Pular para o conteúdo principal

A Questão dos Agrotóxicos

Qual a capacidade da Terra de sustentar a sua população? Acredita-se que ela é capaz de sustentar uma carga de no máximo 9 a 10 bilhões de pessoas. Essa é a estimativa de Edward Wilson, um sociobiologista especializado no cálculo dos recursos disponíveis do nosso planeta.

Segundo ele, se todo mundo concordasse em se tornar vegetariano, os 1,4 bilhões de hectares de terras aráveis disponíveis suportariam cerca de 10 bilhões de pessoas. Poderiam ser produzidos 2 bilhões de toneladas de grãos anualmente, quantidade suficiente para alimentar 10 bilhões de vegetarianos, mas capaz de alimentar apenas 2,5 bilhões de onívoros americanos (onívoros são aqueles que se alimentam de animais e vegetais). Ou seja, se todos comessem como os gringos teríamos hoje disponibilidade para alimentar apenas 35% da população mundial atual.

Como vai ser difícil convencer todos a parar de comer carne, podemos dizer que estamos em torno da capacidade máxima que a Terra tem de nos sustentar. No entanto é bom que o consumo de carne diminua, o que vai nos aproximar dos 10 bilhões. Porém existe outra discussão que é conduzida muito mais pela ideologia torta que pela razão: a dos agrotóxicos, pra não falar na dos transgênicos.

O Estadão de 19/07 trouxe um artigo sobre o assunto: "Agrotóxicos são necessários ou não?", de autoria de José Merten, Ciro Rosolem e Luiz Carvalho, todos do Conselho Científico para Agricultura Sustentável (CCAS), com um volume de informações que me levaram a abordar esse tema, na esperança de convencer alguns amigos recalcitrantes a respeito do uso dos agrotóxicos.

Segundo os autores, a agricultura brasileira tem sido fortemente questionada com relação ao uso dos agrotóxicos, de forma agressiva e com a ajuda da Internet, quase sempre sem prevalecer a verdade. O Brasil é agente importante nessa cruzada pela geração de alimentos. Ele é líder mundial na produção de soja, milho, cana, algodão, laranja. Isso foi conseguido com o aumento da produtividade, em grau muito maior que o crescimento da área cultivada, o que nos levou à situação de ainda termos 65% do nosso território coberto por matas nativas. Nos últimos 35 anos a nossa produção de grãos cresceu 195%, com o crescimento da área cultivada de apenas 28%.

Temos que levar em conta que o Brasil é um país tropical, onde praticamente não temos inverno. Com isso não temos a neve, que é um instrumento de controle das pragas. Temos então que recorrer à tecnologia para nos ajudar no combate aos insetos, doenças, plantas daninhas, etc., para reduzir os danos e manter alta a produtividade, a qualidade, e tornar os custos competitivos. As ferramentas são muitas: a genética torna as plantas mais resistentes, a biologia combate os inimigos naturais, a rotação das culturas ajuda na preservação do solo, e a química produz os defensivos agrícolas.

Se os produtos químicos deixassem de ser utilizados no Brasil, digamos por decreto, a nossa produção agrícola sofreria uma redução de 50%, o que tornaria necessário dobrar a área cultivada com a utilização de terras hoje cobertas por florestas e consequente aumento dos preços dos alimentos.

Não é verdade que o uso dos defensivos agrícolas está sendo usado sem controle. A conscientização do produtor agrícola tem evoluído a ponto de entre 2004 e 2011, o uso de agrotóxicos ter sofrido uma redução de 3% (contra um crescimento de 120% na China e 47% na Argentina). Para um novo produto ser lançado no mercado são necessários 12 anos de estudos e investimentos da ordem de U$ 250 milhões, o que os torna extremamente seguros. Após isso eles têm que ser registrados no órgãos reguladores brasileiros. Isso fez com que, nos últimos 40 anos, as doses de agrotóxicos fossem reduzidas em quase 90% e a sua toxicidade em mais de 160 vezes.

