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As recomendações da Empiricus à PresidentE Dilma

Pra quem não conhece, a Empiricus é hoje a maior consultoria financeira do Brasil. Isso tem despertado a ira dos nossos governantes, a ponto dela já ter sido processada, juntamente com a coligação de Aécio Neves e o Google, sob a alegação de propaganda eleitoral indevida, processo esse movido pela coligação da presidentE Dilma.

Tenho recebido regularmente documentação dessa consultoria, que traz informação importante, as quais eu leio quase sempre com um certo grau de pessimismo, já que as notícias nunca têm sido boas, não por culpa do mensageiro, é claro. Esta semana no entanto recebi um e-mail que me levou a considerar a oportunidade de replicá-lo parcialmente aqui, coisa que estou fazendo, esperando que isso não venha a irritar a Empiricus. Afinal estou como que fazendo propaganda dela.

O título do e-mail é "10 coisas para consertar o Brasil". O autor, Felipe Miranda, diz não ter esperança de que qualquer das 10 recomendações venha a ser atendida, e se mantem cético quanto aos aos rumos que nosso país está seguindo, mas eu entendo que os meus poucos leitores devam considerá-las. Os interessados em receber essas Análises Grátis devem se cadastrar no site
www.empiricus.com.br

As recomendações são: 

1 - "Retome o marco regulatório anterior do setor petróleo. Acabe com a história do conteúdo nacional e com a obrigação de tanto capex sobre Petrobras. Isso vai aumentar a produtividade do setor e aliviar o balanço da companhia"; (Aqui cabe um esclarecimento: capex, ou capital expenditure, são os custos incorridos para o desenvolvimento ou fornecimento de componentes não consumíveis de um produto ou sistema. Foi essa obrigação imposta à Petrobrás que acabou por inviabilizar o programa pré-sal)
2 - Venda a participação do BNDES nos frigoríficos e sinalize não concessão de novos empréstimos ao setor. Abandone de vez a política dos campeões nacionais, que criam uma espécie de capitalismo de compadres, elegendo a priori quem serão os vencedores em determinados mercados. Isso fere a essência darwinista do capitalismo, que premia os mais eficientes a posteriori, e prejudica a produtividade agregada. Subsídios podem existir, sim, mas devem ser medidos diligentemente e concedidos de forma não discricionária; (essa é certamente a sugestão mais complicada, pois trata de um vespeiro que tem muita gente grande envolvida, a julgar pelo que lemos constantemente nos jornais sérios do país)
3 - Voltando à Petrobras, faça com que a representação do controlador no Conselho exija a contratação de uma empresa de head hunter, a melhor disponível, para contratação de toda a diretoria, a ser composta exclusivamente por profissionais de mercado. Acabe com nomeação de cunho político-partidário; (a isso eu chamaria devolver a credibilidade à Petrobrás a um custo nulo)
4 - Promova a fusão do Banco do Brasil com a Caixa Econômica Federal. Isso geraria uma eficiência tremenda e transmitiria para a sociedade e para o mercado de capitais o desejo de aumentar a produtividade das estatais. Quem precisa de dois bancos públicos, mais o BNDES? Que loucura...; (Os cabides ficariam mais escassos)
5 - Introduza um debate sério sobre meritocracia dentro das estatais e dos sistemas de ensino e saúde. Se compactuar com isso, precisará desistir de Renato Janine Ribeiro. Ele nunca vai entender. Não hesite. Faça o que for necessário; (a máquina governamental precisa mais de administradores que de filósofos)
6 - Demita o presidente do Banco Central. Alexandre Tombini pode ser comprometido, sério e inteligente. Mas tem sua credibilidade questionada. Isso acaba com qualquer banqueiro central. Credibilidade da autoridade monetária é ponto nevrálgico, entende? Nomeie alguém bom no lugar, claro. Meirelles, Ilan ou Loyo são bons nomes; (Henrique Meirelles, Ilan Goldfajn e Eduardo Loyo)
7 - Aproveite o momento acima para anunciar momentânea elevação da meta de inflação, com um plano crível de longo prazo de redução, para níveis inferiores aos atuais. Tornará a situação mais transparente e deixará claro que: “olha, a coisa mudou. Pode confiar agora.” Juro longo cai meio ponto no dia. O ideal mesmo seria a independência formal do BC, mas entendo que seria  muito custoso politicamente; então, não vou abusar; (o que vemos hoje é a total falta de credibilidade no compromisso do governo de levar a bom termo a meta de inflação; essa medida tem que ser acompanhada de todas as outras para se tornar crível)
8 - Convença o Marcos Lisboa a voltar para o Governo. Ele vai dizer que está comprometido com o Insper, que tem um projeto importante, que não pretende voltar agora – tudo isso é verdade. Se ele diz, eu acredito. Melhor: eu acredito em tudo que ele diz. Mas, no fundo, a maioria de nós, economistas, é totalmente platônica. Fica difícil recusar um convite para “arrumar o Brasil”, sabe?  Ele combina bem com o Levy. Aquela coisa de Emerson Sheik e Paolo Guerrero, versão moderna da dupla Pelé e Coutinho (exageros à parte, claro). Precisamos de alguém capaz de tocar uma pancada de reformas micro. É a tal agenda positiva que vocês estão defendendo retoricamente, sem aderência prática. O Lisboa é o melhor cara para fazer isso. Confia; (o Marcos Lisboa, demitido  da vice-presidência de Controles Internos do Itaú por telefone, foi secretário de Política Econômica e hoje faz parte do Instituto Insper, Instituto de Ensino e Pesquisa, que atua nas áreas de negócios, economia, engenharia mecânica, engenharia mecatrônica e engenharia de computação)
9 - Pare com essa história de financiar os blogs sujos. Primeiro porque não lhes têm efeito prático. Estão pregando aos convencidos. Depois porque é desperdício de dinheiro público, sem critério técnico. Terceiro porque vai transmitir uma mensagem importante: “ paramos com a bobagem do nós contra eles. Governamos para todos.” Estenda a bandeira branca e contrate cinco páginas de publicidade na próxima edição da Veja – precisam convencer as vozes dissonantes e não os já apaixonados; (essa é um aberto desafio à proposta de diálogo feita por Dilma) 
10 - Corte alguns ministérios, elimine cargos comissionados, reduza gastos do Planalto. “Ora, mas isso tem efeito prático reduzido. É demagógico.” Tem razão. Todo mundo sabe disso. Porém, a mensagem é importante. Estamos fazendo a nossa parte, no que dá. Cada um vai ajudar. Corte o próprio salário. Dê o exemplo. Pronto. Fica mais fácil convencer o resto quando você também entra no barco. (essa é, como diria Nelson, de uma obviedade ululante);

Podemos ver que se tratam de medidas meramente políticas. Melhor dizendo, trata-se não mais que de uma guinada ideológica de simples aplicação. Só que decisões como essas exigem a presença de um Estadista, e disso estamos carentes. Tivemos um, mas a ele se seguiu o populista e a incompetente, daí eu entender o pessimismo da Empíricus. Como diria Caetano, vamos eternamente depender de ridículos tiranos. 

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