar seguro, quem sabe uma árvore; se ele for otimista vai pensar: deve ser o vento. É claro que o pessimista vai subir em árvores sem necessidade, mas a quando a fera aparecer ele vai estar seguro.

É mais ou menos esse pensamento que me leva a me preocupar com a nossa situação econômica. Tenho 70 anos e a rigor vivo de uma pensão do INSS, das aulas de piano da minha esposa, e de uma pequena poupança que angariei ao longo de 40 anos. É pouco mas nunca me senti tão bem administrando dia a dia o pouco que temos. Sou feliz. Tenho uma esposa maravilhosa, duas filhas e quatro netos que só me dão alegria, mas existe um barulho na minha selva que me deixa atento a uma eventual tragédia: a nossa situação econômica.

A verdade é que estamos caminhando a passos largos para uma situação semelhante àquela anterior ao Plano Real. Para quem não se lembra, pois a nossa memória às vezes é traiçoeira, caso isso venha a ocorrer ficaremos à mercê de uma economia que vai dizimar os sonhos de milhões de pessoas. Nossos negócios, nossos empregos, nossas poupanças, nossos investimentos e, no meu caso, nossas aposentadorias serão alterados de forma brutal, o que vai nos levar a considerar, a ter que optar, por um padrão de vida bem inferior ao que temos hoje.

O mais preocupante é que o brasileiro, de forma geral, não está preparado para o que pode estar por vir. Ele não sabe o que é poupar, não tem a mínima ideia do que seja administrar o caixa da sua família, assume dívidas com taxas de juro estratosféricas. Li em uma revista o caso de uma senhora que, com uma renda mensal de R$ 10 mil, tem uma dívida de R$ 400 mil em vários bancos.

Mas antes que me rotulem como o profeta do Apocalipse, vamos aos fatos:

1 - De 5 anos para cá o governo deu uma guinada forte na sua política econômica, a qual se traduziu pelo abandono do tripé ortodoxo criado pelo Plano Real, para retornar aos conceitos nunca de fato abandonados pela nossa esquerda, que podemos resumir em intervenção do Estado na economia, um grande assistencialismo e um excessivo estímulo ao consumo. A conta acaba de chegar na forma da falência das contas públicas e no reconhecimento das famílias da impossibilidade de continuar a farra do consumo.

2 - Falando através dos números, o déficit nominal do Brasil atingiu o patamar de 4% ao ano, e as contas públicas tiveram o seu pior resultado da história nesse primeiro semestre. Isso colocou em sério risco a sustentabilidade do Estado Brasileiro. Os empresários desistiram de confiar nessa política, o que criou o que se costuma chamar em economia de "crowding-out" (desencorajar, pôr de lado). Com isso eles deixaram de investir. A relação entre o investimento e o PIB caiu de 19,5% em 2010 para 18,1% em 2014, o que por si só resultou em uma queda de 0,5% na capacidade de crescimento do país.

3 - Ao ser perguntada sobre o que fazer a respeito, a resposta de Dilma foi de uma clareza inacreditável: "Eu não sei!!". O resultado dessa frase absurda está mostrado na figura abaixo, onde vemos que, sob Dilma, o PIB vai crescer em média 2% ao ano (fonte Empiricus Research)

4 - Os nossos dirigentes argumentam que isso é resultado da crise externa, aquela que Lula chamou de "marola". A próxima figura mostra que esse argumento não procede. Vemos nela que foi durante o governo Dilma que o Brasil ficou pra trás (fonte Empiricus Research):
 5 - Já a inflação tem se mantido sempre acima do centro da meta, e os argumentos são de que ela fica abaixo do teto. Isso não faz o menor sentido. As estimativas são que em 2014 ela vai ultrapassar o teto da meta, ou na melhor das hipóteses colar nele. Agora mesmo estamos com o IPCA de 12 meses em 6,52%. (base junho), acima da meta. 

6 - Mas o pior disso é que quem está segurando a inflação é o controle dos preços nos setores de energia e combustíveis, pra não falar no preço do dólar. Estamos caindo na mesma e velha artimanha latino americana, tão conhecida de Dona Cristina Kirchner. Sem essas medidas a inflação estaria rondando 8,50%, e o próximo mandatário não vai poder escapar de ter que lidar com isso.

