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A Próxima América (Os Próximos Estados Unidos)

Semana passada eu comentei um Post de 2012 que fez grande sucesso neste Blog: A Pirâmide Etária. Hoje nós vamos falar de outra Pirâmide Etária que pela sua importância política, está levando os Estados Unidos a uma espécie de cisão social.

No dia 10 de abril passado o Pew Research Center, respeitado instituto americano de pesquisa social, publicou o artigo "The Next America", que é um resumo do livro de Paul Taylor, um pesquisador do instituto. De acordo com o autor os Estados Unidos estão no meio de dois dramas que se processam em câmera lenta: a sua população está se tornado de maioria não branca, ao mesmo tempo em que os idosos estão aumentando a sua participação. O fato de estas duas mudanças estarem ocorrendo simultaneamente vai acarretar em uma enorme pressão na política, nas famílias e nos programas sociais.

Em 2060 a pirâmide etária americana vai se transformar praticamente em um retângulo. Haverá tantos americanos acima de 85 anos quanto abaixo de 5, e isso é o resultado da combinação de uma maior longevidade e uma taxa de natalidade menor. Trata-se de um território até agora desconhecido não apenas para os americanos, como também para toda a humanidade. Embora se trate de uma boa notícia para que se garanta a sustentabilidade do nosso planeta, ela irá com certeza criar no curto prazo um enorme estresse político e econômico, quando contingentes cada vez menores de adultos em idade produtiva terão que sustentar contingentes cada vez maiores de adultos idosos.

Ao mesmo tempo em que a população vai ficando grisalha, ela vai de tornando multi-colorida. Em 1960 a população americana era composta de 85% de brancos; em 2060 teremos apenas 43%. O que era um país braco e preto se transformou em uma espécie de arco iris. Essa verdadeira tapeçaria racial está sendo tecida pelos mais de 40 milhões de imigrantes que chegaram ao país a partir de 1965, metade composta de hispânicos e 30% de asiáticos. Como essa transformação se deu de forma silenciosa, sem que ninguém se preocupasse seriamente com ela, o país chegou presentemente a uma encruzilhada.

Essa mudança esteve presente recentemente durante a final do futebol americano e nas olimpíadas de inverno, quando anunciantes lançaram propagandas de cunho político. Não é de sua índole anunciantes fazerem declarações políticas, porque não lhes interessa fazer inimigos. Algumas imagens mostradas, de famílias inter-raciais, de pais do mesmo sexo, faladas em várias línguas, com certeza devem ter perturbado alguns de seus clientes, mas eles fazem pesquisas de mercado e veem seus números, e percebem quão rapidamente o país está mudando.

Os imigrantes modernos são diferentes das grandes ondas de recém chegados que vieram no final do século XIX, e início do século XX. Naquela época cerca de 90% dos imigrantes eram europeus, e hoje apenas 12% são europeus. Mas algumas coisas não mudam: não importa de onde vêm, os imigrantes são batalhadores, são otimistas, e tendem a ter um monte de filhos. Com isso a parcela de imigrantes vivos e seus filhos no meado do século vai ser de 37% da população.

Surge então uma questão interessante: em 2050 as categorias raciais ainda farão algum sentido? Mesmo hoje os velhos rótulos estão tendo problemas com os novos casamentos. Meio século atrás o casamento inter racial era proibido em um terço dos estados americanos, e um tabu em qualquer lugar dos Estados Unidos. Hoje em dia um em cada seis casamentos de dão de forma inter racial.

Mais de um quarto dos recém casados hispânicos e asiáticos casam fora de sua comunidade, assim como um em cada seis negros e um em cada dez brancos. Como os brancos ainda são maioria, na verdade 70% de todos os casamentos inter raciais têm um branco envolvido. Por volta de 2050, como vão se chamar os filhos dos casamentos inter raciais? Hoje existem dúvidas de como chamar o presidente Obama. Em muitas culturas chamar uma pessoa de mestiça é o mesmo que chamá-la de vira-lata, ou pária. Nos Estados Unidos de hoje, a julgar pelas celebridades da moda e os anúncios do Super Bowl, as normas estão mudando e os estigmas retrocedendo.

As gerações tendem a ter uma duração de cerca de 20 anos, e são moldadas pela experiência histórica de eventos que as pessoas vivenciam nessa fase do seu ciclo de vida. O resultado disso é que elas compartilham o que poderíamos chamar de uma personalidade geracional. a qual também é influenciada (muitas vezes de forma negativa) pela personalidade da geração anterior. Embora obviamente existam diferentes tipos de personalidade ao longo das gerações, é interessante compreender o que define uma geração. As pesquisas permitem que se façam comparações entre os jovens de hoje e os jovens de ontem.

