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A Fábula do Boi Poluidor

Um dos sites que gosto de visitar atualmente é o do CCAS (Conselho Científico para Agricultura Sustentável): http://agriculturasustentavel.org.br/. Tomei conhecimento com ele após ler artigo que usei no meu Post sobre Agrotóxicos publicado recentemente.

Pois bem; tenho lido constantemente declarações na mídia dizendo que grande parte das emissões de gases de efeito estufa é atribuída à pecuária. Fala-se de números que chegam a 15% das emissões totais, que se verdadeiros, levariam os bois a poluir mais que carros, caminhões e ônibus juntos.


Qual não foi a minha surpresa ao encontrar o artigo de Ciro Rosolem, de 29/01, "Menor consumo de carne pode piorar o aquecimento global", no referido site. Segundo o autor, os detratores do boi não levaram em conta o processo produtivo para chegar à conclusão de que o boi é poluidor. Foi contabilizado o que o boi emite, sem se levar em conta que o boi come capim, o qual fixa carbono. Existem estudos que provam que a melhoria da produtividade das pastagens nas áreas tropicais resultou em maiores estoques de carbono no solo: uma pastagem bem cuidada remove 1 tonelada de carbono por hectare por ano a mais que uma pastagem degradada. 

Vamos traçar um paralelo entre a raça humana e a raça bovina. O homem, sem ligar suas indústrias ou os seus veículos, emite gases da mesma forma que o boi (solta puns da mesma forma). Só que temos que levar em conta que, para sobreviver, o homem tem que plantar, e isso tem que ser considerado no cômputo geral do efeito da presença do bicho homem na Terra.

Segundo o autor, na revista Nature de Janeiro deste ano, foi publicado um trabalho que é resultado de um trabalho conjunto de pesquisadores da Universidade de Edimburgo junto com a Embrapa. Nele foi desenvolvido um modelo matemático que levou em conta todas as emissões geradas na produção pecuária, mas também o carbono "sequestrado" pelas pastagens, o qual fica no solo. A conclusão foi que com o aumento da demanda por carne bovina vai haver a diminuição da emissão de carbono pela pecuária, com a condição de que o desmatamento seja controlado. Por outro lado, se a demanda e a produção diminuírem, as emissões vão aumentar.

Sei que é difícil acreditar, mas a maior demanda de carne vermelha incentiva a produção e a melhoria das pastagens. Um pasto melhor fixa melhor o carbono, já que a grama bem tratada tem raízes mais fortes e profundas, o que resulta em colocar o carbono bem abaixo do solo. Segundo os autores do artigo, um aumento de 30% na demanda de carne pode reduzir em 10% as emissões de carbono pela atividade. Por outro lado, rebanhos menores devidos a uma demanda menor iriam precisar de menos pasto, e os preços cairiam em função da demanda. Isso tiraria o incentivo em manter pastos produtivos. Os pastos degradados perderiam matéria orgânica, gerado maior emissão de carbono para a atmosfera.

Existe uma vantagem maior no incentivo à restauração das pastagens degradadas: elas são a forma mais fácil do Brasil conseguir chegar ás metas traçadas no plano nacional de mitigação dos gases do efeito estufa. Se forem restaurados 15 milhões de hectares degradados até 2020, haverá uma contribuição que equivalerá a 40% das reduções propostas até essa data. Quinze milhões de hectares correspondem aproximadamente a um quadrado de 400 km de lado.

Dito isso. caros carnívoros, deixem pra lá os argumentos veganos, vegetarianos, e outros mais. Um bom churrasco pode estar ajudando a diminuir o aquecimento global. Para que não venha a ser questionado quanto ao fato de que esse Post pode estar em contradição ao Post anterior:  http://ceticocampinas.blogspot.com.br/2016/08/a-questao-dos-agrotoxicos.html , vamos deixar as coisas bem claras:
  • Uma área agrícola degradada praticamente não contribui em nada para a diminuição do efeito estufa. 
  • Uma área agrícola recuperada para pastagens contribui para a diminuição do efeito estufa, mesmo com o boi, o produto resultante para a alimentação humada, emitindo gases.
  • Uma área agrícola produzindo vegetais é mais eficiente tanto para a alimentação humana quanto para a redução do efeito estufa. 
O que se propõe aqui é que a pecuária intensiva, séria, baseada na recuperação das pastagens degradas, as quais constituem uma área enorme do país, são solução viável para o Brasil atender aos compromissos de diminuição do efeito estufa. O Brasil tem 30 milhões de hectares de pastagens com algum estágio de degradação, e o uso correto de tecnologias a de boas práticas agropecuárias torna possível reinseri-los ao processo produtivo. Isso porque existe mercado para isso, tanto interno como, e principalmente, externo. 

Em junho de 2015 os embarques de carne bovina foram retomados para a China. China e Hong Kong, importaram, até janeiro de 2016, US$ 906 milhões de dólares, o que correspondeu a 28% do total exportado. O Egito é o segundo maior importador, seguido de Venezuela e Rússia, mas a China é o foco principal, já que em apenas 8 meses conseguiu galgar ao primeiro posto.

A conclusão é que a pecuária séria constitui um insumo da maior importância na nossa balança de pagamentos, e não merece ser tradada da forma leviana como bem sendo. Vamos comer nosso churrasco sem culpa. Talvez venhamos a ser a última geração que pode fazer um churrasco de lage. 


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