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Sobre a Imigração

Relativamente à sua população, nenhum continente gerou mais emigrantes que o europeu. Prova disso é o domínio da língua inglesa no norte da América, e da espanhola e da portuguesa no centro e no sul. Mas vamos falar de migrações mais recentes, decorrentes da situação econômica na Europa no século XIX e início do século XX, a qual produziu grandes levas de emigrantes para o Novo Mundo, para países carentes de mão de obra tanto na indústria como na agricultura.

Levas imensas de europeus migraram para os Estados Unidos, o Brasil, a Argentina, o Chile, o Uruguai, Cuba, Canadá, Venezuela. Para o Brasil vieram Italianos, Espanhóis, Portugueses, Alemães, Croatas, Eslavos, Poloneses, Russos, Ucranianos. Os Estados Unidos, mais organizados, criaram uma porta de entrada para esses imigrantes, a Ellis Island, que hoje possui um Museu Histórico da Imigração para homenagear os 12 milhões de imigrantes que por lá passaram.


Entre esses grupos também havia a discriminação e a perseguição em seus países de origem. Havia os judeus da Europa Oriental, os armênios perseguidos no Império Otomano. Enfim, o quadro dessa época era parecido com o atual, com a Europa fazendo o papel de fornecedora das levas de migração, e o Novo Mundo necessitando dessa mão de obra, tendo inclusive que recorrer à Ásia quando diminuiu a emigração européia. 

Hoje temos duas grande levas de emigração, ambas do sul para o norte. Aqui na América temos os latinos se transformando na grande bandeira do fundamentalista Trump, que entre outras coisas promete retirar a cidadania americana de filhos de imigrantes nascidos por lá. Trata-se de uma promessa vã, que nunca vai ser aprovada na Suprema Corte americana. E tem mais: nenhum candidato a presidente dos Estados Unidos hoje em dia se elege sem o voto latino, o que torna essa estratégia um tiro no pé.

No entanto é a emigração para a Europa que está chamando mais atenção, pelo seu volume atual e as tragédias decorrentes. Temos na figura do senhor Cameron o Donald Trump Europeu, estranhamente contando com muito mais apoio que o seu comparsa americano. A estadista Merkel, a única de todo o continente que merece essa definição, tem uma posição bem mais pragmática, a qual vai acabar por prevalecer por um motivo bem simples: a Europa precisa dos imigrantes.

A cena reproduzida abaixo dá bem a ideia do valor dessa mulher, consolando uma garota pelestina que, em um alemão perfeito, questiona Ângela, se decepciona com seus argumentos, chora e é imediatamente por ela consolada:


Mas voltemos ao problema da imigração, que na verdade pode se transformar na solução para a Europa, caso ela esteja à altura do desafio que a imigração traz. Se ele for vencido ela sairá fortalecida;  se não for teremos a divisão social tão temida pelos europeus. 

Os europeus estão enfrentando uma fase de sua demografia em que eles vivem muito mais e não querem ter filhos. Os Estados Membros da UE terão sua população diminuída, passando dos atuais 450 milhões para menos de 400 milhões em 2050. Isso também ocorre no Japão, na Rússia, na Coréia do Sul, e mesmo no Brasil, onde a taxa de natalidade já caiu abaixo de 2. 

Com essa queda populacional teremos cargos que terão que ser ocupados, sem que haja pessoas disponíveis para tal. Isso só aumenta a visão da Europa como uma terra de oportunidades, ou seja, ela que se beneficiou da carência de mão de obra no Novo Mundo há um século, agora vai retribuir se transformando em um polo de imigração.

É claro que nem todos pensam uniformemente. Ângela Merkel, ao tomar essa atitude conciliadora, não faz mais que seguir ao pé da letra a nova Constituição Alemã de 1949, que defende que "a dignidade humana é dever de toda autoridade do Estado". Por sua vez o primeiro ministro húngaro Orban entende que "os que estão chegando cresceram em outra religião e representam uma cultura radicalmente diferente. A maioria deles não é cristã, mas muçulmana. A Europa tem uma identidade enraizada no cristianismo". 

Já disse mais de uma vez nesse Blog e volto a repetir: a religião está por trás de todas as mazelas desse planeta. O Jovem Aylan foi parar em uma praia da Turquia, numa cena que a meu ver deve contribuir fortemente para mudar a concepção dos europeus sobre a imigração, por um motivo bem simples: ele era curdo, e seu pai, sabiamente, concluiu que valia a pena se arriscar em um barco inseguro, porque a chance dele sobreviver na sua cidade natal, Kobani, era menor:


Vocês, caros amigos, vão achar que eu estou batendo demais no monoteísmo, mas se os muçulmanos fossem politeístas, as coisas seriam bem mais simples. Melhor ainda se os cristãos fossem politeístas também. O senhor Viktor Orbam não teria argumentos para rechaçar uma cultura religiosa diferente se a sua sociedade tivesse vários deuses, ou se não tivesse nenhum. A cena abaixo, guardadas as devidas proporções, é quase tão chocante quando a do menino Aylan na praia:




Na fronteira entre a Grécia e a Macedônia refugiados muçulmanos recusam a ajuda alimentar, ofendidos com o símbolo da Cruz Vermelha que identifica as caixas. É claro que cada fato tem duas versões: os sites muçulmanos alegam que o protesto era por não terem sido autorizados a entrar na Macedônia; os sites cristãos dizem que o problema era a cruz estampada nas caixas. Cabe a vocês tirar as suas conclusões. 

Comentários

  1. Quando eu ouvia, ainda adolescente, que a "religião é o ópio do povo ", achava isso uma blasfêmia horrível com direito a castigo eterno ! A cena acima choca-me ainda mais do que a frase, pois me coloca diante da sua materialização , da brutal verdade que ela encerra!

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  2. Eu também ouvia essa frase. Ainda bem que estou curado dela, já que concordo totalmente com ela. Outra coisa, caro Anônimo; nesse blog não há problema em se revelar; não há necessidade do anonimato.
    Um abraço.

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  3. Oi Luiz, se Cameron eh o Trump Europeu, o novo lider do Labor Party eh certamente o Obama Europeu. :-)
    http://www.businessinsider.com/r-socialist-jeremy-corbyn-elected-uk-opposition-labour-leader-2015-9?IR=T

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  4. Não entendi a comparação. Afinal, Obama, em que pesem os ataques virulentos dos republicanos, estes condenados a amargar derrotas consecutivas pelo fato de terem dispensado o voto dos negros e dos latinos, conseguiu recuperar uma economia arruinada por George W. Bush. O Obamacare, tão criticado, é hoje um sucesso. Se Obama fosse branco estaria no Hall of Fame dos grandes presidentes americanos.

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