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A Base Nacional Curricular

De início devo confessar que não espero um grande acesso a este Post, por um motivo simples: trata-se de mais um assalto da ideologia petista contra as nossas liberdades mais caras, e sabemos muito bem quão leniente é o brasileiro no concerto das porteiras que dia a dia estão sendo rompidas, com o objetivo único de transformar essa nação em um inferno bolivariano.

Prova de que minhas suspeitas têm sentido é a forma como reagimos ao que estão fazendo com os livros didáticos, sem que se veja qualquer pronunciamento sério a respeito, com exceção de críticas pontuais na mídia, em geral conduzidas por Ali Kamel. Graças a um artigo seu publicado no jornal O Globo em setembro de 2007 conseguimos nos livrar do coleção "Nova História Crítica", de Mário Schmidt, destinada a alunos do ensino fundamental. Essa coleção foi excluída do Programa Nacional do Livro Didático (PNDL), após Ali Kamel denunciar erros conceituais graves, e afirmar que o material fazia a apologia do socialismo e enaltecia figuras comunistas como Mao e Fidel. Tratava-se a coleção de uma autêntica lavagem cerebral nos estudantes, e o autor reagiu, como sempre se faz, acusando a Rede Globo no artigo "O livro didático que a Globo quer proibir".

Pois bem, agora a ideologia petista resolveu subir mais um degrau no descalabro em que se encontra a nossa educação. Não bastassem a incompetência que grassa na área, o domínio dos sindicatos que impedem qualquer atitude inovadora, como o que aconteceu em São Paulo recentemente, foi lançada a pedra que irá enterrar de vez todo o processo educacional brasileiro: a Chamada Base Nacional Curricular (BNC).

Em fase final de elaboração, já em fase de consulta pública no site http://basenacionalcomum.mec.gov.br , a BNC tem por objetivo padronizar 60% do conteúdo a ser apresentado aos alunos dos ensinos fundamental e médio, sendo que os outros 40% serão definidos pelas próprias instituições e redes de ensino, contemplando particularidades regionais. Essa iniciativa vai certamente impactar a confecção de livros didáticos, mecanismos de avaliação e até mesmo os cursos de licenciatura.

O texto preliminar foi elaborado por uma equipe de 116 "especialistas" de 35 "universidades", e como era de se esperar as maiores controvérsias estão nos tópicos previstos na disciplina História. Segundo os críticos há uma ênfase exagerada na história do Brasil, das Américas e da África, com forte restrição a temas como a Antiguidade Clássica e a Idade Média, num evidente combate ao eurocentrismo que sempre foi um marco na nossa cultura. Quase toda a base está focada em civilizações africana e nos ameríndios, deixando de lado a formação da civilização ocidental da qual fazemos parte.

Como se não bastasse isso, a língua portuguesa também foi agredida. A partir do 4º ano do ensino fundamental a gramática sai de cena, sendo trabalhada apenas indiretamente em outros conteúdos: leitura, interpretação e produção textural. Não está prevista uma progressão do aprendizado, um encadeamento das atividades de cada ano, e os estudos de literatura se concentrarão nas obras de língua portuguesa, africana e indígena. Está também prevista a análise de postagens nas redes sociais, o chamado "internetês", um verdadeiro insulto ao ensino formal da língua.

A polêmica em torno da iniciativa é tanto que li na mídia que a proposta já recebeu mais de um milhão de contestações. o que prova a grande reação à mesma. Estava colhendo material para lançar este Post hoje, dia 22/02, quando fui agradavelmente surpreendido pela entrevista de Paula Louzano nas Páginas Amarelas da Veja dessa semana: "Jogamos o Nível lá Embaixo". Segundo ela, a proposta "vai formar alunos menos preparados que os dos outros países" (como se isso fosse novidade).

Paula é doutora em política educacional pela Universidade de Harvard e pesquisadora visitante na Universidade Stanford. Acompanha as bases curriculares de países como Austrália, Finlândia, Estados Unidos, Portugal, Chile, Cuba e Canadá. Li em algum lugar que Confúcio deve ter dito que, "para se estragar uma ideia basta criar uma comissão". Devo adicionar que quanto maior a comissão maior a probabilidade de sair uma porcaria, dada a grande variedade de orientações presentes. O dinheiro gasto com 116 "especialistas" teria sido melhor empregado com a contratação dessa senhora para gerar o documento básico.

Em vez de repetir o que ela disse à Veja, achei melhor copiar parte da entrevista que se encontra no site da revista. É importante dizer que o que está no site é apenas parte do que se encontra na revista. Portanto é interessante ler diretamente na revista.