Os manipuladores desses produtos são treinados quanto à dose a ser usada e o tempo entre a aplicação e a colheita. Para isso contribuiu o fato de, como país exportador desses bens, o Brasil ter que entregar produtos limpos aos seus importadores. Em torno de 94% de todas as embalagens vazias são recolhidas e devolvidas aos fabricantes e distribuidores, numa ação articulada com os agricultores.

É claro que o assunto é sensível, e disso se aproveitam os especialistas da Internet, com opiniões infundadas, com base em pesquisas que não existiram. Há insinuações quanto à maior incidência de câncer, malformação congênita, resíduos no leite materno, num tratamento irresponsável de um assunto tão importante. Como tudo na vida, existe o tratamento macro do assunto, o qual deve se sobrepor ao tratamento micro. Retirar o agrotóxico da agricultura mundial implicaria em ter que reduzir pela metade a população da Terra, já que muito poucos países seriam capazes de dobrar a sua área arável. Manter ao agrotóxico como um auxiliar importante da produtividade agrícola é a única garantia do fornecimento de alimentos à raça humana. Cabe às autoridades reguladoras a garantia do bom uso desse insumo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A Europa Islâmica

É irreversível. A Europa, o berço da Civilização Ocidental, como a conhecemos, está com seus dias contados. Os netos dos nossos netos irão viver em um mundo, se ele ainda existir, no qual toda a Europa será dominada pelo Islamismo. Toda essa mudança se dará em função da diminuição da população nativa. Haverá revoltas localizadas, mas o agente maior dessa mudança responde por um nome que os sociólogos têm usado para alertar para esse desfecho: a Demografia. Vamos iniciar este Post com um exercício simples. Suponhamos uma comunidade de 10.000 pessoas, 5.000 homens e 5.000 mulheres, vivendo de forma isolada. Desse total metade (2.500 homens e 2.500 mulheres) já cumpriu sua função procriadora, e a outra metade a está cumprindo ou vai cumprir. Aqui vamos definir dois grupos, o velho não procriador e o novo procriador. Se os 2.500 casais procriadores atingirem uma meta de cada um ter e criar 2 filhos, teremos como resultado que, quando esta geração envelhecer (se tornar não procriadora), a c

Sobre os Políticos

Há tempos estou à procura de uma fonte que me desse conteúdo a respeito desse personagem tão importante para as nossas vidas, mas que tudo indica estar cada vez mais distanciado de nós. Finalmente encontrei um local que me forneceu as opiniões que abasteceram a minha limitada profundidade no assunto: Uma entrevista no site Persuation, de Yascha Mounk, com o escritor, diplomata e político Rory Stewart.  Ex-secretário de Estado para o Desenvolvimento Internacional no Reino Unido, Rory Stewart é hoje presidente de uma instituição de caridade global de alívio à pobreza, a GiveDirectly (DêDiretamente em tradução Livre) e autor do recente livro How not to be a Politician, a Memoir (algo como "Como não ser um Político, um livro de Memórias"). A entrevista é longa e eu me impressionei com ela a ponto de me atrever a fazer um resumo. Pelo que entendi, com o livro Stewart faz uma descrição de suas experiências na política do Reino Unido. Ele inicia a entrevista falando da brutalidade

Civilidade e Grosseria

  Vamos iniciar este Post tentando ensaiar teatrinhos em dois países diferentes: País A O sonho do jovem G era ser membro da Força Aérea de A, mas na sua cabeça havia um impedimento: ele era Gay. Mesmo assim ele tomou a decisão de apostar na realização do seu sonho. O País A  não pratica a conscrição, ou seja, ninguém é convocado para prestar serviço militar. Ele está disponível para homens entre 17 e 45 anos de idade. G tinha 22 e entendeu que o curso superior que estava fazendo seria de utilidade na carreira militar. Detalhe: há décadas o País A tinha tomado a decisão de colocar todos os ramos militares em um único quartel, com a finalidade de aumentar o grau de integração e a logística. Isso significa a Força Aérea de A está plenamente integrada nas Forças de Defesa de A. Tudo pronto, entrevista marcada, o jovem G comparece à unidade de alistamento e é recebido com a mesma delicadeza que aquele empresário teria ao se interessar por um jovem promissor de 22 anos. Tudo acertado, surgi