7 - O resultado dessa medida é um total desalinhamento na economia. O melhor exemplo é a destruição do Programa do Álcool em consequência do represamento do preço da gasolina. Esse retorno aos erros que imaginávamos enterrados vai nos levar ao pior dos mundos, ou já nos levou: uma combinação de baixo crescimento com alta inflação, a chamada estagflação. Segundo os analistas do Empiricus Research a tendência é uma inflação de 15% combinada com uma forte redução do poder de compra, um aumento do desemprego para 10% e uma forte redução no crédito, o que vai levar as famílias a arcar com dificuldades no seu dia a dia, bem maiores que as atuais.

8 - Já o consumo do governo bateu 22% do PIB, o nível mais alto já registrado dede 1995, quando se iniciou esta medição. 

9 - O déficit brasileiro em conta corrente está ladeira abaixo, sendo que em maio ele chegou a US$ 6,6 bilhões, também o maio mais alto da série histórica. Em janeiro de 2014 ele tinha chegado a um acumulado em 12 meses de US$ 81,6 bilhões. Esse valor enorme teria que ser compensado pela entrada de moeda, a qual seria feita de duas formas: Investimento Estrangeiro Direto (IED) ou Investimentos Especulativos. Os IEDs sumiram e o Brasil está oferecendo juros absurdos para conseguir os Investimentos Especulativos. Se os Estados Unidos decidirem por aumentar a sua taxa de juros vai faltar dólar no Brasil, e aí não vai mais ser possível segurar o câmbio.

10 - Tivemos o pior mês de maio desde 1992 quanto à criação de emprego. A nossa população em idade ativa cresce entre 1 e 1,5% ao ano, enquanto a criação de empregos fica próxima de zero. Como o governo diz que o desemprego está sob controle, existe algo errado nessa avaliação: estamos totalmente inseridos na famosa era do nem-nem, nem estuda nem trabalha. A nossa taxa de desemprego não leva em conta aqueles que desistiram de procurar emprego. 

11 - Existe uma chance próxima a 100% de termos um racionamento de energia ainda em 2014. Em novembro o nível dos reservatórios chegará a 10%. Isso não pode ser creditado apenas a São Pedro, mas sim a uma total falta de planejamento. Pior que isso: houve intervenção direta do governo nas regras de concessão (a velha política estatizante), a qual resultou numa forte queda da rentabilidade das empresas de energia, o que as levou a desistir de novos investimentos.

12 - A Petrobrás foi sucateada. Do pico de R$ 40,00, as ações dessa empresa chegaram em maio ao valor de R$ 12,57, e teve seu patrimônio reduzido a 1/3 do seu valor. Ela tem hoje a maior dívida corporativa do mundo, girando em torno de 230 bilhões de Reais.

13 - O mesmo ocorreu com a Eletrobrás, com uma trajetória muito parecida com a da sua irmã Petrobrás. Suas ações derreteram em função da política intervencionista do Governo, que implicava em retornos negativos para muitos dos seus projetos.

14 - A indústria brasileira parou. Ela não tem mais músculos para suportar o custo Brasil e o represamento do valor do dólar. A participação dos manufaturados nas exportações caiu de 39,4% em 2010 para 38,7% em 2013. Em 2010 tínhamos uma participação de 1,35% na exportação mundial, a qual caiu para 1,29% em 2013.

15 - Mas existe coisa pior, o que Armínio Fraga definiu como o medo político, onde as pessoas não têm a coragem de se manifestar. O site do PT, nessa época de eleição, partiu pro ataque. O objetivo claro é melar qualquer tentativa de fazê-los largar o osso. Os críticos são tratados como inimigos de guerra. Senão vejamos:

Personificados em Reinaldo Azevedo, Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli, Guilherme Fiúza, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Gentili, Marcelo Madureira entre outros menos votados, suas pregações nas páginas dos veículos conservadores estimulam setores  reacionários e exclusivistas da sociedade brasileira a maldizer os pobres e sua presença cada vez maior nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes.”

Existe acima algum nome que você procura pra ler os seus escritos ao abrir um jornal ou revista? Então você é um reacionário e deve ser tratado como um inimigo das benesses que foram proporcionadas pelo  governo do PT. Tome cuidado!

Em tempo: No domingo, 27/07, a Empiricus Research, , uma casa de research independente que acompanho pela internet e que foi fonte de informação para este Post, por determinação da Justiça Eleitoral, foi intimada a retirar do ar todas as peças publicitárias de análise de ações que, segundo o PT, fazem "terrorismo econômico":







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