Boa leitura.Suas ideias estão mais bem explicitadas que as minhas:



“Jogamos o nível lá embaixo”

A especialista em política educacional diz que a proposta de currículo nacional feita pelo governo não estabelece objetivos claros para o aprendizado e vai formar alunos menos preparados que os de outros países

Por: Rita Loiola - Atualizado em 



“A expectativa é muito baixa em relação ao que se espera nos países desenvolvidos. No manejo da língua nativa, nossos alunos vão estar aptos a fazer no 9º ano o que um americano já faz no 5º”
“A expectativa é muito baixa em relação ao que se espera nos países desenvolvidos. No manejo da língua nativa, nossos alunos vão estar aptos a fazer no 9º ano o que um americano já faz no 5º”(Zé Carlos Barretta/VEJA)
A proposta da Base Nacional Comum Curricular (BNC) ocupa os dias de Paula Louzano, uma das maiores autoridades brasileiras no estudo de políticas curriculares, desde que foi apresentada pelo Ministério da Educação, em setembro do ano passado. Segundo Paula, doutora em política educacional pela Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e atualmente pesquisadora visitante da Universidade Stanford, o documento apresenta problemas estruturais graves, além de expectativas baixas em relação ao jovem que pretende formar. Após ela acompanhar por uma década o desenvolvimento de bases curriculares em países como Austrália, Finlândia, Estados Unidos, Portugal, Chile, Cuba e Canadá, suas pesquisas revelaram que um currículo nacional leva tempo para ser criado e tem como fundamento a progressão de conceitos-chave das disciplinas. Mas o governo "inovou", e pôs sobre a mesa uma proposta inadequada. "Jogamos o nível lá embaixo", diz Paula.
É boa a proposta de currículo único que o governo disponibilizou para consulta pública? Não, ela tem problemas graves. As disciplinas não conversam entre si e, mais importante, as habilidades que devem ser desenvolvidas em cada uma delas não se organizam em uma progressão clara. Não está explícito que aluno esse currículo deve formar no fim do ensino médio. E esse é o objetivo primordial de qualquer currículo, em qualquer parte do mundo.
Na terça-feira, o Ministério da Educação publicou uma revisão da proposta, ampliando, por exemplo, a parte de história mundial e incluindo pontos de gramática. O avanço foi significativo?São mudanças relevantes. Mas não teremos um currículo de padrão internacional se não houver uma mudança estrutural.
A falha, então, está na raiz da proposta? Para o ensino de qualquer disciplina, é preciso que esteja claro quais são seus objetivos. Essas ideias centrais ou conceitos-chave se encadeiam numa progressão, ano a ano, ciclo a ciclo. O currículo detalha como isso é feito. Professores, diretores, pais e alunos precisam enxergar essa evolução com clareza, para compreender como se dará o aprendizado. No documento do Ministério da Educação, essa progressão não está presente e não há definições claras do que se espera que os estudantes sejam capazes de fazer no fim de cada ano escolar. Em certos pontos, o documento é tão confuso que um leigo não é capaz de decifrá-lo.
Como outros países desenham seus currículos? Apegando-se ao conceito de progressão no ensino. Países como Canadá, Finlândia ou Austrália, bons exemplos nessa área, detalham o que ensinar e dão autonomia na escolha dos modos de transmitir os saberes.
Por que a progressão é tão relevante para o aprendizado? Se o professor e o aluno não sabem quais são seus objetivos no fim do percurso acadêmico, e como cada "degrau" da escada do conhecimento colabora para que cheguem a esses objetivos, eles se perdem em meio aos conteúdos. Por exemplo, é importante na matemática a compreensão das frações. No início, o aprendizado é concreto. O estudante começa aprendendo que um inteiro pode ser dividido em partes como metade, um terço, um quarto. Depois, aprende que isso pode ser representado por frações numéricas. Em seguida, deduz porcentagens, até chegar aos cálculos de juros, por exemplo. Se as etapas são cumpridas, os alunos atingem os níveis mais abstratos de conhecimento. Se perdemos alguma das etapas do contínuo, o aprendizado para. Na proposta brasileira, essa progressão é ausente em língua portuguesa e não está explícita em matemática.
Sua ênfase é nas disciplinas de português e matemática. Por quê? Quando decidem desenhar um currículo nacional, os países começam por essas duas áreas e levam anos discutindo isso. A Austrália, que começou a elaborar seu currículo em abril de 2008, iniciou as discussões pelos conteúdos de língua e matemática. As demais disciplinas ainda estão em fase de desenvolvimento e implementação. No Brasil, entregamos um esboço de todas as disciplinas ao mesmo tempo, o que tira o foco da discussão.





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