O trabalho do Pew Research Center dividiu a sociedade americana em 4 gerações: a Geração Silenciosa, os Baby Boomers, a Geração X, e a geração Y ou Milênio. O relatório faz uma breve descrição das características dessas 4 gerações.

GERAÇÃO SILENCIOSA
Nascimento: Antes de 1945
Idade em 2014: Mais de 68 anos
Características: Cerca de 80% são brancos, resistentes a mudanças sociais, demográficas e tecnológicas, é a geração mais segura financeiramente.
Como votam: 56% Romney, 44% Obama
A favor da maconha: 30%
A favor do casamento gay: 38%
Ligados a alguma religião: 90%
Utilizam redes sociais: 46%

BABY BOOMERS
Nascimento: 1946 - 1964
Idade em 2014: Entre 50 e 68 anos
Características: Nascidos no "boom" de bebês após o fim da segunda guerra e antes do advento da pílula; protagonizaram o movimento da contracultura dos anos 60, mas se tornaram mais conservadores com a idade.
Como votam: 51% Romney, 47% Obama
A favor da maconha: 52%
A favor do casamento gay: 48%
Ligados a alguma religião: 83%
Utilizam redes sociais: 65%

GERAÇÃO X
Nascimento: 1965 - 1980
Idade em 2014: Entre 34 e 49 anos
Características: Crianças e jovens durante o período Reagan e a "revolução do divórcio", confiam menos nas instituições, são conservadores em termos econômicos, mas liberais em temas sociais.
Como votam: 45% Romney, 52% Obama
A favor da maconha: 53%
A favor do casamento gay: 55%
Ligados a alguma religião: 78%
Utilizam redes sociais: 78%

GERAÇÃO Y OU MILÊNIO
Nascimento: Após 1980
Idade em 2014: Até 33 anos
Características: "Nativos Digitais", com mais acesso á educação que as outras gerações, mas com dificuldades financeiras; politicamente se identificam como independentes; são menos religiosos e demoram para ter filhos.
Como votam: 37% Romney, 60% Obama
A favor da maconha: 69%
A favor do casamento gay: 68%
Ligados a alguma religião: 30%
Utilizam redes sociais: 90%

Em tempos em que jovens e idosos não são parecidos, não pensam nem votam da mesma forma, como irão os Estados Unidos modernizar seus programas de benefícios para que entrem em sintonia com os novos dados demográficos? Como manter o idoso confortável sem levar o jovem à bancarrota? Não vai ser fácil.

Começemos com esta realidade: a Segurança Social e o Medicare são intocáveis. Quase nove em cada dez americanos dizem que esses programas são bons para o país. Esse é um número impressionante. Mas a popularidade destes programas realmente não é tão surpreendente. As pessoas gostam deles, porque eles fazem o que foram criados para fazer. Eles aliviam muitos dos temores da velhice - uma bênção não só para idosos, mas para todos que amam, apoiam e dependem dos idosos. O que quer dizer, para todo mundo.

Mas o status quo é insustentável. Cerca de 10.000 baby boomers irão para a Segurança Social e Medicare a cada dia entre hoje e 2030. No momento em que todos nesta geração estiver usufruindo benefícios, teremos apenas dois trabalhadores por beneficiário (variação de três-para-um, agora, cinco-para-um em 1960 e mais de quarenta-para-um em 1945, pouco depois de a Segurança Social começou a apoiar beneficiários).

A matemática do século 20 simplesmente não vai funcionar no século 21. Os jovens de hoje estão pagando impostos para sustentar um nível de benefícios para hoje que não têm nenhuma chance real de persistir quando eles ficarem velhos. E eles sabem disso - apenas 6% dos "Millennials" dizem que esperam receber benefícios da Previdência Social quando se aposentarem. Metade acredita que não vai ter nada.

Enquanto isso o custo dos programas para idosos em breve vai ultrapassar 50% do orçamento federal. Essa despesa vai diminuir o orçamento para a educação, para a pesquisa e a infraestrutura - investimentos que ajudam a construir um futuro melhor para a Geração Y e seus filhos. Na sua essência este é um problema de desigualdade entre gerações, mas não vai ser preciso que se chegue a uma guerra entre elas. Há poucas evidências de que existam movimentos nesse sentido. Ao contrário, eles gostam muito um do outro, e hoje em dia mais de 50 milhões de americanos dessas duas gerações vivem juntos, como forma de fazer face aos tempos difíceis que estão vivendo.

Se os americanos conseguirem trazer essa discussão política a mesma harmonia existente entre essas duas gerações, a solução para essas questões vão se tornar mais factíveis e as opções políticas mais fáceis de serem alcançadas. Se...

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